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19 de abril de 2024 | 1:55
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Política

Dirigentes petistas falam em ‘traição’

O ex-ministro Antônio Pa­locci, homem forte dos gover­nos do PT e fundador do parti­do, enviou nesta terça-feira, 26, à senadora Gleisi Hoffmann, pre­sidente da legenda, uma carta na qual oferece sua desfiliação e faz um duro relato pessoal, em tom emotivo, sobre o “acúmulo de eventos de corrupção” nos go­vernos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Em pouco mais de três pá­ginas, Palocci provoca o que foi descrito por um alto dirigente petista como uma “hecatombe” ao dizer que viu Lula se disso­ciar do “menino retirante” e “su­cumbir ao pior da política”.

Ele conta detalhes sobre suposto pedido de propinas à Odebrecht na biblioteca do Palácio da Alvorada, compara o PT a uma “seita” submetida à “autoproclamação do ‘homem mais honesto do País'” e suge­re que o ex-presidente tenta transferir a responsabilidade por ilegalidades à ex-primei­ra-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro. O ex-ministro diz ainda que Dilma destruiu programas sociais e a econo­mia e afirma que o PT precisa fazer um acordo de leniência se quiser se reconstruir.

Ao final, Palocci coloca nas mãos de Gleisi a decisão sobre sua desfiliação do partido. Na semana passada, o PT de Ribeirão Preto, pressionado pela Direção Nacio­nal, abriu o processo de expulsão de Palocci. Na sexta-feira passada, dia 22, o órgão máximo do par­tido decidiu suspendê-lo proviso­riamente por 60 dias.

Na carta, Palocci acusa o PT de só punir quem ataca o partido e seu líder máximo e de ignorar denúncias de corrupção. Nes­ta terça-feira, 26, o ex-ministro completou exatamente um ano de cadeia, em Curitiba, onde está preso preventivamente na Opera­ção Lava Jato. No texto ele confir­ma que negocia um acordo de de­lação premiada com o Ministério Público Federal (MPF).

Segundo a assessoria do ex­-presidente, Palocci voltou a di­zer “mentiras” contra Lula com o objetivo de fechar uma cola­boração. Gleisi respondeu com uma nota dura, na qual também acusa o ex-ministro de mentir para se livrar da condenação de 12 anos e dois meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. “Política e moral­mente, Palocci já está fora do PT”, diz a nota da senadora.

A presidente do PT também questionou a credibilidade de Pa­locci alegando que ele diz o con­trário do que dizia à Justiça um ano atrás com o objetivo de fechar delação. “Em qual Palocci se deve acreditar: no que diz ter mentido antes ou no que mudou de versão agora para se salvar?”, diz a nota.

A presidente cassada Dilma Rousseff reafirmou que Paloc­ci “falta com a verdade” quando aponta sua participação em “su­postas reuniões para tratar de facilidades” à Odebrecht. O ex­-presidente da Petrobras José Ser­gio Gabrielli, também citado pelo ex-ministro, não foi localizado.

‘Tiro no pé’– Outros diri­gentes, parlamentares e ex-in­tegrantes dos governos petistas evitaram comentar as novas acu­sações de Palocci. Sob a condição de anonimato, no entanto, mui­tos admitem que as punições in­ternas ao ex-ministro foram um “tiro no pé”, uma vez que deram a Palocci mais um palco para disparar contra Lula e o partido. Quase todos demonstraram in­dignação com o que consideram uma “traição” do ex-ministro.

Para parte dos líderes petis­tas, a carta de Palocci é mais um elemento a dificultar a participa­ção de Lula na eleição de 2018. Alguns descreveram o ataque do ex-ministro como o mais duro já sofrido pelo partido justamen­te por ter vindo de um de seus principais quadros.

Perícias – O juiz federal Sergio Moro autorizou nesta quarta-feira (27) a realização de perícias no arquivo “Programa Especial Italiano” da Odebrecht, que faz referência a recursos su­postamente repassados de for­ma ilegal ao ex-ministro Anto­nio Palocci para abastecer o PT e cobrir gastos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A perícia, solicitada pela de­fesa de Lula, será feita pela Polícia Federal com o objetivo de identi­ficar de qual computador e a que data e horário foram feitas alte­rações no arquivo eletrônico. O trabalho poderá ser acompanha­do poderá ser acompanhado por assistentes técnicos indicados pela defesa e também pelo MPF. Não há data para que a Polícia Federal apresente o resultado.

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