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18 de abril de 2024 | 20:23
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Entrevista – A nova voz do PT de Ribeirão

O promotor aposentado, advogado e professor livre-docente do curso de Direito da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp), Antonio Alberto Machado deverá ser o candidato a prefeito de Ri­beirão Preto pelo Partido dos Trabalhadores. Ele foi escolhido como pré-candidato da legenda, no começo do ano, em votação junto aos filiados da cidade. As eleições municipais estão marcadas para 4 de outubro, mas por causa da pandemia do novo coronavírus poderá ter sua data alterada para novembro ou dezembro.

Promotor de Justiça, durante trinta e um anos, dos quais vinte e cinco em Ribeirão Preto, ele está filiado ao PT há dois anos. Por força do cargo público que ocupava, antes disto não tinha filiação nem militância partidária.
Em entrevista ao Tribuna, Machado garante que seu foco é propor uma nova filosofia de governo para a cidade. “Que atenda as necessida­des fundamentais da população, sobretudo no que diz respeito à saúde, saneamento básico, moradia, transporte público, segurança e educação”.

Tribuna Ribeirão – O que o levou a colocar seu nome à dis­posição do Partido dos Traba­lhadores como pré-candidato a prefeito de Ribeirão Preto?
Antonio Alberto Machado – O que me motivou, fundamen­talmente, foi o desafio de conti­nuar fazendo na política o que fazia e fiz por trinta anos no Mi­nistério Público: lutar pela efe­tivação dos direitos básicos das pessoas em geral, sobretudo das mais carentes. Ou seja, melhorar a qualidade de vida da popula­ção para tornar Ribeirão Preto uma cidade justa, sustentável e participativa – efetivamente de­mocrática e para todos. Me mo­tivou muito, também, o desejo de contribuir para com o debate político neste momento de mui­tas ameaças à nossa democracia.

Tribuna Ribeirão – Várias lideranças importantes do partido foram condenadas por corrupção e isso acabou atingindo a imagem da legen­da. Como o setor pretende re­verter isso?
Antonio Alberto Macha­do – Não pretendo reverter isso. Minha intenção é rever o passado do PT, e, quando for o caso, reconhecer os seus er­ros. Mas também os inúmeros acertos. A ideia é evitar os equí­vocos do passado e seguir em frente, resgatando o legado e o modo petista de governar, com políticas públicas de inclusão e justiça social, colocando as demandas das pessoas, notada­mente as mais necessitadas, no orçamento do município, sem­pre com propostas criativas e realistas, factíveis.

Tribuna Ribeirão – No caso específico de Ribeirão Preto o partido encolheu muito sua representatividade eleitoral. É possível reverter isso?
Antonio Alberto Machado – Vamos reverter isso. Vamos ampliar a nossa representati­vidade. É curioso que, mesmo neste momento de crise da política e dos partidos, mesmo com toda a pancadaria seletiva que o PT sofreu por parte de setores da mídia, do Judiciário e do Ministério Público, mes­mo assim, a militância petista em Ribeirão Preto aumentou muito – o número de filiados cresceu sintomaticamente nos últimos dois anos. Com pro­postas inovadoras e com o le­gado das gestões petistas bem­-sucedidas, aqui e no Brasil todo, vamos voltar à cena polí­tica, renovados e confiantes.

Tribuna Ribeirão – Uma das frases repetidas no meio político é a de que o PT preci­sa se reinventar para extirpar da imagem ligada as lideran­ças condenadas por corrup­ção. O senhor concorda com essa afirmação?
Antonio Alberto Machado – Todos os partidos precisam se reinventar. Vivemos uma crise política que exige autocrítica e reinvenção por parte de todas as agremiações político-parti­dárias. O nosso sistema envelhe­ceu, apodreceu. E isso não é res­ponsabilidade exclusiva do PT. O partido foi responsabilizado por seus erros e pelos erros dos outros. Foi, como se diz, o bo­de-expiatório. Queremos reco­nhecer o que os petistas fizeram de errado, assumir responsabi­lidades, porém, reafirmando os acertos e avanços das adminis­trações do PT no campo político e socioeconômico.

Tribuna Ribeirão – O que sua candidatura propõe de novo em relação às outras até agora cogitadas pela imprensa e pelos próprios políticos?
Antonio Alberto Macha­do – Propomos uma nova filo­sofia de governo, ou seja, um governo para as pessoas, e não exclusivamente para as obras. Que atenda as necessidades fundamentais da população, sobretudo no que diz respeito à saúde, saneamento básico, moradia, transporte público, segurança e educação. Todos dizem isso, mas a nossa prio­ridade é acolher, cuidar das pessoas. Acolher e garantir a dignidade delas. Neste mo­mento de pandemia, vamos reforçar o sistema de saúde, valorizando nossos servido­res e demais serviços públicos, para atender as necessidades básicas dos vulneráveis. Com uma gestão presente e parti­cipativa, vamos compartilhar com a população as decisões sobre investimentos públicos e políticas de proteção social. Voltaremos com o orçamento participativo, fortalecimento dos conselhos populares e ges­tão de governo nos bairros.

Tribuna Ribeirão – Que avaliação o senhor faz da atual administração e quais os principais problemas da cidade?
Antonio Alberto Machado – A atual administração tem vá­rios problemas, tanto adminis­trativos quanto políticos. Pecou muito no campo da zeladoria, deixou a cidade num estado de abandono e desconforto. Há também um grave problema de endividamento que o atual prefeito deixará para a próxima administração. Mesmo com dinheiro do PAC 2 para fazer as obras necessários, o prefei­to mais que dobrou a dívida da administração anterior – de R$ 300 para R$ 700 milhões. No campo político, a adminis­tração faz opção por obras e não por gente, revelando que o seu compromisso não é com as pessoas e classes populares, que mais necessitam do Esta­do. Além do que, é uma admi­nistração muito tecnocrática, distanciada do povo, por isso, autoritária e elitista.

Tribuna Ribeirão – Como o PT de Ribeirão Preto pre­tende conseguir de novo o voto e a adesão dos eleitores que colocou o partido duas vezes no comando da prefei­tura de Ribeirão Preto?
Antonio Alberto Macha­do – Note que na última elei­ção presidencial o candidato do PT, Fernando Haddad, teve em Ribeirão Preto 92 mil votos no segundo turno. Ou seja, no pior momento do PT, que estava sob panca­daria, e no melhor momento do Bolsonaro, da Lava Jato e da coalizão midiática que o elegeu, quase cem mil pes­soas na cidade escolheram o PT. Agora, quando se cons­tata as muitas manobras da Lava Jato, as injustas perse­guições ao Partido dos Tra­balhadores, e o fracasso do governo Bolsonaro, vamos buscar o voto daqueles que não abandonaram o partido no pior momento, e também o daqueles que se decepcio­naram com as enganosas promessas dos falsos he­róis, fabricados para iludir o povo. Contamos ainda com os democratas e os progres­sistas em geral, independen­temente da posição que ocu­pam no espectro ideológico.

Tribuna Ribeirão – A pandemia do coronavírus deverá mudar o jeito e a for­ma de se fazer campanha. O PT está preparado para uma campanha mais virtual do que presencial?
Antonio Alberto Macha­do – Na verdade, ninguém es­tava preparado para enfrentar um cenário eleitoral com cri­se sanitária, econômica e po­lítica ao mesmo tempo. Todos os partidos terão de mudar suas estratégias de campanha que, a meu ver, se dará qua­se toda ela no âmbito digital, mesmo com o adiamento das eleições para dezembro. O PT está se preparando para essa realidade; mas vamos conti­nuar próximos das nossas ba­ses, da nossa militância – seja nas ruas seja nas redes. Nossa campanha será pobre, mas será forte e limpa, sob todos os aspectos.

Tribuna Ribeirão – O Brasil vive atualmente um momento de polarização politica muito intensa. Isso pode afetar as eleições muni­cipais e transformar a dispu­ta numa espécie de Fla-Flu?
Antonio Alberto Ma­chado – Infelizmente pode. Essa polarização tende a se manter e se refletir também nas eleições municipais. Es­tamos preparados para en­frentar isso, mas sem ódio, sem diversionismo, apenas com argumentos e racio­nalidade. Porém, queremos sobretudo fazer uma cam­panha propositiva para Ri­beirão Preto, enfrentando os nossos problemas e de­mandas locais. A política nacional, naturalmente, virá à tona. Mas a nossa intenção não é embarcar no Fla-Flu, é propor as soluções políti­co-administrativas que real­mente interessam, de perto, ao nosso povo.

Tribuna Ribeirão – Em seu blog o senhor faz críti­cas políticas contundentes. Num artigo recente o senhor disse “Jair Bolsonaro não en­tende muita coisa, e uma das coisas que ele não entende é que o Brasil tem um “pre­sidencialismo de coalizão”, e que, portanto, o chefe do Executivo precisa dialogar com o Congresso, se quiser governar. Bolsonaro, estúpi­do como é, optou por xingar o Congresso (e outras insti­tuições). Deu no que deu – até agora não governou um dia sequer”. O Brasil está tão mal de presidente como o se­nhor descreve?
Antonio Alberto Macha­do – Acho que sim. Bolsonaro não desce do palanque; não governa e estimula o diver­sionismo na sociedade. Por exemplo, no momento em que estamos em uma verda­deira guerra contra o corona­vírus, Bolsonaro resolve fazer guerra aos governadores, pre­feitos, Supremo Tribunal Fe­deral, Congresso Nacional, a Ciência entre outros setores e instituições. Ele está em guer­ra contra todo o mundo, me­nos contra o vírus. Já trocou de ministro da Saúde duas vezes, promove aglomerações públicas que disseminam a doença, e insiste na cloroqui­na, um fármaco que a Organi­zação Mundial de Saúde não recomenda para o tratamento da covid-19 e a França até já proibiu seu uso contra essa doença. Bolsonaro vai sem­pre na contramão, levantando polêmicas e atiçando o ódio. Não consegue negociar com o Congresso e quer impor um governo autoritário. É por es­sas e outras que mais de 50% da população já avaliam seu governo como ruim ou pés­simo, e o percentual de seus apoiadores caiu para menos de 30%. Não apenas eu, mas as pesquisas revelam que a maioria dos brasileiros desa­prova o governo Bolsonaro.

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