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19 de abril de 2024 | 17:30
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O presidente do Botafogo, Dmitri Abreu - Foto JF Pimenta
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Botafogo com Dmitri: ‘Não abro mão da presidência da S/A’

O advogado Dmitri Abreu faz parte de uma seleta galeria de torcedores que saíram das arquibancadas para ocupar a cadeira da presidência de um clube de futebol. Andrés Sanches, presidente do Corinthians, também faz parte desse seleto grupo, por exemplo. Aos 41 anos de idade, completados no Dia do trabalho, o Integrante da Fiel Força Tricolor, eleito por aclamação, no dia 15 de abril, agora quer a presidência da Botafogo Sociedade Anônima, hoje ainda comandada pelo ex-presidente do clube, Gerson Engracia. “Não abro mão da presidência da S/A,” diz.

Para o ex-presidente, tudo depende de uma reunião do Conselho de Administração da S/A, onde o Botafogo tem quatro dos sete assentos. A data para que isso ocorra ainda não foi definida, pois não pode haver vacância do cargo, isto é, Gersinho não teria como deixar a presidência sem que houvesse outro para substituí-lo. A expectativa é a de que isso ocorra nas próximas semanas, mesmo porque, Dmitri Abreu já comunicou que quer assumir o cargo na semana que se encerrou.

Ferrenho defensor do modelo de gestão implantado no Botafogo com a Sociedade Anônima, Dmitri Abreu, no entanto, questiona a falta de controle nas finanças, afirma que a obra da Arena custou três vezes mais que o orçado e que, até agora, nenhuma nota fiscal teria sido analisada. Ele também nega que tenha feito acordo para alcançar a presidência do clube e é taxativo: “É mentira!”

Mas ele também aborda questões importantes, como a de transformar a S/A em um ambiente de negócios para, inclusive para desenvolver tecnologia, por meio de startups, e a criação de uma arena para e-games. “Agora somos uma S/A, mas a comunidade não pode nos abandonar,” afirma.

Na quarta-feira, ele recebeu o Tribuna para a seguinte entrevista:

Tribuna – O senhor fez acordo para chegar à presidência do Botafogo? O seu adversário, Luis Pereira, abriria mão da disputa do cargo para ficar com a Sociedade Anônima, como chegou a ser divulgado?

Dmitri Abreu – É mentira! Não houve esse acordo, pelo menos da minha parte. Sustentei a minha candidatura, tanto que estou presidente. O acordo que houve foi entre o meu vice – Rosalvo Barbosa – com o vice do Luiz Pereira, o Osvaldo Festucci. Tanto que nessa semana formalizei a minha intenção de ser presidente da S/A. O acordo de acionista prevê que o presidente tem direito ao cargo de presidente, que é escolhido pelo clube, e o acionista, ao do diretor financeiro. Está escrito no documento.

Tribuna – Obviamente que o senhor tinha conhecimento dessa alteração de chapa…

Dmitri Abreu – Sim. Sabia de toda a negociação, mas não abriria mão de ser candidato a presidente. Achei que seria uma situação até ridícula, depois de tudo o que aconteceu: batemos chapa, os dois inscreveram, então não iria recuar. Se você está preparado para perder é porque também está preparado para ganhar: óbvio que não se entra em uma disputa para perdê-la.

Tribuna – E de onde teria vindo essa versão do acordo?

Dmitri Abreu – Não sei. Nunca li ou ouvi declaração dele nesse sentido. Mas muitos falam pelo Luiz Pereira que, por sua vez, nunca me disse nada sobre a intenção de presidir a S/A. E não autorizei ninguém a negociar nesse sentido. Só sei que a minha candidatura incomodou, isso é fato, portanto penso que isso começou com esse incômodo. Mas não quero atrapalhar, pois sou muito simpático a esse projeto, o da Sociedade Anônima: ele pode ser revolucionário, mas precisa de ajustes.

Tribuna – Que ajustes seriam esses…

Dmitri Abreu – De controle. Como pode uma obra ser construída pelo preço inicial de X e custar 3 X e ainda não se analisou uma nota fiscal sequer? O que foi verbalizado em uma reunião do Conselho, sobre a construção da Arena, ainda não há nada demonstrado até agora. Estava orçada, inicialmente, em R$ 5 milhões e hoje está beirando os R$ 15 milhões.

Tribuna – E por que isso ainda não foi feito?

Dmitri Abreu – Essa pergunta eu também faço e quero saber, mas para isso eu preciso assumir a S/A.

Tribuna – Há desconfiança de alguma irregularidade?

Dmitri Abreu – A questão não é essa. Precisa é de controle. Uma obra de grande volume, feita a toque de caixa e ninguém analisou nada.  O estatuto da Sociedade Anônima prevê a criação do Conselho Fiscal. E por que esse conselho não foi criado até agora? Preciso assumir a empresa para saber de tudo isso.

Tribuna – A presidência da empresa ainda é exercida por Gerson Engracia. O que fazer?

Dmitri Abreu – Ele tem verbalizado para várias pessoas que não tem interesse de continuar e mesmo que ele queira que manifeste interesse em continuar, entendo que, neste momento, nosso grupo deve assumir a direção para poder acompanhar mais de perto o que está acontecendo na gestão dessa empresa. O Botafogo faz futebol há 100 anos, mas entendemos que chegou o momento de fazer a coisa mais profissional. Agora, tem que saber quanto se gasta, como está sendo tocado.

Tribuna – Há algum risco para o Botafogo centenário?

Dmitri Abreu – Não. No nosso entendimento chegou o momento de se fazer a coisa mais profissional, até para poder concorrer nesse mercado, que é bem disputado. Os grandes clubes estão se distanciando muito dos clubes do interior. É uma forma de se voltar para o mercado com mais segurança, com mais intensidade, e foi com base nisso que criamos esse modelo de gestão. O nosso torcedor vai ter que acompanhar não só o que se passa dentro de campo, mas também como está sendo gerida essa empresa.

Tribuna – Há transparência?

Dmitri Abreu – Ainda não há exercício dessa empresa. A partir do momento que houver, com um ano de existência, aí vamos fazer uma apuração de tudo. Isso é a prática de uma S/A.

Tribuna – Mas por esses indícios, o da falta de controle…

Dmitri Abreu – É algo que preocupa. E vamos ver o que está acontecendo.

Tribuna – E quanto ao contrato de superfície do estádio?

Dmitri Abreu – Há uma insatisfação com o contrato de superfície. O sócio detém esse direito. No setor onde está sendo construída a arena, ele tem direito exclusivo, e no restante, há direito compartilhado. Conforme a Arena vai crescendo, a exclusividade também se amplia. É um direito real, para que a S/A possa se manter e gerir as coisas do futebol.

Tribuna – A empresa paga mensalidade? Seria de 125 mil reais?

Dmitri Abreu – Por questão de exclusividade, por estar presidente, não posso falar. Mas é um valor que, em tese, deveria suprir as necessidades do clube por mês… e nesse momento não está conseguindo. Também cabe ao clube otimizar outras receitas.

Tribuna – Mesmo sendo uma S/A, o velho Botafogo tem que gerar receitas?

Dmitri Abreu – É o nosso maior desafio no momento: recuperar as finanças do velho Botafogo. Tem contas a pagar: passivo trabalhista, que temos administrado. E também um passivo fiscal, que está parcelado no Refis. Isso representa algo em torno de R$ 160 mil mês. Além de outros acordos em processos firmados.

Tribuna – Já não estaria na hora de a S/A bancar isso?

Dmitri Abreu – Estamos olhando todos esses contratos. O Botafogo, pela coletividade que tem, precisa continuar se movimentando para gerar receitas. O clube tem um passado a ser pago. E precisamos terminar logo com ele. Uma empresa foi constituída para otimizar receitas e tocar o futebol de forma mais profissional. Uma instituição centenária não poderia transferir para o sócio seu passivo. Nós temos que ter a criatividade e a inteligência de resolver esse passado. Antes havia uma dívida que beirava 140 milhões de reais.

Tribuna – Nesse tempo houve perdas importantes.

Dmitri Abreu – Sim. Tínhamos um clube social, o poliesportivo na Vila Tibério. Porque não projetar e reconstruir isso? O Botafogo perdeu aquele espaço para saldar débitos trabalhistas. Tudo aquilo pertence a um investidor de Brasília. Propusemos que a prefeitura trocasse aquela área por outra, de igual tamanho. O proprietário concordou com isso, pois ele tem dificuldades para tocar projetos naquele espaço. Então, se tudo desse certo, a prefeitura assumiria toda aquela área para transformá-la em um parque para a população. Há uma grande infraestrutura ali. O valor maior é o afetivo. Além de importância desportiva, há também interesse histórico, de memória.

Tribuna – O senhor admite, para um futuro não muito distante, que a S/A venha a ser administrada por um CEO (Chief Executive Officer), isto é, um Diretor-Executivo.

Dmitri Abreu – O CEO já existe em vários clubes e funciona perfeitamente, portanto não é uma opção descartada, mas esse relacionamento precisa ser criado.

Tribuna – Qual a previsão de maturação da S/A?

Dmitri Abreu – Quando você sai de um modelo de clube e vai para um modelo empresarial há aumento de custos. Há também um ‘desparecimento’ da comunidade. As pessoas não podem desistir do Botafogo. Às vezes a incompreensão do que está acontecendo afasta as pessoas.

Tribuna – O senhor percebeu isso?

Dmitri Abreu – Tenho lutado para que haja uma reversão. O Botafogo precisa muito de sua comunidade. São 100 anos de vida, tanto patrimonial como de história. Nos clubes que adotaram esse modelo, a comunidade não os abandonou, ao contrário, faz negócios com o clube.

Tribuna – De que maneira?

Dmitri Abreu – Com ambientes de network. Há muita coisa boa como, por exemplo, criar um ambiente de startups A nossa comunidade é criativa e pode fazer negócios dentro desse espaço. Vamos produzir tecnologia. Existem garotos que criaram programas para análise de desempenho, análise de mercado, é uma coisa fantástica e lucrativa. Você traz essas inteligências e tenta formatar esse novo ambiente, esse novo espaço, esse novo negócio.

Tribuna – Pensa em desenvolver jogos eletrônicos, por exemplo?

Dmitri Abreu – Tudo. Os chamados e-games – jogos eletrônicos – são uma grande oportunidade, desde que existam inteligências para desenvolvê-los. Estamos com a proposta de criar uma arena para a disputa desses jogos no Santa Cruz, para atrair essas pessoas para o clube. Vamos criar esses ambientes para gerar receitas.

Tribuna – Por falar nisso, qual o valor da folha de pagamento do Botafogo e qual é a receita?

Dmitri Abreu – A folha está em cerca de 900 mil reais, enquanto a receita chega a R$ 1,3 milhão. Por isso a importância de assumir a presidência.

Tribuna – Qual sua meta de receita?

Dmitri Abreu – O Problema maior não é a receita, mas a despesa. O Botafogo, quando tem muito dinheiro, se perde; quando tem pouco, se fortalece. Você percebe muita gente achando que está céu de brigadeiro. É preciso conhecer os números. A S/A perde muitos benefícios fiscais, ao contrário do clube. Havia muita gente que antes doava pão, carne ao clube. Hoje, não. Você acha que as pessoas vão doar carne para a S/A, vão doar pão?

Tribuna – Está faltando dinheiro?

Dmitri Abreu – Ainda não.

 

 

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