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18 de março de 2024 | 23:24
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Cartografia e Literatura: Mapas de Napoleão e Atlas Nacionais

O século XIX, herdeiro do impulso científico promovido pela Revolução Francesa do período anterior, e alimentado pela nova consciência humana despertada por esta última, embalou uma cartografia imbuída de espírito nacionalista. Na Europa, a política de guerras e de anexações logo foi tradu­zida em mapas nacionais, os quais em muito seriam úteis nas guerras que se travariam no século XX. Na ocasião, Napoleão promoveu levantamentos e descrições os mais exatos possíveis, totalmente focados nas áreas que pre­tendia dominar e ocupar. A relevância disso? Conferir à cartografia papel de elemento indispensável na estratégia militar moderna.

Nessa mesma época, a geografia deixa de ser considerada simples ciência dos espaços, ou arte descritiva da Terra, para ser reconhecida como ciência dos fenômenos naturais e do homem. Alexander von Humboldt, geógrafo, naturalista e explorador alemão, tendo começado a viajar pelo mundo já a partir dos vinte anos, conheceu, notavelmente, a Europa e América, o Tibete e o Himalaia. A tal ponto que, na França, deu início ao conceito de meio ambiente geográfico, no qual as características da fauna e da flora de uma região estão intimamente relacionadas com a latitude, tipo de relevo e condições climáticas existentes. Em outras palavras, inaugurava a corrente de pensamento que buscava representar cartograficamente a Terra em suas dimensões e comportamento. Este feito, aliado a outros, não menos notáveis, angariando-lhe o título de fundador da moderna geografia física.

Adolf Stieler, discípulo de Humboldt, tornou-se, então, o primeiro grande cartógrafo da era mo­derna, definindo a linha cartográfica que os mapas da Alemanha seguiriam desde então: a que reunia mapas climatológicos, geológicos e hidrográficos aos que descreviam as distribuições das raças, religiões, comunicações etc. Publicando seu Hand Atlas em 1820, nele apresentou o aperfeiçoamento do sistema de representação do relevo baseado em curvas de nível. Ou seja, era a introdução de uma escala diferencial de cores que permitia com­preender as variações da altitude e do relevo com um simples olhar nas gradações coloridas.

Tão elevado nível alcan­çou a cartografia no final do século XIX que não tardou aos técnicos na ciência dos mapas acreditarem ser possí­vel traçar um mapa inter­nacional do mundo. Assim, utilizando proporções e escalas uniformes, e um sistema de sinais conven­cionais comum a todos os homens, a ideia, lançada no V Congresso Geográfico Internacional de Berna, em 1891, pelo professor vienense A. Penck, ganhou corpo. Dificuldades econômicas e técnicas surgiram, certamente. Dentre elas, a disputa entre franceses e ingleses pela escolha do primeiro meridiano, além da adoção de escalas pré-determinadas. Resolvidas com a escolha do meridiano de Greenwich como o mar­co zero do Atlas Internacional, acordou-se, também, o emprego do sistema métrico decimal e da escala 1: 1.000.000, assim como, o uso da projeção cônica de Lambert, entre os 80° e 20° nas regiões polares.

A Primeira Guerra Mundial interrompeu tal representação logo no início. E, de modo similar, quan­do os trabalhos já estavam pela metade, a Segunda Guerra fez o mesmo. Assim, em 1947, a confecção do mapa internacional do mundo se tornou objetivo primeiro da ONU, encarregada de coordenar as atividades de todas as nações participantes do projeto. A contribuição mais relevante, entretanto, veio de um organismo militar dos EUA, o Army Map Service, criado durante a Segunda Guerra Mundial, que, não só confeccionou as folhas americanas do norte como a de todos os lugares do mundo.

O progresso da aviação e da fotografia, portanto, em muito contribuindo para a configuração real do mapa da Terra. A correção das deformações ópticas de imagens aéreas chegou na metade do século XX, tornando a cartografia um trabalho cada vez mais tecnológico, fazendo da câmera fotográfica de então o principal instrumento do topógrafo para determinar a face da Terra e para a confecção das cartas cartográficas. Da segunda metade do século XX em direção ao início do século XXI, denominada Era Sideral, as imagens da Terra, enviadas pelas câmeras fotográficas dos satélites tem permitido ao homem contemplar a superfície da terra e de outros planetas com os mesmos olhos ansiosos dos cartógrafos navegantes do passado. O astronauta, portanto, é o herdeiro afortunado de toda essa saga de homens deste­midos e inteligentes, sempre em busca de retratar o espaço permissível à sobrevivência da Humanidade.

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