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29 de março de 2024 | 7:56
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A menina da montanha, de Tara Westover

Lançado em setembro de 2018, pela Rocco, o livro “A menina da montanha”, relato autobiográfico da autora Tara Westover, narra a trajetória de uma jovem de 17 anos que, criada nas montanhas de Idaho, nos Estados Unidos, cresceu prepa­rada para enfrentar as mais diferentes e complexas situações de sobrevivência: sua casa, praticamente um abrigo antiaéreo com estoque de comida; doenças cotidia­nas, sem os cuidados de um médico; a compreensão das coisas e do mundo, sem acesso a educação formal. Sua família? Vivendo totalmente isolada da sociedade, era composta por elementos totalmente instáveis psicologicamente e descrentes das instituições e de suas conquistas, como as vacinas, os tratamentos médicos, as novas tecnologias e, até mesmo, as mínimas instruções de relevantes normas de segurança. Paranóicos, não percebiam que suas crenças religiosas radicais apenas serviam para alimentar manias, delírios de grandeza e de perseguição que atordoavam quem os circundava. Os filhos? Obrigados desde cedo a trabalhar em um ferro velho, conviviam com a violência física e psicológica sem que os pais se incomodassem com isso.

Mas, eis que a vida lhe sorri com a possibilidade de uma nova vida: por oca­sião do ingresso de um de seus irmãos na universidade, as notícias por ele trazidas do mundo além da montanha despertam na personagem uma força ainda maior para mudar seu destino. Comprando, na surdina, alguns livros que a ajudariam a se preparar para um teste de habilidades, a jovem se dedicou de forma autodidata ao conhecimento de noções fundamentais de matemática, gramática e ciência, alcançando a aprovação. Anos mais tarde, chegando a Cambridge, e distante do controlador e inóspito ambiente familiar, deixou desabrochar sua necessidade de ampliação de horizontes, recusando, definitivamente, crenças infundadas que negavam os avanços científicos.

Seu mentor? O conhecimento. Elemento civilizador que a libertara da ignorân­cia e das conclusões precipitadas. Elemento emancipador que lhe ensinara não ser o nascimento o que determina o nosso destino. Uma narrativa de reinvenção do humano. Um trecho?

“Estou no vagão vermelho que jaz abandonado ao lado do celeiro. O vento sopra forte, batendo meus cabelos contra o rosto e jogando friagem pela gola aberta da minha camisa. Aqui, tão perto da montanha, a ventania é intensa, como se o próprio pico estivesse soprando. Lá embaixo o vale está calmo, imperturbado. Mas nossa fazenda dança: as pesadas coníferas balançam devagar, as sálvias e os cardos tremem, vergando diante de toda rajada de vento e bolsão de ar. Atrás de mim a encosta se adianta suavemente para o topo e se estica para baixo até o pé da monta­nha. Olhando para cima, vejo a forma escura da Princesa Índia. A encosta é coberta de trigo-selvagem. Se as coníferas e as sálvias são solistas, o campo de trigo é um corpo de baile, cada haste acompanhando todas as outras em movimentos rítmi­cos, milhões de bailarinas se curvando, uma após a outra, quando grandes lufadas amassam suas cabeças douradas. A forma das marcas das lufadas dura apenas um momento, e é o único jeito de ver o vento. (…) Tenho apenas 7 anos, mas compre­endo que esse fato, mais que qualquer outro, é o que torna minha família diferente: nós não vamos à escola. (…) (…) Todas as histórias de meu pai eram sobre nossa montanha, nosso vale, nosso pedacinho recortado em Idaho. Ele nunca me disse o que fazer se eu fosse embora da montanha, se atravessasse mares e continentes e me encontrasse em terras estranhas, onde eu não conseguiria mais ver a Princesa no horizonte. Nunca me disse como saber que era hora de ir para casa.”.
Vale conferir.

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