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19 de abril de 2024 | 23:20
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Dárcy Vera é alvo de nova denúncia

O juiz da 4ª Vara Criminal de Ribeirão Preto e responsá­vel pelas ações penais da Ope­ração Sevandija, Lúcio Alberto Enéas da Silva Ferreira, acatou denúncia de lavagem de di­nheiro feita pelos promotores do Grupo Especial de Repres­são ao Crime Organizado (Ga­eco) contra a ex-prefeita Dár­cy Vera (sem partido) e seu ex-marido, Mandrison Félix de Almeida Cerqueira, além do ex-secretário municipal da Administração, Marco Antô­nio dos Santos.

Eles são acusados de usar R$ 1,6 milhão dos R$ 45 mi­lhões supostamente desvia­dos da prefeitura na ação dos honorários advocatícios. O montante seria parte da pro­pina de R$ 7 milhões que Dárcy Vera teria recebido, segundo acusação feita pelo ex-presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Ri­beirão Preto (SSM/RP), Wag­ner de Souza Rodrigues, no acordo de delação premiada que fechou com o Gaeco.

De acordo com o braço do Ministério Público Estadual (MPE), os três denunciados realizaram movimentações fi­nanceiras que somam R$ 1,6 milhão para esconder a ori­gem ilícita de parte dos R$ 45 milhões desviados dos cofres públicos na chamada “fraude dos honorários”. A denúncia é assinada pelos promotores Leonardo Romanelli e Walter Manoel Alcausa Lopes.

Segundo o relatório do Gaeco, o casal investiu R$ 533.758,34 utilizados na re­forma da casa da ex-prefeita, na Ribeirânia, bairro nobre na Zona Leste de Ribeirão Preto. Também encontraram che­ques de R$ 140 mil usados no pagamento de um advogado particular de Dárcy Vera, in­termediado por Marco Antô­nio dos Santos, além de cré­ditos fracionados acima de R$ 1 milhão que movimen­taram cinco contas bancárias da ex-prefeita e sete contas do ex-marido dela no mesmo período em que as fraudes foram apuradas pela força­-tarefa formada também pela Polícia Federal.

Ao aceitar a denúncia dos promotores, o juiz Lúcio Al­berto Enéas da Silva Ferrei­ra determinou o bloqueio da casa da ex-prefeita, além de imóveis, veículos e ações de Mandrison Felix de Almeida. Como medidas cautelares, o magistrado também determi­nou que o ex-marido de Dárcy Vera entregue seu passaporte dentro de 24 horas, fique proi­bido de deixar a cidade e com­pareça à Justiça de Ribeirão Preto quando chamado.

A defesa da ex-prefeita infor­mou que ainda não teve acesso à denúncia e não quis comentar o caso. O Tribuna não conseguiu localizar as defesas de Man­drison de Almeida e de Marco Antônio dos Santos, mas eles e Dárcy Vera sempre negaram a prática de atos ilícitos e dizem que vão provar inocência.

O Gaeco analisou as movi­mentações financeiras da ex­-prefeita no mesmo período em que as fraudes foram apontadas pela Operação Sevandija e iden­tificou manobras que, de acordo com os promotores, foram ado­tadas para despistar órgãos de inteligência financeira como o então denominado Conselho de Controle de Atividades Finan­ceiras (Coaf). Segundo a denún­cia, entre 2014 e 2016, ainda no Palácio Rio Branco, Dárcy Vera gastou R$ 533.758,34 na refor­ma estrutural e estética de sua casa de 535 metros quadrados no bairro Ribeirânia.

Os promotores apontam que todos os serviços e mate­riais para refazer fachada e suí­te, além da construção de uma nova área de lazer, com nova cozinha e piscina, substituição de pisos e instalação de armá­rios embutidos, foram pagos exclusivamente em dinheiro, em quantias fracionadas, sem registro fiscal e contábil, e al­gumas vezes na sede do então PSD, com o objetivo de ocultar a fonte dos recursos, a propina paga na fraude dos honorários.

O pagamento em espécie, de acordo com o Gaeco, era também a modalidade prefe­rencial de propina repassada a Dárcy Vera entre os envolvi­dos na fraude dos honorários. Em outra frente de lavagem de dinheiro, o MPE também denuncia o pagamento de R$ 140 mil em honorários devi­dos a um advogado particular que atuou em pelo menos 75 ações da ex-prefeita. Os paga­mentos teriam sido feitos nos dias 22 de novembro de 2013 e 10 de janeiro de 2014 por três cheques entregues pelo ex-se­cretário Marco Antônio dos Santos, mas em nome do es­critório de advocacia de Maria Zuely Alves Librandi, ex-advo­gada do SSM/RP.

O Gaeco também identi­ficou ainda mais de R$ 1 mi­lhão em depósitos fracionados e transferências que serviram para despistar as autoridades so­bre a origem ilícita do dinheiro. Desse montante, R$ 190.336,88 foram de 110 depósitos feitos entre março de 2013 a agosto de 2016 em cinco contas ban­cárias diferentes da ex-prefeita, em uma técnica chamada pelos investigadores de smurfing ou estruturação, e que evitavam que valores iguais ou superiores a R$ 50 mil fossem identificados e despertassem suspeitas do Coaf.

Utilizando a mesma estraté­gia, de acordo com o MP, outros R$ 810.865,49 em 210 depósitos movimentaram sete contas ban­cárias de Mandrison de Almeida entre janeiro de 2013 e 2016. “As datas dos depósitos remetem ao período em que a então espo­sa de Mandrison Cerqueira, como prefeita municipal de Ribeirão Preto/SP, protagoni­zava e comandava os maiores esquemas de desvios e corrup­ção da história política da cida­de”, afirma o Gaeco.


Sevandija: a ação dos honorários advocatícios
A ex-prefeita Dárcy Vera (sem partido) é acusada de ser a chefe do suposto esquema que teria desviado R$ 245 milhões dos cofres públicos municipais em três frentes de investiação. A frau­de dos honorários advocatícios envolve uma ação de reposição de perdas inflacionárias dos ser­vidores municipais. Seis pessoas já foram condenadas nesta ação, inclusive a ex-chefe do Executivo e o ex-secretário municipal da Administração, Marco Antônio dos Santos – ambos receberam pena de 18 anos, nove meses, dez dias de prisão e 88 dias-multa. O Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Orgnaizado (Gaeco) do Ministério Público Estadual (MPE) diz que do total desviado dois cofres públicos, cerca de R$ 45,5 milhões são da ação dos honorários advocatícios. Segundo as denúncias, a prática criminosa ocorreu a partir do pagamento indevido de custas advocatícias à ex-advogada do Sindicato dos Servidores Muni­cipais de Ribeirão Preto (SSM/ RP), Maria Zuely Alves Librandi, no “acordo dos 28%”, ação movida pelos funcionários públicos em 1997 para reivindicar perdas salariais do Plano Collor. Além de Dárcy Vera e Marco Antônio dos Santos, Wagner de Souza Rodrigues, ex-presidente do SSM/RP, que fechou acordo de delação premiada, mas está preso acusado de ter omitido patrimô­nio, também foi condenado a pena de onze anos em regime domici­liar pelos crimes de associação criminosa e peculato. Maria Zuely e Sandro Rovani, ex-advogados do sindicato, e André Soares Hentz, que trabalhava para ambos, pegaram 14 anos e oito meses de reclusão cada – ela cumpre prisão domiciliar por causa de problemas de saúde. Em sua delação, Rodrigues disse que além dos R$ 7 milhões supostamente pagos à ex-prefeita Dárcy Vera – presa desde maio de 2017 –, Maria Zuely teria repas­sado R$ 11 milhões ao sindicato (por meio de Rovani, que dividiria o montante com o delator), mais R$ 11 milhões iriam para o advo­gado André Soares Hentz e R$ 2 milhões para o ex-secretário da Administração, Marco Antônio dos Santos (ele e Rovani estão presos em Tremembé). O ex-sindicalista admite ter rece­bido R$ 1,2 milhão. Todos foram condenados por organização criminosa e peculato, mas o MPE recorreu para que os réus tenham as penas ampliadas pelo crime de corrupção ativa e passiva. Todos negam a prática de crimes e dizem que vão provar inocência. Três anos após a primeira fase da Sevandija, deflagrada em 1º de setembro de 2016, o Gaeco informou que um total de R$ 192 milhões em bens foram bloquea­dos dos acusados de participação nas três diferentes frentes de corrupção atribuídas a agentes públicos na gestão de Dárcy Vera (2009-2016). Segundo números recém-divul­gados pelo Ministério Público, o valor representa 75% dos contratos fraudados – que nas contas atuais do MPE somam R$ 256 milhões – e 88% do que chegou a sair dos cofres munici­pais, R$ 216 milhões. As outras duas ações da Ope­ração Sevandija envolvem a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Ribeirão Preto (Coderp) – 21 réus já foram condenados, entre eles nove ex-vereadores, ex-secretários e ex-superintendentes, inclusive Marco Antônio dos Santos e o advogado Sandro Rovani – e o Departamento de Água e Esgo­tos (Daerp). Nove acusados são réus nesta ação.

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