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29 de março de 2024 | 4:52
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Cientista ribeirão-pretano é destaque internacional

Condecorado e reconhecido no mundo acadêmico, o ribeirão­-pretano, Norberto Peporine Lopes é membro da Academia Brasileira de Ciências. Autor de mais de 340 artigos científicos, o que é extremamente raro no Bra­sil – e muitos deles com impac­tos sociais –, Lopes é um jovem cientista altamente respeitado, e eleito presidente da Sociedade Brasileira de Química. O nome e trabalho de Norberto são refe­rências, mas como foi a infância do cientista? Como surgiu esse interesse pela ciência e como ele construiu esse caminho.? Norber­to contou isso ao Tribuna.

Segundo ele a principal marca da sua infância foi a curiosidade e o questionamento. “Lembro-me bem de deixar por várias vezes uma partida de futebol ou uma outra brincadeira qualquer para olhar, por exemplo, um inseto diferente movimentar-se. Lógi­co, mas, e o por que? de tantos insetos diferentes seria o passo seguinte, e isso resultou no meu primeiro insetário. Passava tar­des andando por terrenos e ma­tos procurando insetos diferentes e observando suas relações naquele micro ambiente e que alegria era ter a sorte de observar uma vespa atacando uma aranha ou ainda encontrar um pequeno animal passeando”, conta.

Com o passar dos anos pas­sou a gastar boa parte da mesa­da, obtida através do trabalho de jardineiro, para montar criações de peixes, pequenos animais e até insetos. “A curiosidade sobre como poderiam funcionar essas interações começou a ser uma pre­sença marcante na minha vida. Já no colegial comecei a prestar um pouco mais de atenção na química e na física e tentar correlacionar os conhecimentos adquiridos, nestas matérias, com o que eu gostava na biologia. As famosas “experi­ências” para as feiras de ciências eram o ponto alto, mas o que mais marcou foram as “engenhocas” que montava em casa para utilizar nos criatórios ou as soluções con­centradas de azul de metileno para tratamento de micoses para peixes de aquário, além das cobras e ou­tros animais que aprendi a embal­samar”, lembra.

E foi assim, nesse misto de curiosidade e paixão pela natureza, que começou a se envolver com algumas questões com caracterís­ticas mais políticas. Nos anos pré­-eleições diretas para presidente do Brasil, participou de grupos de discussão que culminariam na formação de um grupo ambienta­lista. “Nos meus 16 anos comecei a participar ativamente dos movi­mentos de diretas já e descobri o gosto ora doce, ora amargo do funcionamento do sistema polí­tico. Esse novo universo ajudou a criar um conflito interno, pois tudo o que mais gostava na in­fância era ligado à biologia e à química, e nas vésperas do vesti­bular entre paixões e sonhos surgia como algo místico, a sociologia. Como todo adolescente esse dile­ma tornou-se algo muito grande e essa dúvida, cruel e natural de todo vestibulando, foi resolvida graças ao lado mais marcante de minha personalidade”. Em 1986 ingressou na Faculdade de Ciências Farma­cêuticas de Ribeirão Preto.
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Na Faculdade se envolveu com vários projetos de pesquisas e teve uma oportunidade de es­tagiar na Universidade de Tübin­gen na Alemanha, após o estágio foi convidado a retornar como bolsista. “Talvez tenha sido o maior prêmio nesta etapa inicial da minha de formação”, diz.

Na Alemanha, Norberto teve a experiência de estar na cidade de Berlin, no dia da queda do muro. “Este fato histórico foi marcante e ainda lembro de cada detalhe daquele dia”.
No retorno ao Brasil e já fa­zendo mestrado, Norberto re­cebeu o convite para integrar-se a um grupo de pesquisa e tra­balhar com espécies selvagens brasileiras. Participou de outros projetos importantes.

No início do doutoramento realizou estágio do tipo “sanduí­che” nos laboratórios da Univer­sidade de Washington.

Retornando ao Brasil, traba­lhou mais em campo e realizou uma série de viagens para a Ama­zônia na busca de plantas e semen­tes para os estudos fitoquímicos e de biossíntese. “Posso dizer sem medo que essas coletas foram ver­dadeiras aventuras, a cada nova ida nós nos propúnhamos a alcançar um local mais distante, o que cul­minou com o nosso ingresso na tribo Wãiapi, bem distante da úl­tima cidade do estado do Amapá”.

Como recém doutor passou em dois processos seletivos para professor de Farmacognosia na FCF-UNESP e outro para Quí­mica Orgânica na FCFRP-USP, optou pela USP, por ser em Ri­beirão. Iniciou a carreira docente no início de 1998..

No final de 2000 apareceu a oportunidade para o pós-douto­ramento, visando implantar uma nova medotologia em produtos naturais e, em 2001, foi para a Uni­versidade de Cambridge, na In­glaterra, realizar estudos de espec­trometria de massas de produtos naturais. Norberto conquistou o respeito de demais pesquisadores ao resolver um problema. “Com­provados os resultados, as por­tas se abriram e a partir daí meu direcionamento investigativo foi aguçado e outros bons resultados levaram a produção de uma série de artigos. Devido a essa produção recebi um destaque no Departa­mento Química da Universidade de Cambridge, onde fui citado como um dos pesquisadores mais produtivos no ano”, conta.

A participação em sociedades científicas sempre foi outra carac­terística marcante de Norberto. Ocupou cargos importantes na Sociedade Brasileira de Química. Com mais de 15 anos de história de envolvimento com a SBQ foi eleito presidente em 2016 e irá assumir o cargo em maio de 2018. “Mesmo com esse forte envolvimento com a SBQ também atuo, desde a fun­dação, na Sociedade Brasileira de Espectrometria de Massas tendo ocupado o cargo de Diretor Fi­nanceiro e atualmente ocupo uma cadeira no Conselho. Finalmente em 2015 fui nomeado Fellow da Royal Society of Chemistry o que nos encheu de orgulho”.

O resultado do envolvimento com pesquisa levou na indicação de Norberto para dois prêmios nacionais importantes a Medalha de Honra da Sociedade Brasileira de Espectrometria de Massas e a de Inovação Fernando Galembeck conferida pela SBQ. Em 2016 foi indicado e escolhido para a Acade­mia Brasileira de Ciências.

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