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19 de abril de 2024 | 7:21
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A mensuração do envelhecimento

Com o envelhecimento, quais fatores contribuem para as diferenças individuais na ha­bilidade cognitiva? Se consideramos um grupo de pessoas que têm QIs idênticos na idade de 11 anos, quais são os fatores, além da probabilidade, que ocasionam a alguns indivíduos fazerem melhor ou pior na vida adulta do que seus pares com os mesmos QIs na infância? Para estudar “como” e “por que” pessoas envelhecem cognitivamente, isto é, “como” e “por que” inteligência muda ao longo do tempo, necessitamos analisar dados sobre habilidades cognitivas tanto no início da vida quanto em seu fim.

Para explicar tal necessidade mais claramente, pense sobre a altura das pessoas. Uma pessoa entra no consultório de um médico e diz ao mesmo que está preocu­pado com sua perda de estatura. O médico, imediatamente, mede a altura da pes­soa. O passo seguinte do médico é perguntar àpessoa qual sua altura anterior, bem como, se há uma diferença mensurável para menos na altura corrente, então a pessoa está encur­tando. A causa da cognição é similar: se as capacidades mentais de alguém estão declinando mais rápido do que seria esperado para a idade daquela pessoa, então há algum problema. Naturalmente, cognição muito baixa é sempre um problema porque ela torna as pessoas mais dependentes dos outros para a tomada de decisão e cuidados pessoais. Todavia, ao estudar o en­velhecimento cognitivo, é a quantidade de mudança, a partir de um nível prévio de cognição, o que, de fato, importa.

Diferente do estudo da epidemiologia, estudar envelhecimento cognitivo requer mais do que, meramente, emparelhar nomes, datas de nascimento, e outras informações, oriundas de várias fontes, para, então, agregar os números apropriadamente objetivando verificar quais associações existem. Avaliar envelhecimento cognitivo dos indivíduos é olhar para associações entre envelhe­cimento cognitivo e outros fatores, tanto biológicos quanto socioambientais. Por exemplo: administra-se uma bateria de testes para avaliar envelhecimento cogniti­vo e, em seguida, correlacionam-se tais escores com uma variedade de fatores que podem estar associados com envelhecimento cognitivo: genes, estrutura cerebral, fumar, nutrição e assim por diante.

Assim considerando, uma das associações mais interessantes, recentemente analisada, foi a estabilidade da inteligência da infância àidade adulta. A suposi­ção foi que, para estudar a função mental na maturidade, era importante ajustar a inteligência para a habilidade prévia, isto é, para a verdadeira habilidade anterior antes que qualquer efeito de envelhecimento tivesse ocorrido. Em verdade, fez-se a seguinte questão: “Qual foi a mudança relativa, para cima ou para baixo, ou ne­nhuma, ocorrida para aquela pessoa em particular?”. Portanto, a primeira tarefa foi examinar a estabilidade das diferenças individuais na habilidade mental ao longo da vida. Isto foi feito.

Pesquisadores ingleses, inesperadamente, descobriram que, entre as décadas de 1930-40, um teste de inteligência foi aplicado para todas as crianças escocesas quan­do tinham elas 11 anos de idade. Em seguida, tomaram esses dados, identificaram as pessoas ainda vivas que tinham participado dessa avaliação e as convidaram para serem retestadas, usando o mesmo teste de inteligência, exatamente 66 anos depois, portanto, na idade de 77 anos. Interessante observar que, antes do reteste, elas foram questionadas se, como um grupo, relembravam de terem se submetido ao teste origi­nal, ao que apenas algumas mãos ergueram-se.

Para o que nos interessa, a correlação entre os escores de inteligência nas idades de 11 e 77 anos foi 0.63, a qual, corrigida para a restrição da população da amostra em relação àpopulação total, eleva o valor para 0.73. Qualquer que seja o ponto de observação, este resultado mostra uma considerável estabilidade das diferenças indi­viduais na habilidade cognitiva ao longo de quase toda a amplitude da vida humana. Ademais, os resultados sustentam o impacto da inteligência obtida na infância sobre inúmeros indicadores econômicos, sociais, educacionais e de saúde que, naturalmen­te, ocorreram ao longo do intervalo de 66 anos até a maturidade. Se, hipoteticamen­te, dividirmos a vida em quatro estações, constata-se que a inteligência, aferida em nossa primavera, determina, praticamente, todos os nossos eventos de vida, ocorri­dos no verão e no outono até ao que somos no inverno da nossa vida.

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