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20 de abril de 2024 | 3:21
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Entidades de segurança pública criticam ‘Operação Sufoco’

Recentemente o Governo de São Paulo anunciou a Ope­ração Sufoco, que na prática é o aumento do efetivo policial, com policiais civis e milita­res recebendo gratificações, vendendo suas folgas para trabalhar nos dias livres. Mas entidades do setor de segu­rança pública afirmam que o programa é paliativo e que já começa falho ao ignorar os demais setores que serão impactados com aumento de prisões e apreensões. Segundo as entidades, isso deve resul­tar em uma sobrecarga ainda maior ao trabalho de policiais civis e militares, peritos crimi­nais, médicos legistas e poli­ciais penais.

Assinam o documento: Associação de Oficiais Mili­tares do Estado de São Paulo em Defesa da Polícia Militar (Defenda PM), Associação de Médicos Legistas do Estado de São Paulo (Amlesp), Sindi­cato dos Delegados de Polícia Civil do Estado de São Paulo (SINDPESP), Sindicato dos Funcionários do Sistema Pri­sional do Estado de São Pau­lo (Sifuspesp) e Sindicato dos Peritos Criminais do Estado de São Paulo (SINPCRESP).

O governador Rodrigo Garcia durante cerimônia com policiais militares

É antiga a luta das entidades que representam profissionais de segurança pública de São Paulo. Elas cobram das secreta­rias de Segurança Pública (SSP) e de Administração Penitenci­ária (SAP) a recomposição do quadro de policiais civis, mili­tares, penais, peritos criminais e médicos legistas. Segundo as entidades, o déficit, que na Polícia Civil é de 36%, atinge 55% em algumas carreiras da Polícia Técnico-Científica e provoca a sobrecarga de tra­balho e prejuízos à população.

As entidades afirmam que é sabido que profissionais de segurança pública não podem errar. Precisam ter acuidade física e mental para tomar as decisões certas rapidamente. A falta do descanso adequa­do afeta diretamente a condi­ção psíquica e pode sacrificar qualidade do trabalho dele. Quando um policial erra, o prejuízo pode ser pago com a vida dele ou de um civil.

Para elas, São Paulo paga alguns dos piores salários do país aos servidores da segu­rança pública, que muitas ve­zes já se veem obrigados a fa­zer bicos para complementar a renda. “O que a Operação Sufoco propõe, na verdade, é oficializar o bico. Um policial que tenha jornada de 12 ho­ras por 36 horas de descanso, poderá fazer até 10 diárias ex­tras, o que levaria o servidor a trabalhar 276 horas no mês, ou seja, carga horária muito superior ao limite de qualquer trabalhador da iniciativa pri­vada. Um policial exausto não é interessante para ninguém”, escreveram no manifesto.

Outro reflexo listado pelas entidades: mais prisões signi­ficam mais perícias e laudos a serem feitos pelos peritos cri­minais do Instituto de Crimi­nalística e médicos legistas do IML, instituições que já enfren­tam déficit de cerca de 40% do quadro de servidores. Mais tra­balho para uma equipe já muito sobrecarregada e sem estrutura, vai levar a atraso na emissão de laudos e, consequentemente, prejudicar o avanço de inquéri­tos e processos judiciais.

Nossa reportagem entrou em contato com a Secretaria Segurança Pública do Estado de São Paulo, mas não ob­teve retorno.

Viaturas policiais na capital durante a Operação Sufoco

Governo de São Paulo anuncia pagamento de atrasados
O Governo do Estado anunciou recentemente o pagamento de R$ 176,2 milhões em bônus a 95 mil policiais de São Paulo. Esse recurso é referente aos dois primeiros bimestres de 2021 e estaria atrasado há mais de um ano.

“Esse dinheiro é de um bônus que deveria ter sido pago no pri­meiro semestre de 2021. Ao invés de anunciar como um favor, o governador deveria estar pedindo desculpas por cumprir sua obrigação com quase um ano de atraso”, avalia a presidente do Sindicato dos Delegados do Estado de São Paulo, Raquel Kobashi Gallinati.

Para a delegada, o anúncio, mais uma vez, tem um claro viés elei­toreiro. “As polícias foram massacradas durante três anos pelos eleitos em 2018 e agora, seis meses antes de uma nova eleição, a Segurança Pública vira prioridade em um passe de mágica. Não adianta tentar usar a segurança como ferramenta de marketing. Os policiais não caem mais. A população não cai mais”.

Segundo ela, o bônus será bem-vindo para os policiais, que recebem salários que estão entre os piores do Brasil e pre­cisam do dinheiro para sustentar suas famílias, mas Raquel lembra que o governo oferece migalhas, ao invés de solucionar o problema e pagar salários dignos aos policiais.

“O governo paga bônus com um ano de atraso e anuncia como uma vitória. Obriga o policial a trabalhar na folga e diz que a segurança vai aumentar. Muito marketing para pouco trabalho que realmente melhore a Segurança Pública, como salários dignos, es­trutura e contratação de policiais”, completa a dirigente sindical.

O Sindpesp lembra que o valor só será pago aos policiais que cumpriram metas de redução de crimes, mesmo trabalhando com estrutura precária e, no caso da Polícia Civil, com um défi­cit de policiais que ultrapassa 15 mil cargos vagos.

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