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20 de abril de 2024 | 9:21
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A Neurociência do Treinamento Cerebral (9)

Uma maneira de pensar sobre enriquecimento cognitivo é perguntar às pessoas o que elas acreditam ser verdadeiro sobre envelhecimento e quais as possibilidades de minimizar efeitos negativos como a demência. É bem conhecido que ser idoso é frequentemente asso­ciado a estereótipos sociais negativos, incluindo adjetivos como senil, esquecido, confuso, inflexível etc. Adultos de todas as idades associam explicitamente envelhecimento com de­clínio cognitivo. Um exemplo? Inúmeros levantamentos mostram que indivíduos de todas as idades acreditam que a capacidade mnemônica deteriora-se substancialmente após os 40 anos de idade. Ademais, há uma boa evidência revelando que indivíduos de meia idade experienciam ansiedade acerca de envelhecer ou de contrair a doença de Alzheimer porque receiam as potenciais conseqüências negativas do envelhecimento, incluindo incapacidade física, declínio cognitivo e morte.

Um achado clássico em gerontologia, que reflete tais atitudes, é que os indivíduos percebem a si mesmos serem mais jovens do que sua real idade cronológica. Atitudes que rejeitam os estereótipos de envelhecimento dominante por enfermidade ou por incapacidade como irrelevantes a si próprios podem ser críticos para um envelhecimento eficientemente auto-regulado e bem-sucedido. Inversamente, quando os estereótipos negativos de envelhe­cimento são ativados em contexto de desempenho cognitivo, o desempenho dos idosos pode sofrer devido à ameaça do es­tereótipo, talvez devido às interferências que a ansiedade produz.

O que é menos reconhecido é que há, também, estereóti­pos positivos sobre o envelhecimento. Alguns estudos sobre isso revelaram que adultos mantém protótipos de envelhecimento bem-sucedido, tais como, engajar-se em trabalhos voluntários que podem influenciar positivamente as motivações de um idoso. Estudos mostraram que indivíduos solicitados a escalonar a idade em que diferentes atributos começam a mudar, variaram suas estimativas amplamente dependendo do atributo. Idosos são frequentemente perce­bidos como sendo experientes, sábios e eruditos, de forma que concomitante à visão dos cientistas, adultos nas sociedades ocidentais tendem a ver os idosos como tendo preserva­dos alguns aspectos da cognição associados a experiência e conhecimento, mas, também, como sendo prováveis em declinar em outros aspectos da cognição como a memória.

Um tema interessante é verificar se houve grande mudança nas atitudes em relação ao funcionamento cognitivo dos idosos na era moderna. Há cinqüenta anos, o estereótipo oci­dental predominante de um idoso era o da incapacidade cognitiva, ou seja, da senilidade. Hoje, atitudes sobre envelhecimento, ainda que frequentemente negativas, têm sido tempe­radas pela crença de que o declínio pode não ser universal, nem inevitável. Uma razão para esta mudança? Instituições públicas e associações variadas de idosos estarem persuadindo com sucesso o público em geral de que a demência é uma doença que ocorre para alguns, e não todos, os idosos. Ademais, nossa sociedade é agora mais ágil para adotar a perspectiva “Use-o ou perca-o”, incentivando a não acomodação pela idade. Outros dados sugerem, também, que idosos têm internalizada a hipótese de use-o ou perca-o por ela ser relevante para eles. Indagados como controlam a perda da memória, muitos idosos mencionam o uso de estratégias de contenção e similares. Outros, mais idosos que estes, mencionam estimulação cognitiva, acreditando que esta pode prevenir o declínio advindo com a idade.

De modo geral, o que se constata, portanto, é que, do ponto de vista dos idosos, manter um funcionamento cognitivo eficiente é desejável simplesmente porque ele promete enri­quecer a qualidade do inverno da vida.

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