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19 de abril de 2024 | 4:15
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HC realiza cirurgia de separação das Siamesas

A quinta e derradeira cirurgia para separação das irmãs siamesas Maria Ysabelle e Maria Ysadora, de 2 anos, que nasceram unidas pela cabeça, está sendo realizada neste sábado, 27 de outubro, Desde às sete horas da manhã no Hospital das Clíni­cas de Ribeirão Preto – vinculado à Faculdade de Medicina da Uni­versidade de São Paulo (USP).

REPRODUÇÃO/ ARQUIVO DA FAMÍLIA

A operação envolve 30 pro­fissionais. Até uma emissora de televisão da Inglaterra vai acom­panhar o procedimento, inédito no Brasil. A expectativa é que esta seja a intervenção mais demorada, e deve levar entre dez e 20 horas, segundo o neurocirgurgião Ricar­do Santos Oliveira.

O procedimento é tão minu­cioso que a equipe envolvida na separação das gêmeas já fez até “simulados”. “Reproduzimos o ambiente da cirurgia, a disposição do material, as funções delegadas a cada participante, quais serão os passos seguinte à separação. Estamos confiantes. O primeiro procedimento será revisar tudo o que foi feito nas quatro etapas an­teriores”, diz Oliveira.

Segundo Oliveira, esta úl­tima operação tem quatro eta­pas. “Primeiro, vamos revisar e complementar o que já foi feito na parte interna, checar se não há mais nenhuma veia, nenhum vaso unindo as meninas. Depois vamos trabalhar na reconstru­ção da membrana cerebral (dura máter), da estrutura óssea e do couro cabeludo”, explica.

No pós-operatório, as meni­nas permanecerão mais tempo na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica do que após as cirurgias anteriores – a primeira foi realizada em 17 de fevereiro e durou sete horas. A mais recente, a quarta, ocorreu em 24 de agosto e levou cinco horas. A próxima vai começar logo no início da manhã e só deve terminar entre a noite de hoje e a madrugada deste domin­go (28). As gêmeas vão ficar mais tempo sob o efeito de anestésicos.

A terceira etapa, realizada em 4 de agosto, durou oito horas. O neurocirurgião Hélio Rubens Ma­chado afirmou que 80% dos cére­bros, veias e artérias das irmãs sia­mesas já foram separados. “Isto só foi possível porque avançamos nas etapas anteriores, além do planeja­do dentro do limite de segurança”, explica Ricardo Santos Oliveira. Todos dizem que a “evolução das meninas é surpreendente”.

O neurocirurgião Hélio Rubens Machado afirmou que 80% dos cérebros, veias e artérias das irmãs siamesas já foram separados (FOTO: ALFREDO RISK)

O chefe da Divisão de Cirur­gia Plástica do HC, Jayme Farina Junior, disse, após a quarta cirur­gia, que os médicos implantaram quatro expansores subcutâneos para dar elasticidade à pele e ga­rantir que, na separação total de corpos (a próxima fase), haja te­cido suficiente para cobrir os crâ­nios. Os expansores são espécie de bolsinhas de silicone e foram implantados nas têmporas, nuca e na testa das meninas.

Após 15 dias, a equipe come­çou a enchê-las com soro fisio­lógico com o objetivo de fazer a pele esticar. Não chega a dobrar de tamanho, mas ganha em torno de 30% da área que tem agora. “En­tão, a gente consegue cobrir uma área maior, depois da última cirur­gia. As válvulas ficam embaixo da pele, em quatro lugares diferentes. Cada expansor tem uma válvula”, afirma. A cirurgia contou com uma equipe de profissionais lide­rados pelo Farina Junior.

As irmãs siamesas serão de­finitivamente separadas um mês antes da previsão inicial (final de novembro). As meninas têm cére­bros independentes, mas com áre­as de vascularização interligadas. São esses vasos sanguíneos que foram separados em cada das ci­rurgias realizadas até agora. Trinta profissionais de diferentes áreas estão envolvidos neste processo, entre eles o médico norte-ameri­cano James Goodrich, referência mundial no assunto. Até o molde de silicone foi produzido para aju­dar os médicos nas cirurgias.

Todo o processo de separação das irmãs só está sendo possível por causa de uma parceria entre a Faculdade de Medicina da USP e o Montefiore Medical Center de Nova York, Estados Unidos. A primeira cirurgia foi realizada em 17 de fevereiro e a segunda, em 19 de maio. Segundo os médicos, as meninas se alimentam, respiram, se comunicam e têm desenvolvi­mento normal, como qualquer criança da idade delas.

Trajetória de luta

Naturais do distrito cearense de Patacas, distante 35 quilôme­tros de Fortaleza, as irmãs siame­sas Maria Ysabelle e Maria Ysa­dora, estão sendo acompanhadas por uma equipe multidisciplinar do Hospital das Clínicas. Entre­tanto, a luta dos pais das meninas para separá-las começou no Ce­ará, com o neurocirurgião pedi­átrico Eduardo Juca. Ao tomar conhecimento do caso das irmãs, alguns meses após o nascimento delas, ele passou a fazer o acompa­nhamento médico das meninas.

Em função da complexidade do caso, decidiu encaminhar as duas para o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, onde ele estu­dou. Jucá foi aluno da Faculdade de Medicina da USP Ribeirão Preto e se especializou neurociru­gia pediátrica. Todo processo de separação das meninas é custeado pelo Sistema Unificado de Saúde (SUS). Nos Estados Unidos, um processo de separação como o delas custa cerca de R$ 9 milhões.

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