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29 de março de 2024 | 10:03
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COVID-19 e a Saúde Mental (19): Perturbações do Sono, Ansiedade e Depressão no México

No México, as condições necessárias para declarar a emergência sanitária, em relação à Covid-19, foram alcançadas na última semana de março de 2020. Nesta ocasião, a maioria da população latino-americana já estava familiarizada com o alto nível de pessoas infectadas ou falecidas em outros países. De tal forma que, as restrições sanitárias recomendadas pelo governo foram prontamente seguidas. Como consequência, a mobilidade diminuiu significativamente, e, quanto às condições de isolamento social, refletiam uma preo­cupação extrema da população considerando a saúde e a segurança. Logo, tal como ocorreu em inúmeros outros países da América Latina e do mundo, grande número de famílias começou a experenciar condições estressantes em suas vidas diárias. A falta de interações sociais, bem como, as restrições da mobilidade humana, obrigações de man­ter interações contínuas com membros familiares e as novas condições de trabalho e na escola podem ter influenciado a modificação do ritmo noral do sono, além de exacerbar os sintomas de ansiedade e depressão.

Em adição, um fator que emergiu durante a quarentena foi o aumento da exposição luminosa noturna pelo uso regular e contínuo de telas brilhantes, como as dos celulares, televisão e tablet, os quais podem, de certa forma, suprimir a liberação da melatonina, resultando em perturbações maiores dos ritmos circadianos e alterações do sono. Assim considerando, conhecendo os efeitos da quarentena sobre o sono e a saúde mental da população mundial, é essencial, para delinear intervenções psicológicas e sociais durante, e após, a corrente pandemia. Cenário, o qual, levou Terán Pérez e equipe (International Journal of Environmental Research and Public Health, 2021: 18) a realizarem um estudo com o propósito de explorar a presença de perturbações de sono e saúde mental na população mexicana enquanto vivendo em condições de quarentena para prevenir as infecções da Covid-19.

Para isso, os autores receberam um total de 1230 questionários preenchidos por participantes que responderam aos itens referentes às desordens de sono. Do total, 812 responderam aos itens referentes à ansiedade e 814 responderam aos questionários acerca da depressão. Tais questionários foram distribuídos, a partir do Google Forms, entre 28 de março a 26 de maio de 2020, constando de: Questionário sobre informações sóciodemograficas, incluindo idade, sexo, produção e lugar de residência; Questionário sobre o índice de qualidade de sono, composto de 19 itens avaliando o esquema, a latência e a frequência do sono, além da duração do despertar a partir do sono e os sinais noturnos que sugerem desordens de sono. Para mensurar ansiedade, os autores usaram o conhecido questionário denominado Escala de Ansiedade Generalizada, composta por sete itens, concernentes à ansiedade avaliada nas duas últimas sema­nas. Finalmente, foi usado um questionário denominado Saúde do Paciente, que avaliava a presença de sintomas depressivos durante as duas últimas semanas. Com 9 itens específicos, este questionário poderia indicar sinais de depressão que pudessem sugerir um tratamento, ou indicação, psicológico ou farmacológico.

Em relação aos dados obtidos, especificamente quanto às desordens de sono, os dados revelaram que alta porcentagem da amostra registraram uma latência de sono maior que 15 minutos. A duração do sono, para a maioria dos participantes, foi de menos que 7 horas. A qualidade subjetiva do sono não se mostrou muito diferente entre as categorias qualitativas utilizadas para comparar os participantes. A eficiência do sono foi registrada principalmente abaixo de 85%. Alta porcentagem da presença de sinais indicando presença de desordens de sono e baixa porcentagem de ausência de desordens do sono foram também observadas. Finalmente, mais de 80% dos participantes registraram disfun­ções diurnas, ou seja, sono durante o dia. Considerando as diferenças entre os sexos, os dados também foram interessantes: a latência do sono foi diferente entre os sexos, com as mulheres mostrando latências muito maiores do que os homens. A duração do sono também foi diferente para ambos os sexos: alta porcentagem de mulheres dormia menos que cinco horas. Considerando a qualidade do sono, alta proporção de mulheres (55%) registraram quer a qualidade do sono foi ruim ou muito ruim enquanto os homens, nestes mesmos parâmetros, mostraram uma proporção menor, 37,9%. A eficiência do sono mostrou uma tendência similar e as diferenças ocorreram apenas nos valores extremos. A porcentagem das mulheres com eficiência no sono, de 85 ou mais, foi menor quando comparada com a dos homens. A presença de desordens de sono foi também diferente entre os sexos, haja vista que uma alta proporção de mulheres experenciavam esses problemas uma ou duas vezes na semana. Diferenças também foram encontradas entre os sexos considerando as disfunções diurnas, com alta proporção de mulheres sendo afetadas. As mulheres mais jovens foram, também, mais prováveis de serem afetadas pelo isolamento social.

Considerando a ansiedade, 34,8% das mulheres registraram sintomas leves, 18,3% moderado e 18% severo. No caso dos homens, 38,1% registraram sintomas leves, 16,9% moderados e 19% severos. Não obstante, não houve diferença no sexo e idades nos escores de ansiedade. Considerando a depressão, 24,5% das mulheres e 18,6% dos homens registraram sintomas de depressão moderadamente severo ou severo. Também, as mulheres mais jovens registraram alta porcentagem de sintomas depressivos (26,4%) do que os homens mais velhos (14,7%). Por fim, as mulheres registraram alta porcentagem do uso de telas brilhantes em média de 10h diárias (17,4%), além de um tempo de uso das telas mais elevado do que os homens (13,4%). Tomados juntos, esses dados, na população mexicana, sugerem que condições estressantes, relacionadas ao isolamento social, como medida para conter a disseminação da pandemia, pode induzir perturbações mentais, além de piorar a qualidade e eficiência do sono.

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