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18 de abril de 2024 | 14:26
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Cartografia e Literatura: Cartógrafos Franceses do Século XVIII

Na transição do século XVII para o século XVIII, última e primeira décadas, respectivamente, a França liderava no campo da ciência geográfica e astronômica graças ao generoso subsídio per­mitido pela realeza. Neste contexto, a nova burguesia francesa, em ascensão social, buscava por mapas de alta precisão de longitudes e de detalhes. Em assim o sendo, tais mapas lhes permitiriam maior controle da Natureza e do domínio militar e mercantil. Até então, mesmo os mais precisos, ainda sofriam de incorreções baseadas no sistema ptolomaico.

Em 1666, um renomado grupo de astrônomos, matemáticos e cartógrafos cria, em França, a Academia Real de Ciências de Paris, propondo, como meta, a revisão, correção e aperfeiçoamento das técnicas cartográficas. A primeira providência a ser tomada? Promover estudos de longitude que levassem à correção do erro ptolomaico, bem como, à invenção de novos instrumentos de me­dida, mais precisos na descrição cartográfica do mundo. Alcances? Não tardou para que uma nova e mais exata medição do arco da circunferência terrestre fosse alcançada, impulsionando definitiva­mente o avanço cartográfico no século XVIII.

Após anos de estudos e observações, Giovanni Domenico Cassini (1625-1712), astrônomo italiano, foi chamado pelo rei Luís XIV a fim de tomar parte como membro da Academia Real de Ciências de Paris. Ali, elaborou um grande mapa da superfí­cie da Lua, onde as montanhas aparecem de uma maneira quase tridimensional, bem parecido com as fotografias modernas. Esse trabalho cartográfico de notável valor estético manteve-se com um dos melhores já compilados por mais de cem anos. Por adição, também mediu a variada distância de Marte ao Sol (entre 206 e 249 milhões de quilômetros), decorrente, esta, de sua pronunciada excentricidade orbital, que também ocasiona uma sensível varia­ção da distância de Marte à Terra (entre 57 e quase 100 milhões de quilômetros).

No mais, a descoberta de uma enorme mancha oval na região tropical sul de Júpiter, denominada a Grande Mancha Vermelha, um redemoinho ciclônico capaz de engolfar com facilidade o nosso próprio planeta, e que até hoje não parou de girar na densa atmosfera do planeta gigante, bem como, a duração da rotação de Marte e a identificação de uma estreita falha entre os anéis de Sa­turno, que o dividia em duas partes (Divisão de Cassini), o torna­riam muito conhecido.

Cumpre lembrar que os quatro maiores satélites de Saturno, depois de Titã, a saber, Jápeto (1671), Rea (1672), Tétis e Dione (1684), também foram descobertos por Cassini e a utilização de outros resultados de seu trabalho por seu colaborador Ole Roemer, astrônomo dinamarquês, levou à determinação da velocidade da luz. Naturalizado francês, Cassini ficou definitivamente ligado à França, constituindo uma dinastia de quatro gerações voltada ao levantamento dos mapas topográfico da França. Guillaume De L’Isle (1675-1726), aluno de Cassini, também alcançou elevado prestígio como cartógrafo e editor de mapas graças a sua grande precisão nos perfis das terras na marcação das coordenadas. Dedi­cando especial atenção cartográfica às terras de ultramar, cenário da aventura colonial francesa, removeu os erros celestes que foram copiados de Ptolomeu, criando um novo e preciso globo celeste.

Com a mesma determinação de L’Isle, outro cartógrafo francês, D’Anville (1697-1782), publicou mais de duzentos mapas e várias edições de Atlas, dentre estes o da China (1737), no qual adaptou os levantamentos dos jesuítas. Estudando não só historiadores antigos e modernos, como viajantes, poetas, oradores e filósofos, excluiu de sua cartografia áreas desconhecidas dos continentes, optando por espaços em branco a publicação de informações duvidosas.

Em conjunto, Cassini, De L’Isle e D’Anville despiram a cartogra­fia das representações fantasiosas para a erigirem em verdadeira ciência.

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