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18 de abril de 2024 | 2:10
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A mensuração do envelhecimento (10)

O declínio cognitivo, normal e não patológico, quando associado ao envelhe­cimento, é experiência cuja extensão difere entre indivíduos e seu impacto o torna um problema imediato para a ciência, ainda que ignorado por muitos cientistas. Com o aumento da população idosa em vários países, tal declínio tem sido motivo de preocupação tanto do ponto de vista econômico, quanto pessoal e sociológico, ocasionando que um dos grandes objetivos das políticas públicas em saúde seja identificar os fatores demográficos, biológicos e psicossociais que possam ajudar as pessoas a manterem e enriquecerem sua saúde cognitiva e emocional quando se tornam mais velhas. Por causa disso, nos últimos anos, pesquisas têm se voltado para entender mecanismos do envelhecimento cognitivo, bem como, fatores que contribuem para suas diferenças individuais.

Em funções mentais, como habilidade verbal, numérica e conhecimento geral, por exemplo, há pouco declínio com o envelhecimento, mas, em outras, como a mnemônica, as funções executivas, a velocidade de processamento e o raciocínio, um declínio substancial ocorre da meia idade em diante, ou mesmo mais pre­cocemente. Sendo estas habilidades, denominadas “fluídas”, muito importantes para a realização de inúmeras atividades cotidianas, bem como, para manter uma vida independente e completa, ao entrarem em declínio agravam as perdas de outras funções que, normalmente, tendem a acompanhá-las. Ademais, a lentidão na velocidade de processamento de informação também parece explicar grande proporção do declínio associado com a idade, em todos os domínios cognitivos afetados, e esta, em alguns casos, começa por volta dos 30 anos.

Variáveis relacionadas à condição médica, genética, vascular, fisiológica, neurológica, dietética, educacional e estilos de vida também contribuem para o envelhecimento cognitivo não patológico. Reveladores, todavia, são alguns estudos recentes, que indicam que as diferenças individuais, na habilidade cog­nitiva de idosos, refletem dois aspectos: diferenças na habilidade cognitiva prévia e diferenças no grau em que uma mudança começa, tipicamente, a ocasionar deteriorações. Neste contexto, pesquisas correlacionais e experimentais, revelam, surpreendentemente, que habilidade mental, mensurada na infância, largamente prediz declínio das funções cognitivas na velhice. Em outras palavras, a inteli­gência mensurada na infância contribui com 50% da variância, ou mais, para a habilidade cognitiva na velhice, por volta dos 80 anos, em pessoas sem demência.

Entender cientificamente o envelhecimento é similar à busca de uma receita bem sucedida que, uma vez seguida, permite um envelhecimento cognitivo nor­mal e saudável. Ainda que um desafio, este está, certamente, em nosso alcance.

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