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28 de março de 2024 | 21:27
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Criminalidade cresce em Ribeirão

Adalberto Luque

De acordo com os núme­ros oficiais, divulgados pela Secretaria da Segurança Pú­blica (SSP), Ribeirão Preto tem motivos para seguir em pânico com os casos de violência que ocorrem todos os dias. A cida­de está sendo recontada pelo Censo Demográfico feito pelo Instituto Brasileiro de Geogra­fia e Estatística (IBGE). Mas os cerca de 720 mil habitantes, se­gundo estimativa do órgão, so­frem com seis furtos ou roubos de veículos por dia.

São 30 casos de furto e rou­bo em geral, registrados todos os dias na cidade. Números sombrios como o de um estu­pro a cada três dias. Foram 57 estupros no primeiro semestre de 2022, contra 34 no primei­ro semestre de 2019. A SSP considera somente esta com­paração, a do ano pré-período pandêmico, para estabelecer os parâmetros.

Paisagem mudou e nem de longe lembra os tempos de conversas na calçada à noite

Ainda assim, 57 mulhe­res – adultas, adolescentes e vulneráveis – foram violadas sexualmente neste primeiro semestre. E outras três foram vítimas de feminicídio na ci­dade. Os casos de feminicídio, de acordo com as estatísticas, são demonstrados junto aos casos de homicídios. Assim, nos primeiros 181 dias do ano de 2022, 21 pessoas perderam a vida em Ribeirão Preto. Um homicídio a cada oito dias.

Os problemas se agra­vam quando é observada, por exemplo, uma queda na recu­peração de veículos furtados e roubados. No primeiro semes­tre de 2019, 48% dos veículos furtados ou roubados no pri­meiro semestre foram recu­perados. Havia o registro de 1.240 furtos ou roubos de veí­culos e 596 foram recuperados.

Em 2022, esses números caíram. Apenas 32,5% dos ve­ículos furtados ou roubados na cidade foram recuperados. Dos 1.064 veículos tirados de seus donos nos primeiros seis meses deste ano, apenas 346 foram recuperados. Vale res­saltar que o número de recu­perações não significa exata­mente que os carros furtados ou roubados no ano foram encontrados neste mesmo ano. Veículos que foram levados há anos e só agora encontrados. É apenas um parâmetro em rela­ção à produtividade.

Mudança na vizinhança
Até bem pouco tempo, Ribeirão Preto ostentava seus recantos de tranquilidade. Em pleno século XXI, ainda era possível ver a tradicional reunião de vizinhos ao final do dia, que traziam suas ca­deiras para a calçada e fica­vam conversando por incon­táveis minutos.

Um desses recantos era o bairro dos Campos Elíseos. Essa situação, todavia, não existe mais. Nos Campos Elíseos, os moradores vivem com medo. Basta passar pe­las ruas do tradicional bairro, como rua XI de Agosto e rua Tamandaré e ver como o vi­sual mudou.

São quarteirões seguidos com as casas e estabelecimen­tos comerciais cercados por concertinas, cerca elétrica, muros com lança ou cacos de vidro, câmeras de monitora­mento e outros equipamentos e aparatos para tentar conter a ação dos criminosos.

Mesmo com todo esse apa­rato, o bairro foi o que mais casos de crimes contra o pa­trimônio registrou. De acordo com os números da SSP, em junho foram registrados 366 casos de furto, contra 125 no mês anterior. Um avanço de 192,8%. Foram 12 furtos por dia somente nos Campos Elí­seos. No primeiro semestre de 2022 foram 997 casos.

Diretores do Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, Guatapará e Pradópolis, Cleusa Maria da Silva Oliveira e Aparecido Cândido de Souza disseram que três veículos de funcioná­rios foram furtados há pouco tempo. Um deles, na porta do Palácio dos Trabalhadores, a sede do Sindicato, que fica na rua XI de Agosto.

Efetivo
Grande parte dos furtos é de objetos costumeiramente usados para fazer dinheiro rá­pido, vendendo para recepta­dor. Furtos cometidos para, na maioria dos casos, conseguir alguns trocados e sustentar o vício em drogas e álcool.

Pela cidade são dezenas de denúncias de semáforo sem funcionamento por conta do furto de fios. E os casos cres­cem sem que haja solução dos furtos anteriores.

A falta de policiais pode ser um dos problemas para conter essa situação. O dele­gado Alexandre Zakir, diretor do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, afirma que o déficit na Polícia Civil hoje é o maior da história, superando 15 mil policiais, índice que certa­mente prejudica o trabalho de segurança pública, apesar dos enormes esforços dos policiais para oferecer um atendimen­to de qualidade à população.

Delegado Zakir, do Sindpesp: “déficit de 15 mil policiais civis pre­judica o trabalho de segurança pública, apesar dos esforços dos policiais para oferecer atendimento de qualidade à população”

Mas o delegado avalia que medir a eficiência do trabalho policial tendo como parâme­tro de referência a produtivi­dade de registro de crimes é um equívoco do Estado, visto que o objetivo de uma estra­tégia de policiamento eficien­te é exatamente a redução dos crimes cometidos.

“Para estabelecer correta­mente uma avaliação do traba­lho da Polícia Civil, é preciso verificar outros critérios, como a conclusão de inquéritos poli­ciais em andamento e o índice de esclarecimento de crimes. Uma simples queda na produ­tividade de registro de crimes pode ser um resultado posi­tivo, decorrente da redução da criminalidade; um núme­ro fantasioso, distorcido pela quarentena forçada pela pan­demia; ou resultado da falta de efetivo tanto da Polícia Militar quanto da Civil”, conclui Zakir.

Aparecido e Cleusa: três veículos de funcionários furtados em frente ao Palácio dos Trabalhadores

SSP destaca índices em queda
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) destacou os índices em queda nas estatísticas produ­zidas pela pasta e listou muitos investimentos em segurança feitos na cidade de Ribeirão Preto, dentre os quais, a criação da Divisão Especial de Investigações Criminais (DEIC), ligada à Delegacia Seccional de Polícia, e o Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP), da Polícia Militar.

“A Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo investe continuamente na capacitação de seus policiais, em tecnologia e equipamentos para combater a criminalidade e proteger o cidadão. Desde 2019, mais de R$ 50,4 milhões já foram investidos pela atual gestão na modernização da estrutura policial na região de Ribeirão Preto. A referida passou a contar com um Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP) e uma DEIC, criados em 2019 e 2020 respectivamente. A região contempla a instalação de um Copom, que está em processo de análise fiscal. O investimento contou também com a entrega de 539 viaturas à Polícia Militar, Polícia Civil e Superintendência da Polícia Técnica Científica (SPTC) e a contra­tação de mais 438 policiais.

O trabalho da Polícia Civil em Ribeirão Preto resultou, na comparação do primeiro semestre deste ano com o mesmo período de 2019 (último antes da pandemia), queda de 26,5% nos casos de roubos em geral, e 11,1% nos furtos. Além disso, houve um aumento de 65,7% nos esclarecimentos de crimes. A SSP informa que é sensível à necessidade de reforço no efetivo policial e para isso autorizou a realização de concursos visando a reposição da categoria.”

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