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20 de abril de 2024 | 10:16
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Existe água no interior da Lua?

Um novo estu­do realizado com dados de satélites mostra que vários depósitos vulcânicos distribuídos pela su­perfície da Lua con­têm grandes quantida­des de água acumulada, em comparação com os terrenos adjacentes. A des­coberta de água nesses anti­gos depósitos apoia a ideia de que o manto lunar é surpre­endentemente rico em água, de acordo com os autores da pesquisa publicada na revista científica Nature Geoscience.

Por vários anos, os cientis­tas imaginavam que o interior da Lua havia sido esvaziado de água e de outros compos­tos voláteis, mas esse pressu­posto começou a ser mudado em 2008, quando um grupo de pesquisadores detectou pe­quenas quantidades de água em alguns fragmentos de vidro vulcânico que haviam trazido da Lua pelas missões Apollo 15 e 17.

Em 2011, outros estudos de pequenas formações cris­talinas nesses fragmentos de vidro vulcânico revelaram que eles contêm quantidades de água semelhantes às que exis­tem em alguns basal­tos da Terra. Essa descober­ta sugeria que o manto da Lua, ou pelo menos partes dele, pode conter tanta água quanto a Terra.

“A questão central é se aquelas amostras da missão Apollo representavam as con­dições normais do interior lu­nar, ou se representavam regi­ões com quantidade anômala de água em um manto seco”, disse Ralph Milliken, autor principal do novo estudo e professor da Universidade Brown (Estados Unidos).

“Analisando os dados or­bitais, podemos examinar grandes depósitos piroclás­ticos (formados por detritos vulcânicos) na Lua dos quais nun­ca ex­traímos uma amos­tra. O fato de que quase todos eles exibem assinaturas de água sugere que as amostras da Apollo não são anômalas. Com isso, pode ser que a presença de água seja uma condição normal do inte­rior da Lua”, afirma Milliken.

Detectar a quantidade de água nos depósitos vulcânicos da Lua utilizando instrumen­tos orbitais não é uma tarefa simples. Os cientistas utilizam espectrômetros orbitais para medir a luz que é refletida nas superfícies planetárias. Obser­vando quais comprimentos de onda de luz são absorvidos ou refletidos pela superfície, os cientistas podem ter uma ideia de quais minerais fazem parte de sua composição.

O problema é que a super­fície lunar se aquece ao lon­go do dia, especialmente nas latitudes onde os depósitos piroclásticos estão localiza­dos. Isso significa que, além da luz refletida pela superfí­cie, o espectrômetro também acaba medindo o calor.

“Essa emissão de radia­ção térmica ocorre nos mes­mos comprimentos de onda que precisamos usar para procurar água. Assim, para dizer com algum grau de confiança se a água está pre­sente, primeiro precisamos detectar e remover o compo­nente térmico das emissões”, explica Milliken.

Para fazer isso, os cientis­tas utilizaram medições feitas em laboratório das amostras obtidas nas missões Apollo, em combinação com um per­fil detalhado das temperaturas das áreas de interesse da su­perfície lunar. A partir dessa correção térmica, os pesqui­sadores buscaram dados no Mapeador de Mineralogia da Lua, um espectrômetro insta­lado na nave Chandrayaan-1, que está na órbita lunar.

Os cientistas encontraram evidências de água em quase todos os depósitos piroclás­ticos que haviam sido ma­peados na superfície da Lua, incluindo os que se situam perto dos locais de pouso das missões Apollo 15 e 17, onde foram coletadas as amostras de vidro vulcânico que conti­nham água.

A distribuição desses depósitos ricos em água é a chave. Eles estão espalhados em toda a superfície e isso nos revela que a água encon­trada nas amostras da Apollo não é um caso isolado. Os depósitos piroclásticos da Lua parecem ser universal­mente ricos em água, suge­rindo que o mesmo pode ocorrer no manto lunar.

A ideia de que o interior da Lua é rico em água levan­ta interessantes questões so­bre a formação do satélite, de acordo com os cientistas. Eles afirmam que a Lua se formou a partir de detritos expelidos depois que um objeto do ta­manho de Marte se chocou contra a Terra no início da formação do Sistema Solar.

Uma das razões que leva­ram os cientistas a pressupor que o interior da Lua poderia ser seco é que parecia impro­vável que o hidrogênio ne­cessário para formar a água pudesse ter sobrevivido ao calor intenso de um impacto tão violento.

“As crescentes evidências de água no interior da Lua sugerem que de alguma forma a água so­breviveu, ou que ela foi levada para lá logo após o impacto de asteroides e cometas, antes que a Lua estivesse completamente solidificada. A origem exata da água no interior da Lua ainda é uma grande questão em aber­to”, diz Milliken.

Além de ajudar a entender a história da água no Sistema Solar, o novo estudo poderia ter implicações para a futura exploração lunar, de acordo com os autores. As amostras vulcânicas não contêm muita água – o equivalente a apenas 0,5% de seu peso –, mas os de­pósitos são gigantes e a água poderia ser extraída.

“Outros estudos já suge­riam a presença de água con­gelada em regiões escuras dos polos lunares, mas os depósi­tos piroclásticos são locais que podem ter acesso mais fácil. Qualquer coisa que ajude a evitar que os exploradores lunares tenham que levar muita água de casa já seria um grande passo à frente – e nossos resultados sugerem essa nova alternativa”.

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