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28 de março de 2024 | 9:10
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Caiu a peruca na calabresa

Bueno *
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Já sacou que existem pessoas capazes de te passar coisas boas até num simples cumprimento? Às vezes cruzamos com alguém que nem conhecemos, você nem espera ser saudado por ele e se surpreende. Quando damos conta, estamos sorrindo e tudo melhora, você passa a observar e valorizar até pequenas coisas. Aquele cumprimento teve o destino certo.

Boas amizades fazem bem à saúde também na vida da gente. Sem perder o tom, vou entrar num campo que modéstia parte, bato nas onze (rsrsrs)música, samba e sambistas. Quem não conheceu Bilico passou por essa vida e não viveu, já dizia Vinicius de Morais em sua parceria com Toquinho (Como dizia o poeta). 

Bilico era tudo que escrevi no começo. Quem cruzava com ele tinha um dia no mínimo diferente. Lembro-me dele ter jogado basquete num timaço da Recreativa dos velhos tempos. Entre tantas coisas que fazia, era apaixonado por uma roda de samba. Em seu carro havia de ter, obrigatoriamente, um lugar para seu atabaque, chocalho, tamborim, pandeiro e tudo mais que um bom samba pede. 

Bilicão era a alegria em pessoa, aquele sorriso largo, aquele semblante de um ser humano feliz. Trazia estampado em seu rosto a alegria do  reencontro com amigos, sem contar aquele abraço carinhoso. Que coisa! Fecho os olhos e vejo tudo que escrevi.

Certa noite na nossa Cava do Bosque  por mais que rebusque na gaveta de minha memória, não consigo me lembrar o que lá acontecia, mas seja lá o que for, só sei que evento já tinha acabado eu estava lá com meu cavaquinho e violão. De repente cruzo com Bilicão que, cheio de felicidade, falou: Buenão, vamos fazer uma roda de samba? 

Demorou, parceiro, respondi. Em segundos seus maravilhosos filhos, Alexandre e Marcelo, chegavam ao pedaço com todos os instrumentos. O  velho sambista se posicionou, fez um rápido aquecimento e fez um pedido: “Buenão, cante aquele samba da Ivone de Lara e Delcio Carvalho, Acreditar. 

Eu que adoro cantá-lo soltei o gogó, Alexandre no tamborim e Marcelo no chocalho, a coisa pegou fogo. Virou a maior festa, cerveja chegava de tudo que é lado pra gente não parar o sambaBilicão olhou pra mim, abriu seu lindo sorriso e disse: Buenão, hoje vamos encharcar o verbo”. Rimos muito e o samba continuou. Isso faz mais de 20 anos, seus meninos hoje estão grisalhos e nossa amizade é a coisa mais linda. 

Bar do chorinho – Na esquina das ruas Iara com Daniel Kujawski tem um simples e pequeno bar. Dezoito anos atrás, grandes músicos resolveram, nos finais das tardes de sábado, cada qual com seu instrumento, organizar rodas de choro e samba. O boca a boca se espalhou e passei a picar cartão no pedaço. Colocaram mesas na calçada e, entre uma cerveja e outra, um tiragosto usualsalaminho e calabresa acebolada.

Não tinha garçom, a cerveja a gente buscava no balcão, só sei que em pouco tempo a música atraiu tantos frequentadores que até as calçadas de todos os lados ficaram lotadas, tiveram que contratar seis garçons. Eram tantos artistas se revezando com o nível musical cada vez mais top. Entre esses bambas estava Hamilton do Pandeiro, que se orgulhava de ter tocado com Os Originais do Samba e de ter ganhado um pandeiro do Mussum.

Pois bem, todo mundo na maior empolgação… Detalhetodos sabíamos que ele usava peruca bem afixada, quando se empolgava tocava pandeiro até nas costas, chacoalhava o corpo, dava passos de sambistas, era só alegria… À mesa havia acabado de chegar um prato cheinho de calabresa acebolada.

Hamilton deu de balançar a cabeça e numa dessas a peruca descolou, todos olharam e ela deu aquele voo rasantecaindo como uma luva no prato de calabresa acebolada. A vontade de rir era enorme, mas magoar o sambista nem pensar.

Hamilton tirou de letra a situação, deu uma geral na peruca e o samba seguiu até nem sei que hora.

Sexta conto mais.

* Cantor 

 

 

 

 

 

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