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28 de março de 2024 | 9:59
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Agora é mini

Longe de mim me colocar como dono da verdade, por­tanto, o que aí vai é apenas minha opinião. Certa ou errada, vocês é quem vão julgar. Como participante periférico do sistema, acho que em algum ponto vocês me darão razão.

Mas é bom que se esclareça do que se está falando. Um dos assuntos mais comentados dos últimos tempos é a crise do mer­cado editorial. Então comecemos tentando ordenar as ideias a partir de uma simples descrição do que venha a ser este monstro.

A rede que se tem chamado de mercado editorial começa pelo escritor. Os livros não podem ser produzidos sem que alguém os tenha escrito. Em seguida aparecem os originais, produtos dos escritores. Tais originais são entregues a uma editora para publicação. Transformados em livros, existem as livrarias (pulemos as distribuidoras, cujo papel é apenas servir de auxiliar entre a editora e a livraria).

Esta última sim, tem uma função extremamente importante na cadeia, pois é ela, a livraria, que manterá uma loja com os li­vros à disposição do público leitor. No fim da cadeia, finalmen­te, está o leitor, aquele que injetará o dinheiro de outras fontes no mercado editorial, o dinheiro que deverá sustentar a livraria e em seguida a editora e por fim o escritor. Então já temos os dois extremos do sistema: o escritor e o leitor.

Se alguma coisa falha nessa cadeia, o sistema pode entrar em crise.

De uns anos para cá temos visto as livrarias tornarem-se megastores, com um batalhão de funcionários: caixas, aten­dentes, repositores, escriturários, almoxarifes, estoquistas, marqueteiros e por continuar uma lista grande paremos por aqui. Ora, a grande livraria é pesada, exige um movimento acima, em geral, do que sustenta o mercado brasileiro. A questão parece estar sendo uma inadequação entre público consumidor e dimensões da loja.

Além da moda das megas, iniciaram outra, as grandes redes. Gerir uma grande rede pode se tornar um processo muito complicado. As compras (já quase inexistentes, pois funciona o sistema de consignação, que é outro inimigo das suas usuárias) atrasando muito as decisões sobre o que expor, sobre o que manter em estoque.

Ora, as livrarias recebem religiosamente o preço dos livros pago pelos leitores, mas suas despesas são maiores que as receitas. Resultado: não repassam à editora o valor do livro que era apenas consignado. E a editora, por sua vez, deixa de remunerar o autor com aquilo que lhe é de direito.

O sistema está doente.

Há nisso tudo uma questão de gestão, pois algumas redes continuam financeiramente saudáveis enquanto outras pe­dem recuperação judicial.

Querer que o problema seja o baixo índice de leitura no Brasil, e apenas isso, me parece um grande equívoco. As redes Leitura e Curitiba não estão no mesmo mercado?

Pois bem, sou de opinião que o futuro esteja na mini. Peque­nas editoras com baixo custo de produção, pequenas edições desováveis rapidamente, pequenas livrarias (nos bairros) em que o proprietário esteja presente trabalhando, livreiro com conhe­cimento de livro, com boa relação com seus fregueses, eis o que me parece sobreviverá. Alguns dirão que isso é andar para trás. Concordo, mas quantas e quantas vezes na vida não temos de andar para trás? O bom estrategista sabe que avançar sempre e a qualquer preço pode muito bem ser suicídio.

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