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18 de abril de 2024 | 9:24
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Encurtar caminho pode custar a vida

Adalberto Luque

Julho de 1997. Paulinho evoluía nos treinamentos e começava a ter bons resulta­dos nas provas de triatlo. Aos 17 anos ele havia disputado, em março daquele ano, sua primeira prova internacional, em Londres, na Inglaterra, na categoria Sprint, que consistia numa prova com 750 metros de natação, 20 km de bicicleta e 5 km de corrida de rua. Ele chegou entre os 200 primeiros o que, para sua faixa etária, era considerado um grande re­sultado. Disputou ao lado dos melhores do planeta na oca­sião. Sua rotina de treinos era diária. Ele mora em Mairiporã e treinava em Atibaia. Naque­la quinta-feira, 17 de julho, ele saiu de casa atrasado. Estava próximo a uma passarela, mas resolveu ganhar tempo, atra­vessando a Rodovia Fernão Dias para apanhar o ônibus que passava na pista oposta. Foi atropelado por um carro. O dia não tinha amanhecido e a visibilidade não ajudava. Além de estar escuro por volta de 05h15, ainda havia neblina.

Artesp alerta que 10% dos atropelamentos ocorrem próximo a passarelas

Foi acordar de um coma quase 20 dias depois. Passou por diversas cirurgias, perdeu parcialmente a visão e a audi­ção e descobriu que dera adeus à chance de chegar à categoria de triatlo olímpico, em que os atletas disputam provas com 1,5 km de natação, 40 km de bicicleta e 10 km de corrida. Paulinho estava tetraplégico.

Hoje, para viver, depende da família que não quer divul­gar seu nome, pois graças a um computador adaptado, sua úni­ca distração é ver as redes sociais e notícias pela internet.

“Não gostaria que ele visse isso”, diz o pai. Se tivesse atra­vessado a pista pela passarela, talvez perdesse o ônibus que es­tava por passar. Mas certamente teria grandes chances de ser um triatleta de ponta.

Reforço
O caso de Paulinho reforça um alerta divulgado pela Agên­cia de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp). Segundo o órgão, 10% dos atropelamentos na malha concedida ocorrem próximo às passarelas.

Estatísticas apontam que os pedestres ocupam uma parcela significativa nos casos de aci­dentes registrados em rodovias. Em 2021, foram registrados 639 atropelamentos de pedestres na malha concedida do Esta­do, sendo que 61 deles (cerca de 10%) aconteceram a cerca de 200 metros das passarelas. Diante destes números, a reco­mendação da Artesp é enfática: pedestre, para sua segurança, utilize as passarelas para atraves­sar a rodovia.

A implantação deste dis­positivo de segurança faz par­te das obrigações previstas nos contratos do Programa de Concessões Rodoviárias do Estado. Atualmente, as ro­dovias concedidas possuem 238 passarelas. Há previsão de implantação de mais 151, das quais duas estão em fase de instalação. A escolha dos locais para implantação das passarelas é feita após estudos que apontam as áreas de maior fluxo de pedestres, justamente para evitar a travessia pela fai­xa de rolamento, o que pode gerar não só atropelamentos como acidentes graves envol­vendo também os motoristas.

Para alertar sobre a impor­tância do uso das passarelas para travessia segura, as con­cessionárias paulistas fazem campanhas constantes volta­das aos pedestres.

“Os pedestres são um elo frágil no trânsito, mas há ne­cessidade de conscientização também por este público em relação à segurança nas vias urbanas e rodovias. O uso das passarelas para fazer a travessia na rodovia é fundamental para salvar vidas, pois a velocidade na via é alta, há dificuldade em enxergar o pedestre na faixa de rolamento, especialmente à noite, e o risco de ocorrer um atropelamento é grande” en­fatiza Cibele Andrade Alves, gerente de Sinalização e Segu­rança da Artesp.

Para atender às necessida­des dos pedestres e dos ciclis­tas, a estrutura das passarelas tem largura e nível de inclina­ção dentro das diretrizes esti­puladas pela Associação Bra­sileira de Normas Técnicas (ABNT). Algumas são equi­padas até com trava-motos, acessórios que impedem que motociclistas utilizem este tipo de travessia, o que é proibido.

Quatro mortes em oito atropelamentos na região: encurtar caminho pode custar a vida

A 80 metros
Um atropelamento com mor­te ocorrido na noite de 26 de maio na região, ilustra bem o alerta da Artesp. Um homem de 42 anos morreu atropelado por um cami­nhão, na Rodovia Carlos Tonani (SP-333), no km 102 + 400 metros.

Segundo a Polícia Militar Rodoviária, ele tentou atraves­sar a pista próximo ao Distrito Industrial de Barrinha, quando foi atropelado e não resistiu aos ferimentos. A apenas 80 metros de onde o homem perdeu a vida, havia uma passarela.

Entrevias tem 17 passarelas
Uma das duas concessio­nárias que administram ro­dovias na região de Ribeirão Preto, a Entrevias cuida de uma malha viária com 299 quilômetros. Neste trecho, há 17 passarelas, duas das quais no perímetro de Ribeirão Preto – uma no Anel Viário Sul e outra na Rodovia Anhanguera, km 322.

Segundo a concessionária, de janeiro a maio deste ano a Entrevias registrou cinco atropelamentos, que resulta­ram em duas mortes. Quanto à instalação de novas pas­sarelas, a Entrevias informa que isso depende de estudos para contagem de fluxo e travessia de pedestres, uma previsão contratual com a Artesp e, no momento, não há previsão de construção de novas passarelas no trecho administrado pela concessio­nária na região.

Além de cuidar para que as rodovias estejam sempre sinalizadas e com infraestru­tura adequada, conservação e monitoramento 24 horas, a Entrevias mantém rotas de inspeção de tráfego que percorrem todo o trecho para verificar fluidez e possí­veis situações adversas. “A Entrevias realiza de forma contínua ações de conscien­tização com a população, principalmente com morado­res lindeiros às rodovias, com foco em travessia segura e condutas preventivas”, acrescenta, em nota. Durante o “Maio Amarelo” (campanha de prevenção a acidentes), a Entrevias realizou ações com pedestres e ciclistas, com entrega de material informa­tivo e colete reflexivo.

A maior passarela e problemas na ‘estrada de Bonfim’
Outra concessionária que administra rodovias na região é a Arteris ViaPaulista, que garante realizar campanhas educativas ao longo do trecho administrado, orientando pedestres e ciclistas sobre a traves­sia em lugares seguros e distribuir kits de segurança, com colete X refletivo e lanternas.

De acordo com a ViaPaulista, no trecho de Ribeirão Preto foram re­gistrados três atropelamentos com duas mortes nos primeiros cinco meses de 2022. No mesmo período do ano anterior foram apenas dois atropelamentos sem vítimas fatais.

Um dos trechos administrados pela ViaPaulista, na Rodovia José Fregonesi (conhecida como “Estrada de Bonfim”), entre Ribeirão Preto e Bonfim Paulista, tem, frequentemente, pessoas atravessando a via na região dos condomínios horizontais. Geralmente são domés­ticas ou diaristas que chegam de ônibus na pista oposta.

A maior passarela da região tem 440 metros de extensão e passa sobre duas rodovias

Se fossem atravessar de forma adequada, iriam estender o percurso em mais de um quilômetro, para passar no retorno por sob a rodovia. No entanto, a maioria das mulheres que chegam, acabam se arris­cando atravessando a primeira pista, pulando a mureta e atraves­sando a segunda pista. Outra opção seria ir até Bonfim e retornar em outro ônibus, mas isso levaria tempo e custaria mais caro.

A Arteris ViaPaulista ressalta que há dois projetos em andamento para implantação de passarelas. Um no km 311+300 metros da Rodovia José Fregonesi, justamente para atender à necessidade das pessoas que chegam ao local de ônibus urbano. O outro será no km 0,700 da avenida Castelo Branco (SPA 318/330), em Ribeirão Preto, no trecho sob concessão.

Mais duas estão em análise junto à revisão ordinária do contrato de concessão, uma na Rodovia José Fregonesi (SP 328) e outra na Ro­dovia Antônio Machado Sant’Anna (SP 255). Atualmente a ViaPau­lista administra um trecho que conta com 10 passarelas, entre elas a maior da região, no Trevão de Ribeirão Preto, com 440 metros de extensão e que passa sobre duas rodovias, a Anhanguera e a Antônio Machado Sant’Anna.

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