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20 de abril de 2024 | 10:30
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SETE DÉCADAS DE LAR SANTANA

Neste mês de janeiro, a inau­guração de uma instituição que marcou época na Vila Tibério, um dos mais antigos e tradicionais bairros de Ribeirão Preto, completa 70 anos. Foi em 18 de janeiro de 1948 que ocor­reu a solenidade de inauguração do Lar Santana, originalmente uma escola e depois um orfanato, man­tidos pela Ordem das Irmãs Fran­ciscanas da Imaculada Conceição.

Essa instituição religiosa cató­lica chegou em Ribeirão Peto em novembro de 1926, quando funda­ram o Colégio “Sagrado Coração de Maria”. Quando a instituição deci­diu vender a escola, o então bispo dom Manuel da Silveira D’Elboux (1946-1950) sugeriu uma mudan­ça de finalidade – em vez de escola, um orfanato.

Assim surgiu em 18 de janei­ro de 1.948 o Lar Santana, com a missão de acolher crianças caren­tes. O orfanato sobreviveu durante décadas, até que em dezembro de 2014 a Ordem das Franciscanas anunciou sua desativação. Na oca­sião, a instituição religiosa citou os três principais motivos para fecha­mento: a missão de atender crian­ças carentes ficou prejudicada por estar localizada, agora, distante da periferia; as vocações ficaram es­cassas e a escola era tocada por apenas três freiras, já idosas; o alto custo do investimento neces­sário para atender a exigência de adequação do prédio, por parte do Corpo de Bombeiros, e para a re­forma da estrutura para atender as normas vigentes de acessibilidade.

Um mês após a desativação, a Câmara aprovou a Lei Ordinária Municipal 13.432, de 22 de janeiro de 2015, instituindo o imóvel como patrimônio cultural, histórico e ar­quitetônico do município. Como consequência, o Executivo Muni­cipal, através da lei complementar 2.791, de 31 de agosto de 2016, procedeu a permuta desse imóvel por dois terrenos da municipalida­de, um na Zona Sul e outro no dis­trito de Bonfim Paulista.

O agora próprio público munici­pal localiza-se no quadrilátero das ruas Conselheiro Dantas, Aurora, Jorge Lobato e Conselheiro Sarai­va, totalizando 7.863,38 metros quadrados, tendo sido avaliado em R$ 5.970.954,13. E apesar de uma enquete realizada entre moradores da Vila Tibério apontar como prin­cipal reivindicação a instalação no local de uma creche (o bairro não possui creche municipal), a prefei­tura anunciou que o prédio do Lar Santana será reformado para ser a sede da Secretaria Municipal da Saúde, que hoje funciona em um prédio alugado.

Madre Maurina – O Lar Santa­na tem grande valor histórico por sua importância para a Vila Tibé­rio e também por ter ocorrido lá a única prisão de uma religiosa feita pelo regime militar – em 1969 a di­tadura prendeu a madre Maurina Borges da Silveira, depois torturada e vítima de assédio sexual na de­legacia seccional de Polícia. Seus torturadores foram inclusive ex­-comungados pela Igreja Católica. Libertada, banida do país e asilada no México, madre Maurina retor­nou ao Brasil e faleceu em 2011.

Madre Maurina – Madre Mauri­na Borges da Silveira, a freira presa acusada de subversão, torturada e banida do país durante a ditadura militar, morreu em março de 2011, em Araraquara, onde vivia num convento de sua comunidade, a Congregação das Irmãs Francis­canas da Imaculada Conceição. A freira tinha 84 anos e sofria do Mal de Alzheimer.

Ela era a diretora do Lar San­tana no período mais crítico dos ”anos de chumbo”. Cedeu uma sala do prédio para as reuniões de um grupo de jovens estudantes. Não tinha conhecimento da luta e aca­bou presa acusada de acobertar militantes da Frente Armada de Libertação Nacional (FALN), que se reuniam e imprimiam material subversivo no porão do Lar Santa­na. A madre foi presa e torturada.

A história de Madre Maurina marcou a luta da Igreja Católica em defesa dos direitos humanos, nos ”anos de chumbo” do regime militar. ”Madre Maurina foi uma grande vítima da ditadura militar, porque não tinha nenhuma parti­cipação política e jamais integrou organização que pregava a luta armada”, disse por ocasião de seu falecimento dom Angélico Sandro Bernardino, bispo emérito de Blu­menau (SC), que em 1969 era padre em Ribeirão Preto.

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