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18 de abril de 2024 | 5:21
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Conceitos psicológicos na análise de obras de arte (3)

Por ocasião da análise do pensamento produtivo em literatura, quando os psicanalistas conseguem fazê-lo na arte, mas não na ciência e na técnica, bem como, quando os gestaltistas, ao contrário, explicam o pensamento criador na ciência, a diferença entre os aspectos racionais e irracionais subjacentes ao comportamento aparentemente normal ficam mais explícitos. Mas, ao focar a arte, os aspectos ligados à percepção, e não à arte literária, se acentuam. O responsável por isso? O fato de os gestaltistas, contrariamente aos psicanalistas, não terem reservado um lugar, entendido como reservatório de energia, para o inconsciente.

Neste contexto, ainda que um grupo de psicólogos, entre os quais, o psicólogo alemão Hans Jürgen Eysenck, acreditando que a singularidade da personalidade fosse igual a de outros objetos, e que a descrição de um indivíduo não passasse de uma peculiar combinação de características comuns a todos, negasse a necessidade de uma teoria da personalidade, esta surgiu, acentuando ser a singularidade do indivíduo, ou seja, o que o faz distinguir-se de qualquer outro modo de ser humano que não seja o seu, que permite, entre outros, a discussão de questões ainda em discussão na contemporaneidade, como, por exemplo, de a personalidade existir “no” indivíduo versus em algo que, num determinado momento, o analista consiga descrever, bem como, de ser estável no tempo e no espaço. No primeiro caso, enquanto para uns a “unidade’ do indivíduo é algo a se buscar, para outros, vários sistemas personalísticos podem existir, desde que suas descrições sejam úteis cientificamente. No segundo, colocada a relação organismo-ambiente em seu extremo, o conceito personalidade orientaria a concepção de que esta, enquanto conjunto de características individuais, independe do contexto em que o indivíduo está inserido.

De modo geral, especialistas esclarecem que, com exceção das personalidades patológicas, encerradas em seus próprios mundos, e dos despersonalizados, que refletem as condições em que se encontram, eliminar a importância do contexto na personalidade, ocasiona uma focalização redutora da mesma, que desconsidera, por exemplo, indivíduos capazes de ajustar-se, ou reagir de modo realista, sem serem alterados pela realidade do ambiente ao qual se inserem, existem. Também, que “personalidade é conceito que concebe “uma unidade que se manifesta em todos os aspectos do comportamento e da experiência de um indivíduo… e que nos permite identificar e descrever uma pessoa, entre todas as outras”. O aperfeiçoamento das descrições de personalidade, segundo estudiosos, bebe, muitas vezes, em descrições literárias ou de pessoas que, ainda não descritas por especialistas da psicologia, em muito acrescem valor e conteúdo aos estudos destes últimos. Contemporaneamente, a hereditariedade tem sido sobreposta à experiência passada ou momentânea, fazendo com que o comportamento seja entendido como resultante da interação com o ambiente. Skinner e Watson, psicólogos comportamentistas, que tendem a explicar todo o comportamento através da aprendizagem, sendo exemplos disso.

Considerando que o comportamento resulta dessa interação organismo-ambiente, especialistas entendem que a psicologia atual deve ter, portanto, recursos para explicar duas formas de comportamento que interessam diretamente à literatura, que são, o pensamento criador e a leitura de obra literária. Examinar a adequação da psicologia para explicar esses dois comportamentos é lançar luz sobre como se realiza, e concretiza, a tentativa de tanto o psicólogo quanto o ficcionista apresentar a descrição convincente de uma pessoa e de um personagem.

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