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20 de abril de 2024 | 3:07
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‘Lobo’, o cachorro do Vigilante Rodoviário

Dia desses, dando uma geral em meus guardados, minhas mãos manusearam antigas fotos dos cachorros da raça pastor-alemão que tive. Foram muitos, um deles foi “Lobo”, em homenagem ao parceiro do Vigilante Rodoviário Carlos Miranda, que também tenho como ídolo. Os nomes de meus cães foram os mais diversos – o último foi “Rambo” e, depois de sua morte, não quis mais ter cachorro.

A minha paixão pela raça pastor-alemão começou justamente na época em que assistia ao “Vigilante Rodoviário”, o primeiro herói do cinema nacional. Fico imaginando a dificuldade que se tinha para filmar com os parcos recursos daquela época. Vibrava quando via o inspetor Carlos Miranda montado em sua moto Harley-Davison 1952 com seu inseparável amigo “Lobo” sobre o tanque, perseguindo bandidos pelas rodovias paulistas, outras vezes a bordo de seu belo carro Sinca Chambord 1959. Seus filmes eram rodados na região de Jundiaí, Itu e Itupeva.

Foram 38 episódios, e quem idealizou e filmou foi o cineasta Ary Fernandes, um apaixonado pelo trabalho da Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo. Deles participaram artistas hoje famosos, mas iniciantes naquele tempo. Lembro-me de alguns como Ary Fontoura, Ary Toledo, Stênio Garcia, Juca Chaves e outros. Participavam também policiais rodoviários que trabalhavam na região.

Eu era músico, mas tinha o sonho de tornar-me um inspetor Carlos Miranda, meu ídolo. Fui atrás deste sonho quando meu conjunto musical acabou, mas para tal era preciso ser motorista profissional, ter mais de 1,72 metro de altura, o colegial completo e mais uma série de exigências. O concurso foi muito difícil, e em 1972 saí de Ribeirão Preto para enfrentar duas escolas para realizar meu sonho. Na primeira foram seis meses em Taubaté, saí dali um policial militar e fui encarar mais seis meses em São Paulo, de onde saí policial rodoviário.

Fazia dois meses que estava em São Paulo estudando as nossas leis de trânsito, na companhia de mais de 100 alunos, quando recebemos, em nossa escola, a visita de Carlos Miranda, meu ídolo. Não queria acreditar, estava ali na minha frente, com sua farda caqui, botas, “asinha” no peito e tudo mais. Sorriso simpático nos incentivando e, ao se despedir, disse: “Espero vocês em breve fardados como eu para patrulharmos juntos nossas estradas paulistas.”

Quando nos formamos, os mais de 100 novos patrulheiros foram esparramados por todo o estado. Eu, solteiro, fiquei em Jundiaí. Como a grana era curta, optei por morar na própria sede, em um galpão enorme que outrora servira de alojamento da Escola de Policiais Rodoviários. Morava na companhia de policiais mais antigos oriundos de cidades distantes, mas que gostaram da região e foram ficando. Entre eles, um sargento solteirão que tinha as chaves de tudo.

Havia outro galpão que vivia trancado, um dia pedi a chave deste galpão ao sargento e lá fui eu desvendar o pedaço. Fui entrando naquela muvuca, mexendo aqui, mexendo ali, achei muita coisa, mas o que mais me deixou admirado foi encontrar um cachorro pastor-alemão embalsamado. Estava perfeito, fiquei olhando aquele lindo animal, orelhas em pé, porte elegante, peguei-o nos braços e fui perguntar ao sargento quem e de quem era aquele cão. Ele disse: “Este é o ‘Lobo’, o cachorro artista do Vigilante Rodoviário Carlos Miranda. Quando ele morreu, nós o embalsamamos.”

Meus pensamentos voaram, estava nos meus braços parte de um passado mais do que vivo na minha memória, estava ali comigo o “Lobo” por quem tantas vezes torci nas perseguições a bandidos. Poxa, como é a vida da gente! Coloquei-o de volta no galpão, a vida seguiu, nem sei o que virou, pois meses depois fui transferido para Ribeirão Preto. Se tal fato tivesse acontecido tempos depois, tudo faria para resgatar o “Lobo” e tê-lo em minha companhia.

Sexta conto mais.

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