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20 de abril de 2024 | 3:55
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A mensuração do envelhecimento (3)

Com o envelhecimento, quais fatores contribuem para as diferenças individuais na habilidade cognitiva? Se consideramos um grupo de pessoas que têm QIs idênti­cos na idade de 11 anos, quais são os fatores, além da probabilidade, que ocasionam a alguns indivíduos fazerem melhor ou pior na vida adulta do que seus pares com os mesmos QIs na infância? Para estudar “como” e “por que” pessoas envelhecem cognitivamente, isto é, “como” e “o porquê” inteligência muda ao longo do tempo, ne­cessitamos analisar dados sobre habilidades cognitivas tanto no início da vida quanto em seu fim. Para explicar tal necessidade mais claramente, pense: se as capacidades mentais de alguém estão declinando mais rápido do que seria esperado para a idade daquela pessoa, então há algum problema. Naturalmente, cognição muito baixa é sempre um problema porque ela torna as pessoas mais dependentes dos outros para a tomada de decisão e cuidados pessoais. Todavia, ao estudar o envelhecimento cog­nitivo, é a quantidade de mudança, a partir de um nível prévio de cognição, o que, de fato, importa.

Diferente do estudo da epidemiologia, estudar envelhecimento cognitivo requer mais do que, meramente, emparelhar nomes, datas de nascimento, e outras informações, oriundas de várias fontes, para, então, agregar os números apropria­damente objetivando verificar quais associações existem. Avaliar envelhecimento cognitivo dos indivíduos é olhar para associações entre envelhecimento cognitivo e outros fatores, tanto biológicos quanto socioambientais. Um exemplo? Admi­nistra-se uma bateria de testes para avaliar envelhecimento cognitivo e, em se­guida, correlacionam-se tais escores com uma variedade de fatores que podem estar associados com envelhecimento cognitivo: genes, estrutura cerebral, fumar, nutrição e assim por diante.

Assim considerando, uma das associações mais interessantes, recentemente analisada, foi a estabilidade da inteligência da infância à idade adulta. A suposição foi que, para estudar a função mental na maturidade, era importante ajustar a inteligên­cia para a habilidade prévia, isto é, para a verdadeira habilidade anterior antes que quaisquer efeitos de envelhecimento tivesse ocorrido. Em verdade, fez-se a seguinte questão: “Qual foi a mudança relativa, para cima ou para baixo, ou nenhuma, ocorrida para aquela pessoa em parti­cular?”. Portanto, a primeira tarefa foi examinar a estabi­lidade das diferenças indivi­duais na habilidade mental ao longo da vida. Isto foi feito.

Pesquisadores ingle­ses, inesperadamente, desco­briram que, entre as décadas de 1930-40, um teste de inteli­gência foi aplicado para todas as crianças escocesas quando tinham elas 11 anos de idade. Em seguida, tomaram esses dados, identificaram as pes­soas ainda vivas que tinham participado dessa avaliação e as convidaram para serem re­testadas, usando o mesmo tes­te de inteligência, exatamente 66 anos depois, portanto, na idade de 77 anos. Interessante observar que, antes do reteste, elas foram questionadas se, como um grupo, relembravam de terem se submetido ao teste original, ao que apenas algumas mãos ergueram-se.

Para o que nos interessa, a correlação entre os escores de inteligência nas idades de 11 e 77 anos foi 0.63, a qual, corrigida para a restrição da população da amostra em relação à população total, eleva o valor para 0.73. Qualquer que seja o ponto de observação, este resultado mostra uma considerável estabilidade das diferenças individuais na habilidade cognitiva ao longo de quase toda a amplitude da vida humana. Ademais, os resultados sustentam o impacto da inteligência obtida na infância sobre inúmeros indicadores econômicos, sociais, educacionais e de saúde que, naturalmente, ocorreram ao longo do intervalo de 66 anos até a maturidade.

Em outras palavras, a inteligência aferida em nossa infância é a que deter­mina, praticamente, todos os nossos eventos de vida na juventude, idade adulta e velhice. Daí a relevância de se estimular o desenvolvimento cognitivo nos primeiros anos de vida.

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