18 de abril de 2024 | 23:14
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Cultura

Grafiteiro finaliza mural na cidade

Áureo Melo, mais conheci­do como “Lobão”, artista con­sagrado pela excelência de seus gigantescos murais realistas e a sensibilidade de suas mensagens, muitas vezes subliminares, con­cluiu na noite desta quarta-feira, 23 de maio, a arte em grafite em um muro na Maurílio Biagi, uma das principais avenidas de Ribeirão Preto, sua terra natal.

O tema “Respeito as dife­renças” o instigou a reproduzir imagens que traduzem o povo brasileiro: o índio, o negro, o transexual, o branco, entre ou­tros. Marielle franco (PSOL), a vereadora que foi assassinada há dois meses no Rio de Janeiro, onde o grafiteiro reside, é o rosto central, mas lá também estão figuras co­nhecidas dos ribeirão-pretanos, como o tatuador Kelsen (inter­preta o diabo na Caminhada do Calvário), Eliezer (o MC Leser do Coletivo Pontão Sibiruna, trabalha com inclusão social) e Liniker (cantor transgênero).

“Lobão” conversou com o Tribuna no final da tarde de on­tem, quando ainda trabalhava no mural. “Sou ribeirão-pretano, não estarei aqui no aniversário da cidade (19 de junho), mas deixo este presente para a minha cidade natal. Há dez anos moro no Rio de Janeiro. Já passei por Rio das Ostras, Cabo Frio e hoje moro na capital. Este trabalho aqui em Ribeirão Preto é volun­tário, conseguimos apoio ape­nas para as tintas”, diz o artista.

Ele não descarta deixar sua marca em outros pontos da ci­dade. “Se surgir outra oportu­nidade eu aceito, mesmo que seja um trabalho voluntário. Mas no momento está difícil, tenho compromissos agenda­dos para o mês todo”, explica. “Lobão” terminaria o mural na noite de ontem, deixaria sua assinatura e embarcaria na manhã desta quinta-feira (24) para o Rio de Janeiro.

A arte de “Lobão”, o grafite, vem ganhando espaço em todo o mundo, tomando o lugar das pichações. Amor, história, po­esia, música, política, esporte, crítica social são alguns dos ele­mentos evidentes no trabalho do consagrado artista. “Sempre procuro passar uma mensagem, sem que necessariamente pre­cise escrever. O barato está em observar que a pessoa olha para a minha arte e capta um apren­dizado”, declara.

A abordagem sensível com a qual conduz seus trabalhos é uma marca bastante pessoal. Suas obras chamam a atenção também pela linguagem visual moderna e pela riqueza de de­talhes. Em Cabo Frio, grafitou um Charles Chaplin de oito metros rememora o famoso clássico “Tempos Modernos”. Em Rio das Sotras, homena­geou Dorival Caymmi.

Autodidata, “Lobão” ob­servou o gosto pela pintura ainda criança, nas aulas de ar­tes. Conta que a tinta guache o encantava e com ela já iniciava seus primeiros desenhos. Mas a paixão pelo grafite fez com que quisesse mais do que um pin­cel e um caderno de desenhos. Foi então que, aos 13 anos, rolo e até compressor com pistola de alta pressão passaram a ser suas ferramentas, e o guache foi substituído pelo spray, pela tinta acrílica, de látex e de piso para iniciar sua arte na rua.

Começou pintando muros em Ribeirão Preto. Mas o inte­rior era pequeno para o jovem grafiteiro que queria ganhar o Brasil. Foi então que começou sua trajetória pela capital mais próxima, São Paulo. Depois se­guiu fazendo arte urbana em diversos Estados como Paraná, Goiás, Brasília, Minas Gerais e, atualmente, Rio de Janeiro. E é nesta cidade maravilhosa, cheia de encantos mil, que vem encan­tando e chamando a atenção por sua versatilidade, dinamismo, seu cuidado com cada detalhe, seja ao estudar a combinação en­tre as cores, seja no acabamento do cílio de um retratado, ou me­lhor, grafitado, por exemplo.

Hoje, com 34 anos, o artista revela uma sofisticação técnica com elementos característicos que diferenciam seus grafites de outros tradicionais. Ele atribui seu aprimoramento artístico à paixão e à ousadia de aprender e ensinar. Nessas duas décadas de atuação vem compartilhan­do seu saber autodidata em oficinas de desenho e pintura para grupos de empresas, es­colas e comunidades.

“LOBÃO” e a imagem do tatuador Kelsen e ao lado de Marielle Franco (PSOL),
vereadora assassinada há cerca de dois meses no Rio de Janeiro

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