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29 de março de 2024 | 3:50
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CASARÕES – Uma nova cara para o Centro

Parte da história de Ri­beirão Preto está no Centro. Transformar antigos prédios em ruínas em estabeleci­mento comerciais é um dos desafios no processo de revi­talização da área. Um exem­plo viável é o Palacete Jorge Lobato, que foi restaurado e deve se transformar em um restaurante-café. O casarão Camilo de Matos tem projeto parecido, mas por enquanto as obras não começaram.

“O Centro tem impor­tância não apenas histórica e sentimental, mas também, econômica. Recuperar pré­dios históricos ajuda a valo­rizar a região e resgata não apenas as origens da cidade, mas também, reforça a sen­sação de pertencimento e ci­dadania”, prega o presidente da ACIRP – Associação Co­mercial e Industrial de Ribei­rão Preto, Dorival Balbino.

A família do empresário Carlos Eduardo Lopes é um exemplo de quem acredita nes­sa proposta. Os filhos adquiri­ram um dos prédios históricos da cidade, o Palacete Jorge Lo­bato, localizado no cruzamen­to das ruas Alvares Cabral e Florêncio de Abreu. Em pouco tempo, mesmo com entraves burocráticos, o local foi total­mente restaurado e se trans­formou nos últimos meses em abrigo para projetos culturais.

Em breve deve se trans­formar em um restaurante-café. Para isso um anexo com banheiros e dependências para funcionários, além de local para armazenamento de mantimentos está sendo construído.

“Nossa expectativa é inau­gurar em agosto. Queremos que o espaço seja um ponto de encontro e fomento da área cultural. O prédio é de 1922, ano da Semana de Arte Mo­derna, por isso esse resgate cultural. Também queremos homenagear Ribeirão Preto, por ter sido a capital mundial do café, por isso a ideia do café”, explica Carlos.

A família investiu R$ 2 mi­lhões no projeto. “[o projeto] É um sonho. Um desafio. Que­remos mostrar que investir na revitalização não é um mico. Que prédios tombados podem ser viáveis comercialmente e que eles agregam valores ao comércio”, disse.

Palacete Camilo de Mattos deve ter a mesma destinação
O palacete Camilo de Mat­tos, localizado na esquina das ruas Duque de Caxias com Ti-biriçá, em frente à praça XV de Novembro, deve seguir os mesmos caminhos do Pala­cete Jorge Lobato. Na sema­na passada o local foi aberto ao público. Visitantes da 19ª Feira Nacional do Livro pu­deram conhecer melhor o histórico edifício.

Os proprietários, os empre­sários Marcos da Cunha Mattos e Ricardo Cesar Massaro, anun­ciaram no passado o interesse em restaurar o prédio, conser­vando as características iniciais. O arquiteto Claudio Bauso, responsável pela restauração, confirmou a informação.

“O prédio está em bom es­tado de conservação. Alguns materiais estão naturalmen­te deteriorados devidos treze anos que o edifício ficou fe­chado. O prédio tem matérias nobres como mármores, ladri­lhos e vitrais que não existem mais”, explica Bauso.

Segundo o arquiteto o pro­jeto de restauro está no corpo técnico CONPPAC e deve ter o parecer do órgão na primeira semana de julho. A previsão de início das obras é para agosto, com obras emergências para proteger a casa de chuvas. Bau­so diz que não tem previsão de término das obras. “É uma obra de restauro e é criteriosa. Podem surgir questionamentos e desa­fios, mas são normais”.

Apesar das informações que o prédio poderá ser um es­tabelecimento comercial. Bau­so informou que isso não foi definido. “O projeto foi desen­volvido para restaurar a casa como ela é, ou seja, uma resi­dência. Num futuro próximo se houver algum uso, haverá um projeto complementar, seja de entretenimento, comercial ou institucional”, ressaltou.

Quanto a custo, Bauso disse que não há, porque o projeto executivo não foi de­finido. “A gente deve chegar nessa estimativa somente em setembro”, finalizou.

Restaurações não se esgo­tam nos prédios históricos


Para a ACIRP, a questão da revitalização não se esgota nos prédios históricos. Segundo Dorival Balbino, o centro tem também uma grande quanti­dade de edificações comerciais e residenciais subutilizadas ou vazias. “Inclusive algumas edi­ficações de governos, como o da Fazenda Estadual, na rua Américo Brasiliense, e o do INSS, na rua Barão do Ama­zonas”, aponta. “Para enfrentar esse processo, a ACIRP pro­pôs no Plano Diretor e nas leis complementares que haja po­líticas para a revitalização do centro expandido com regras que estimulem o retrofit e a ocupação dos imóveis”, finali­za Balbino.

Palacete Camilo de Matos, casa de prefeitos


O Palacete Camilo de Mattos foi tombado em 11 de julho de 2008 pelo Conselho Municipal de Pre­servação do Patrimônio Cultural de Ribeirão Preto (Conppac). No local viveram dois ex-prefeitos de Ribeirão Preto, Joaquim Camilo de Moraes Mattos (1892-1945), ou simplesmente Camilo de Mattos – governou a cidade entre 1929 e 1930 e teve o mandato interrompido pela revolução de 1930 –, e seu filho, Luiz Augusto Gomes de Mattos (1920-2003), o doutor Luiz Mattos, que foi prefeito -interventor da cidade entre 1945 e 1946.

Estima-se que o palacete começou a ser construído em 1921 e que ficou pronto um ano depois. Não existem informações seguras a respeito do autor do projeto, mas um dos nomes apontados é o do engenheiro-arquiteto Antônio Soares Romeo, do município de Ribeirão Preto.

O prédio é uma construção que remete à arquitetura residencial eclética burguesa do início do século 20. Além da imponência da obra, entre as suas características principais está um jardim interno pla­nejado (algo raro na época), a presença de belos vitrais de inspiração art-nouveau e o uso intenso do ferro, tanto nas grades externas quanto na porta principal, feita a partir de trabalhos artísticos desse material.

Quem foi Camilo de Mattos – Joaquim Camilo de Moraes Mattos nasceu em 1892, em Minas Gerais, e formou-se em Direito em São Paulo. Casou-se em 1919 com Maria das Dores (Sinhazinha) Gomes de Mattos, filha do coronel Joaquim da Cunha Diniz Junqueira, um dos mais importantes chefes políticos da República Velha e nome forte da elite cafeeira local. Exerceu vários cargos públicos na cidade, en­tre eles os de vereador, vice-prefeito e prefeito, entre 1929 e 1930, tendo o mandato interrompido pela Revolução de 1930. Colaborou para a fundação do Educandário Quito Junqueira e da Fundação Sinhá Junqueira. Faleceu em agosto de 1945.

Quem foi Luiz Mattos – Além de prefeito-interventor de Ribeirão Preto entre 1945 e 1946, Luiz Augus­to Gomes de Mattos, que nasceu no palacete em 1920, foi deputado estadual, presidente do Banco do Estado de São Paulo (Banespa), presidente da Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC), presidente da Viação Aérea São Paulo (Vasp) e da Companhia de Seguros do Estado de São Paulo (Cosesp). Morreu em 14 de agosto de 2003, no casarão.

Palacete Jorge Lobato, pioneiro em conceito
O Palacete Jorge Lobato estava fechado desde 1991. A revitalização foi feita em parceria com o curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Moura Lacerda.

Construído em 1922 pelo escritório de engenharia Geribelli & Quevedo, com projeto arquitetônico original de Adhemar de Moraes, o palacete, tombado em 2008 pelo Conppac. O casarão foi uma das primeiras edificações da cidade a romper com o modelo de cômodos interligados – foi o pioneiro na individualiza­ção dos espaços íntimos.

Até então, todos os cômodos de uma casa da elite cafeeira tinham duas portas, facilitando a vigilância do chefe da família sobre seus integrantes. São 650 metros quadrados de área construída com mais de 20 cômodos onde morou o engenheiro civil Jorge Lobato, a esposa Anna Junqueira e os cinco filhos do ca­sal. Os vitrais originais dos anos 1920 são uma atração à parte: nas escadas, em frente à porta principal, há um vitral com a imagem de São Jorge e, na sala de jantar, outro com imagem do Rio de Janeiro.

Na parte externa da casa, além do jardim, há uma construção que os pesquisadores acreditam ser uma capela, porões e uma garagem com quartos na parte superior onde os empregados da família moravam. O casarão, no estilo art déco (estilo artístico de caráter decorativo que surgiu na Europa, principalmente na França, na década de 1920), é considerado uma importante fonte para historiadores que pesquisam as relações familiares, sociais e entre patrões e empregados na primeira metade do século 20.

Entre seus 20 cômodos encontram-se salas de música, de visitas, de recepções (de cerca de 50 metros quadrados, com piso de mármore), de jantar e escritório, além de oito vitrais franceses. No entorno da casa principal, além da casa dos empregados, há um orquidário e um pomar. O casarão estava fechado desde 1991, quando faleceu o último morador.

Quem foi Jorge Lobato – Jorge Lobato, engenheiro civil, chegou a Ribeirão Preto em 1905. Trabalhou na Companhia Mogiana de Estrada de Ferro e lecionou no antigo Colégio do Estado (atual Otoniel Mota).

Casou-se com Anna Junqueira (filha do coronel Joaquim da Cunha Diniz Junqueira). O casal teve os filhos Maria Silvia Lobato, Laura Lobato Uchôa, Henrique Lobato Marcondes Machado, Vera Junqueira Lobato e Luiz Junqueira Lobato. Lobato foi vereador pelo Partido Republicano Paulista (PRP) em duas legislaturas (1926-1929 e 1929-1932).

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