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Educação

Professor do interior paulista é finalista de prêmio internacional

Diego Mahfouz Faria Lima, finalista do Global Teacher Prize 2018. 14/02/18. Fotos: Ivan Feitosa/SMCS.

A Escola Municipal Darcy Ribeiro, em São José do Rio Preto (SP), seguia por um caminho que parecia difícil de mudar. Estudantes e profissionais desmotivados, ambiente pouco acolhedor e uma lista interminável de problemas. Mas a chegada de um novo diretor fez mudar não apenas a realidade dos estudantes, como de toda a comunidade escolar. Por isso, Diego Mahfouz Faria Lima é um dos 10 professores finalistas do Global Teacher Prize 2018, considerado o Nobel da educação. A premiação e o vencedor serão conhecidos no dia 18 de março, em Dubai, e o Ministério da Educação estará presente.

Com apenas 30 anos, Diego já tem 12 anos de experiência como professor. Ele é de Paranaíba (MS), que fica aproximadamente a 300 quilômetros de São José do Rio Preto. Entrou no magistério quase por acaso, quando ainda morava em sua cidade natal e acompanhava a mãe todas as semanas à cidade paulista, onde ela fazia tratamento contra um câncer. O convite para se inscrever no curso de magistério partiu de uma amiga, que ressaltou que os aprovados ganhariam uma bolsa de um salário mínimo. O dinheiro seria muito bem-vindo para ajudar nas despesas da família.

Entre muitos percalços, o pior deles a perda da mãe, concluiu o curso, trabalhou na alfabetização como voluntário em uma escola e acabou se apaixonando pela profissão. O curso de pedagogia acabou se tornando o caminho natural a seguir. Poucos anos depois passou em um concurso da prefeitura da cidade e, em meados de 2014, assumiu como vice-diretor da Escola Municipal Darcy Ribeiro.

Pouco depois a diretora, que seguiu com ele para a escola, pediu remoção. Não aguentava mais a realidade da escola. “Ninguém mais queria ir para lá. Nas reportagens a escola sempre aparecia com o pior Ideb, aluno portando arma de fogo, tráfico de drogas na porta da escola”, conta o professor. No primeiro dia como diretor resolveu se reunir com os alunos. Ao chegar ao pátio tudo o que havia era vazio e silêncio. De repente, os estudantes saíram dos banheiros gritando palavras de ordem, arremessando lixo, água e maçãs – que haviam sido servidas no lanche do dia – contra Diego.

Ao invés de fugir, ele pegou o microfone, afirmou que não arredaria o pé da escola e passou a palavra aos estudantes. A cena chocou os jovens, que cessaram as agressões, se sentaram e passaram a elencar os problemas que eles viviam. “Diziam que a escola era feia, que eles não eram ouvidos, que havia muita suspensão”, lembra. A primeira providência de Diego foi buscar materiais em outras escolas para mudar a aparência da Darcy Ribeiro. “Quando eu vi, a notícia começou a se espalhar e alguns pais começaram a vir ajudar na pintura. Nós conseguimos fazer isso em menos de um mês.”

A época da pintura coincidiu com o período de matrículas e Diego aproveitou para passar um questionário para os responsáveis responderem. O resultado foi bem parecido com os depoimentos que ele havia recebido dos estudantes. Muitos sequer renovaram a matrícula. Diego foi atrás para saber o motivo. Pais preferiam enfrentar distâncias maiores do que deixar os filhos na Darcy Ribeiro. Os professores também não se sentiam seguros na escola. Os relatos de agressões eram comuns. Como resposta, davam suspensões. Em média, 60 por semana.

Por isso, outra medida foi o projeto de tutoria, em que cada professor ficou responsável por uma sala. Alunos faltosos ou indisciplinados deveriam ser vistos com atenção redobrada. A medida aproximou alunos e professores. Também foi implantada uma caixa de sugestões em que as contribuições são lidas uma vez por mês e a solução buscada em conjunto.

Além disso, se o estudante falta, Diego vai atrás para saber o motivo. Vai em casa, conversa tanto com estudantes como com responsáveis. O resultado das medidas é que as evasões caíram de 200 para duas, de um ano para o outro.

Livre – As sextas-feiras eram dias comumente vazios na escola. Havia uma cultura de não ir às aulas. Para reverter, Diego criou o Prata da Casa, show de talentos em que estudantes e seus familiares fazem apresentações diversas ao final da aula. O sucesso foi tamanho que as aulas fluem normalmente e os dias de apresentação passaram a ser alternados.

“São várias ações ao longo deste ano que fizeram a escola se transformar. Isso é uma gestão democrática e os alunos são os protagonistas. É gratificante ver que a escola hoje é uma referência”, comemora o professor.

Prêmio – O Global Teacher Prize é um prêmio de 1 milhão de dólares concedido pela Varkey Foundation a um professor excepcional que tenha feito uma contribuição extraordinária para a profissão. O prêmio destaca a importância da profissão de educador e simboliza o fato de que professores em todo o mundo merecem ser reconhecidos e celebrados.

“É um prêmio internacional de grande relevância e o Brasil teve a felicidade de ter dois participantes entre os 50 indicados e, agora, entre os 10 finalistas o Diego foi selecionado” conta o secretário-executivo adjunto do MEC, Felipe Sartori Sigollo. “É importante que valorizemos as boas práticas pedagógicas, os professores, a formação de professores. Iniciativas como essa o MEC valoriza e aplaude”, ressalta. “O Brasil tem boas práticas e deve disseminá-las, além de valorizar a carreira e esses servidores públicos tão dedicados.”

Assessoria de Comunicação Social

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