O que restou da população civil de Severodonetsk amanheceu ainda mais acuado nesta segunda-feira, 13 de junho, quando bombardeios russos se concentraram em uma zona industrial da cidade, onde centenas de pessoas buscam abrigo. Sob fogo inimigo, as esperanças de escapar do conflito diminuíram ainda mais após uma ofensiva russa destruir uma das últimas pontes que davam acesso à vizinha Lisichansk no dia anterior, quase que completando o isolamento ucraniano no front da guerra.
A Rússia tem usado a superioridade de sua artilharia para ditar o ritmo do conflito na região de Donbas. De acordo com o governador da província de Luhansk, Serguei Haidai, os disparos estão destruindo Severodonetsk “quarteirão por quarteirão”. Cerca de 500 civis que se abrigam em uma fábrica de produtos químicos, incluindo 40 crianças, acordaram sob o estrondo das explosões, segundo o governador.
Haidai classificou a situação em Severodonetsk como “extremamente difícil” após a destruição de uma segunda ponte que ligava a cidade a Lisichansk no domingo (12). Há três semanas, uma outra ponte já havia sido destruída pelas tropas russas. Agora, há apenas um corredor de ligação entre as cidades, separadas pelo Rio Donets.
Enquanto a ofensiva russa empurra cada vez mais as tropas ucranianas para trás – o Exército da Ucrânia confirmou que foi expulso do centro de Severodonetsk e o governador afirma que 70% da cidade está dominada por combatentes leais a Moscou –, cresce o temor de que uma situação similar à da usina siderúrgica de Azovstal, em Mariupol, possa se repetir, com civis e militares sendo bombardeados de forma incessante em um cerco prolongado.
“Estamos tentando negociar um corredor humanitário para os civis, mas no momento é algo em vão”, afirmou Haidai em uma mensagem pelo Telegram. Os separatistas pró-Rússia que lutam na região afirmaram que as últimas divisões ucranianas em Severodonetsk estavam “bloqueadas”, após a destruição da última ponte. O porta-voz da República Popular de Donetsk – um dos Estados reconhecidos pela Rússia no começo da invasão – afirmou que o único caminho viável para os ucranianos na região é a rendição.
“Eles têm duas possibilidades: render-se ou morrer”, declarou Eduard Basurin, porta-voz dos separatistas. Em um discurso no domingo, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou que Severodonetsk é palco de batalhas ferozes, literalmente “por cada metro” de chão. Zelensky também acusou Moscou de utilizar jovens com pouco treinamento como “bucha de canhão” na estratégia de tomar a cidade.
A região do Donbas se tornou o epicentro da guerra nas últimas semanas, desde a vitória russa na cidade portuária de Mariupol e do sucesso ucraniano em defender posições no norte e nordeste do país, afastando os inimigos de Kiev. Uma vitória em Severodonestk e Lisichansk aproximaria a Rússia de um dos objetivos primários da invasão anunciados por Vladimir Putin em 24 de fevereiro, que era a “libertação” da região.
A conquista também abriria o caminho para que as tropas de Moscou cheguem a outra grande cidade, Kramatorsk, uma etapa importante para conquistar toda a região de fronteira, reclamada por separatistas pró-Rússia desde 2014. Um relatório de inteligência do Ministério da Defesa do Reino Unido divulgado nesta segunda-feira afirmou que operações de travessia de rios provavelmente serão fatores determinantes nos próximos meses de combate – uma vez que tanto a Rússia tem destruído infraestrutura ucraniana, como Kiev tem implodido pontes para dificultar a passagem das tropas russas.