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19 de abril de 2024 | 22:14
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‘É Tudo Verdade’ online

Por Rodrigo Fonseca, especial para o Estadão

O Festival É Tudo Verdade chega à sua 26ª edição, marcada de 8 a 18 de abril, e lança o perfume da resiliência contra golpes de Estado, regimes de opressão, violências de gênero e, sobretudo, a covid-19, apostando numa série de filmes ritmados pelo triste batuque da pandemia, em uma seleção de 69 produções egressas de 23 países. O Karaokê de Isadora, de Thiago B. Mendonça, é um dos títulos com registros da quarentena, assim como (o aguardado) 8Sob Total Controle (Totally Under Control), de Alex Gibney, Ophelia Harutyunyan e Suzanne Hillinger, e Paraíso (Paradise), de Sérgio Tréfaut.

Mas as agonias do coronavírus são apenas parte do repertório de assuntos urgentes repercutidos pela curadoria, organizada sob a batuta de Amir Labaki para ocorrer online, com a mesma eficiência vivenciada em 2020. “Todos temos saudades do festival presencial, mas uma lição importante do digital é preservar esse caráter híbrido de manter o que acontece em salas também no ambiente online”, disse ele, em entrevista coletiva via Zoom. “Como é muito ágil, o documentário respondeu formalmente ao que está acontecendo à nossa volta. O que a gente buscou foi trazer para a seleção quem tratou a pandemia, formalmente, com frescor, em seu registro.”

Do Brasil, há o aguardado Alvorada, que marca o retorno de Anna Muylaert (cineasta de Que Horas Ela Volta?) ao cenário dos grandes festivais, após um hiato de cinco anos. Ela regressa em parceria com Lo Politi (de Jonas) relembrando o cotidiano de Dilma Rousseff nas franjas do impeachment. Ainda inéditos de Eryk Rocha, Vincent Carelli, Ricardo Calil e Joel Pizzini na seleção de longas e curtas nacionais, revelando a potência brasileira nesta era de salas de exibição fechadas.

“A influência estética do streaming na maneira de enquadrar e nos modelos narrativos do documentário ainda é nenhuma. O que já havia, mesmo na pré-pandemia, era uma predileção por narrativas seriadas e, em especial, calcadas em dois subgêneros: relatos sobre crimes e o olhar sobre celebridades, da família real a Anitta. O que eu espero, de impacto concreto, é que as plataformas se tornem parceiras reais na produção de documentários”, avalia Labaki. “Hoje, vivemos um processo de compra de documentários independentes, no qual não são raros os exemplos de filmes autorais, pelos streamings. Mas já se aponta para um processo menos passivo. E, talvez aí, com cineastas já produzindo suas ideias tendo um streaming como tela principal, sem passar pelo circuito, a influência na estética dos filmes possa se fazer notar.”

Olhando para além da janela de seu país, o É Tudo Verdade foi buscar desde investigações sobre o racismo institucionalizado – MLK/FBI, de Sam Pollard – até estudos sobre o ocaso de líderes que envergaram as certezas da História – como se vê em Gorbachev Céu, de Vitaly Mansky. Buscou ainda um Gambito da Rainha da não ficção: Glory to the Queen, de Tatia Skhirtladze, sobre enxadristas da Geórgia na Guerra Fria. A abertura será com Fuga (Flee), uma animação dinamarquesa laureada no Festival de Sundance. Dirigida por Jonas Poher Rasmussen, a produção tem foco na luta de um intelectual afegão com segredos de seu passado, às vésperas de viver um grande amor e celebrar seu sucesso acadêmico.

“É um doc animado feito ao longo de quatro anos, que nos transposta para uma realidade complicada, que é fugir de tiranias para encontrar felicidade”, diz Labaki, que programou ainda um tributo póstumo a Chris Marker (1921-2021), diretor de A Pista (La Jetée, 1962), e uma seção de documentários ligados à lírica, à poética e à política de Caetano Veloso, chamada Caetano.Doc. Outra homenagem que promete mobilizar o festival é uma retrospectiva da porção documental da obra do moçambicano radicado no Brasil Ruy Guerra, num abre-alas para as comemorações de seu 90º aniversário, a ser comemorado no dia 22 de agosto. Dele serão exibidos Os Comprometidos – Actas de Um Processo de Descolonização (1984) e Mueda: Memória e Massacre (1979/80).

“O que é mais impressionante na obra do Ruy é uma inquietação formal impressionante, que torna Os Cafajestes completamente diferente de filmes mais recentes como Quase Memória. Ele não fez muita não ficção, mas o que fez é inquieto”, disse Labaki.

Para o encerramento, um estudo sobre os povos originários desta pátria, que representou o Brasil na Berlinale, no início deste mês: A Última Floresta, de Luiz Bolognesi, com roteiro do xamã Davi Kopenawa Yanomami.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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