Adalberto Luque
De acordo com os números oficiais, divulgados pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), Ribeirão Preto tem motivos para seguir em pânico com os casos de violência que ocorrem todos os dias. A cidade está sendo recontada pelo Censo Demográfico feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas os cerca de 720 mil habitantes, segundo estimativa do órgão, sofrem com seis furtos ou roubos de veículos por dia.
São 30 casos de furto e roubo em geral, registrados todos os dias na cidade. Números sombrios como o de um estupro a cada três dias. Foram 57 estupros no primeiro semestre de 2022, contra 34 no primeiro semestre de 2019. A SSP considera somente esta comparação, a do ano pré-período pandêmico, para estabelecer os parâmetros.
Ainda assim, 57 mulheres – adultas, adolescentes e vulneráveis – foram violadas sexualmente neste primeiro semestre. E outras três foram vítimas de feminicídio na cidade. Os casos de feminicídio, de acordo com as estatísticas, são demonstrados junto aos casos de homicídios. Assim, nos primeiros 181 dias do ano de 2022, 21 pessoas perderam a vida em Ribeirão Preto. Um homicídio a cada oito dias.
Os problemas se agravam quando é observada, por exemplo, uma queda na recuperação de veículos furtados e roubados. No primeiro semestre de 2019, 48% dos veículos furtados ou roubados no primeiro semestre foram recuperados. Havia o registro de 1.240 furtos ou roubos de veículos e 596 foram recuperados.
Em 2022, esses números caíram. Apenas 32,5% dos veículos furtados ou roubados na cidade foram recuperados. Dos 1.064 veículos tirados de seus donos nos primeiros seis meses deste ano, apenas 346 foram recuperados. Vale ressaltar que o número de recuperações não significa exatamente que os carros furtados ou roubados no ano foram encontrados neste mesmo ano. Veículos que foram levados há anos e só agora encontrados. É apenas um parâmetro em relação à produtividade.
Mudança na vizinhança
Até bem pouco tempo, Ribeirão Preto ostentava seus recantos de tranquilidade. Em pleno século XXI, ainda era possível ver a tradicional reunião de vizinhos ao final do dia, que traziam suas cadeiras para a calçada e ficavam conversando por incontáveis minutos.
Um desses recantos era o bairro dos Campos Elíseos. Essa situação, todavia, não existe mais. Nos Campos Elíseos, os moradores vivem com medo. Basta passar pelas ruas do tradicional bairro, como rua XI de Agosto e rua Tamandaré e ver como o visual mudou.
São quarteirões seguidos com as casas e estabelecimentos comerciais cercados por concertinas, cerca elétrica, muros com lança ou cacos de vidro, câmeras de monitoramento e outros equipamentos e aparatos para tentar conter a ação dos criminosos.
Mesmo com todo esse aparato, o bairro foi o que mais casos de crimes contra o patrimônio registrou. De acordo com os números da SSP, em junho foram registrados 366 casos de furto, contra 125 no mês anterior. Um avanço de 192,8%. Foram 12 furtos por dia somente nos Campos Elíseos. No primeiro semestre de 2022 foram 997 casos.
Diretores do Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, Guatapará e Pradópolis, Cleusa Maria da Silva Oliveira e Aparecido Cândido de Souza disseram que três veículos de funcionários foram furtados há pouco tempo. Um deles, na porta do Palácio dos Trabalhadores, a sede do Sindicato, que fica na rua XI de Agosto.
Efetivo
Grande parte dos furtos é de objetos costumeiramente usados para fazer dinheiro rápido, vendendo para receptador. Furtos cometidos para, na maioria dos casos, conseguir alguns trocados e sustentar o vício em drogas e álcool.
Pela cidade são dezenas de denúncias de semáforo sem funcionamento por conta do furto de fios. E os casos crescem sem que haja solução dos furtos anteriores.
A falta de policiais pode ser um dos problemas para conter essa situação. O delegado Alexandre Zakir, diretor do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, afirma que o déficit na Polícia Civil hoje é o maior da história, superando 15 mil policiais, índice que certamente prejudica o trabalho de segurança pública, apesar dos enormes esforços dos policiais para oferecer um atendimento de qualidade à população.
Mas o delegado avalia que medir a eficiência do trabalho policial tendo como parâmetro de referência a produtividade de registro de crimes é um equívoco do Estado, visto que o objetivo de uma estratégia de policiamento eficiente é exatamente a redução dos crimes cometidos.
“Para estabelecer corretamente uma avaliação do trabalho da Polícia Civil, é preciso verificar outros critérios, como a conclusão de inquéritos policiais em andamento e o índice de esclarecimento de crimes. Uma simples queda na produtividade de registro de crimes pode ser um resultado positivo, decorrente da redução da criminalidade; um número fantasioso, distorcido pela quarentena forçada pela pandemia; ou resultado da falta de efetivo tanto da Polícia Militar quanto da Civil”, conclui Zakir.
SSP destaca índices em queda
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) destacou os índices em queda nas estatísticas produzidas pela pasta e listou muitos investimentos em segurança feitos na cidade de Ribeirão Preto, dentre os quais, a criação da Divisão Especial de Investigações Criminais (DEIC), ligada à Delegacia Seccional de Polícia, e o Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP), da Polícia Militar.
“A Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo investe continuamente na capacitação de seus policiais, em tecnologia e equipamentos para combater a criminalidade e proteger o cidadão. Desde 2019, mais de R$ 50,4 milhões já foram investidos pela atual gestão na modernização da estrutura policial na região de Ribeirão Preto. A referida passou a contar com um Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP) e uma DEIC, criados em 2019 e 2020 respectivamente. A região contempla a instalação de um Copom, que está em processo de análise fiscal. O investimento contou também com a entrega de 539 viaturas à Polícia Militar, Polícia Civil e Superintendência da Polícia Técnica Científica (SPTC) e a contratação de mais 438 policiais.
O trabalho da Polícia Civil em Ribeirão Preto resultou, na comparação do primeiro semestre deste ano com o mesmo período de 2019 (último antes da pandemia), queda de 26,5% nos casos de roubos em geral, e 11,1% nos furtos. Além disso, houve um aumento de 65,7% nos esclarecimentos de crimes. A SSP informa que é sensível à necessidade de reforço no efetivo policial e para isso autorizou a realização de concursos visando a reposição da categoria.”