27 C
Ribeirão Preto
28 de março de 2024 | 17:21
Jornal Tribuna Ribeirão
Início » A herdabilidade dos comportamentos humanos complexos (9)
Artigos

A herdabilidade dos comportamentos humanos complexos (9)

Embora o estudo da religiosidade tenha uma longa história, a religiosidade está experen­ciando atualmente um renascer como importante variável psicológica. Religiosidade tem sido negativamente relacionada a comportamento antissocial e positivamente relacionada a com­portamento pró-social. Entretanto, a saúde psicológica, do mesmo modo que a saúde física, tem se mostrado positivamente associada a religiosidade. Também a relação entre religiosida­de e personalidade tem sido foco de muitos estudos recentes. Um exemplo? Tem sido ilustra­do que religiosidade, em adição aos 5 grandes fatores de personalidade, a saber, introversão, agradabilidade, conscienciosidade, neuroticismo e abertura para experiência, pode ser consi­derada uma boa candidata a uma nova dimensão de traços de personalidade.

A maioria destes estudos, todavia, assume que o envolvimento religioso é primariamente, senão exclusivamente, o produto de influências sociais e ambientais como, por exemplo, a aprendizagem observacional, os reforçamentos positivo e negativo, pressões culturais e nor­mativas e interações sociais, entre outras associações do gênero. Não obstante, há um con­junto de evidências atuais que sugere ser falsa tal suposição e que fatores genéticos, e outras variáveis biológicas, também influenciam a vida religiosa. De fato, alguns estudos envolvendo gêmeos e crianças adotadas têm registrado efeitos genéticos estatisticamente significativos sobre vários desfechos religiosos, incluindo ir a missa e assumir crenças conservadoras ou espiritualistas, entre outros.

Pesquisas recentes têm suportado a hipótese de que religiosidade é moderadamente herdá­vel, haja vista que, estudos com gêmeos adultos têm indicado que a herdabilidade varia de 0,35 a 0,55 dependendo da medida usada para avaliar a orientação religiosa. Há estudos revelando que entre gêmeos adultos, criados separadamente, a herdabilidade foi de 0,43 para religiosi­dade intrínseca e de 0,39 para religiosidade extrínseca. Um coeficiente de herdabilidade de 0,41 foi encontrado na escala de fundamentalismo religioso, numa mostra de gêmeos adultos adotados. Usando a frequência de atendimento a serviços religiosos como um indicador da religiosidade, estudiosos registraram herdabilidade de 0,26 para homem e 0,34 para mulher.

Por outro lado, a idade pode ser um importante fator moderador das influências genéticas sobre religiosidade. Para investigar mais sistematicamente essa variável, alguns geneticistas do comportamento avaliaram a religiosidade tanto atual quanto retrospectiva utilizando o auto­-registro em uma mostra de gêmeos adultos, incluindo pares homo e dizigóticos, com idade média de 33 anos. Os registros retrospectivos de religiosidade mostraram pequena diferença na correlação entre gêmeos monozigóticos (r=0,69) e dizigóticos (r=0,59). Os registros da religiosidade atual, todavia, mostraram-se maiores, sendo r=0,62 para gêmeos monozigóticos e r=0,42 para dizigóticos. Por adição, análises biométricas dos dois conjuntos de estimativas de religiosidade revelaram que fatores genéticos foram significativamente mais fracos (12% x44%) enquanto fatores ambientais compartilhados foram significativamente mais fortes (56% x 18%) nos adolescentes que nos adultos. As análises da subescala interna e externa da religio­sidade no escore total revelaram significados similares.

Considerando a variedade de estudos realizados até então, podemos sumariar afirman­do que fatores genéticos explicam de 19 a 65% da variação, enquanto influências ambientais explicam de 35 a 81% da variação, dependendo do aspecto religioso que esteja sendo investi­gado. Em conjunto, os achados suportam a hipótese de que a herdabilidade da religiosidade aumenta da adolescência para a maturidade.

Mais notícias