Tive oportunidade de escrever, neste espaço, a respeito das belezas da noite e recebi várias manifestações dos leitores perguntando por que não falei da Lua e das estrelas. Acho que foi a limitação de espaço que me fez calar sobre duas participantes tão importantes de nosso universo noturno, que povoam nossa admiração e nossos sonhos.
Tenho, em minha casa, pequeno mirante para onde vou, com frequência, nos fins das tardes e começos das noites, a fim de admirar os enormes quadros pintados pelo Sol nas nuvens do horizonte e as primeiras estrelas que começam, tímidas, a surgir no firmamento. Devido às luzes da cidade, somente vemos as mais brilhantes, pois as outras se escondem no clarão que vem da Terra. Somente quem teve a oportunidade de ver o céu numa noite límpida e afastada da cidade, pode sentir a nossa pequenez, frente à miríade de pontos luminosos de estrelas, planetas, satélites e corpos celestes.
Sempre me imagino pensando em como o homem primitivo saiu de sua caverna pela vez primeira e descobriu o firmamento, aquela abóboda multi pontilhada por luzinhas de intensidade variada! Em como ele paulatinamente descobriu que as estrelas apareciam mais ou menos nos mesmos lugares, girando com o céu. Em como ele começou a criar sua postura filosófica, indagando-se sobre sua origem e a do Universo, então um mistério tenebroso.
Até hoje, mesmo com os avanços das ciências e dos telescópios espaciais, o firmamento é um mistério e fonte de criação poética. Perguntamo-nos como pode um pequeno ponto de um sistema solar, perdido entre bilhões de galáxias, gerar uma civilização tão complexa como a nossa, que, até agora, parece ser única no Universo. Nossa solidão no Espaço, se nos esmaga de estupefação, faz-nos escapar para soluções religiosas e incentiva nossa veia poética.
A Lua sempre se destacou pelo tamanho na noite escura e pela fácil observação de suas fases mutantes. Gerou, com isto, inúmeras lendas e mitos que procuravam mostrar sua origem. Povos primitivos, gregos, romanos e mesmo nossos indígenas foram criativos na sua explicação para o brilhante astro noturno. Diz uma lenda tupi-guarani que uma índia de cor muito branca não era bem vista em sua tribo e era sempre perseguida pelas demais companheiras mais escuras. Numa das noites, cansada, teceu uma escada de cipós, que fixou nas nuvens e por ela subiu até que, cansada, adormeceu, descobrindo, quando acordou, que tinha se transformado na Lua.
Lua e estrelas são objeto e motivo dos enamorados. Quem nunca manifestou seus sentimentos sob o luar brilhante de uma lua cheia ou sob o céu estrelado de uma noite clara? Quem não pensou na pessoa amada, quando retornando para casa num dia de trabalho, viu aquela lua enorme, crescendo no horizonte? Quem não criou estórias para explicar a curiosidade do filho ainda pequeno? Lua e estrelas fazem parte de nosso coração. São o nosso coração.
Como dizia Fernando Pessoa: “São velhas as estrelas, e elas são/ Grandes. Velho e pequeno é o coração, / e contém mais do que as estrelas todas / sendo, sem espaço, mais que a imensidão”.