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19 de abril de 2024 | 21:28
Jornal Tribuna Ribeirão
DIVULGAÇÃO/OBSERVATÓRIO EUROPEU DO SUL (ESO)
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Ciência e Tecnologia

ESO divulga imagens de buraco negro

Sagitário A* é o buraco negro localizado ao centro da nossa galáxia, a Via Láctea, e pela primeira vez foi visto em uma imagem. O anúncio foi feito pelo Observatório Euro­peu do Sul (ESO). É a primei­ra evidência visual da exis­tência deste objeto compacto e supermassivo, possível gra­ças ao trabalho conjunto de uma equipe internacional de pesquisadores, chamada Cola­boração Event Horizon Teles­cope (EHT).

Para a busca do objeto fo­ram utilizados oito radioteles­cópios espalhados por diversos pontos do globo terrestre. A partir das imagens captadas, que simulariam um super te­lescópio do tamanho da Terra, e da justaposição dos registros, chegou-se à imagem do bura­co negro da Via Láctea. O ESO emitiu comunicado.

Diz que, embora não seja possível avistar o buraco ne­gro em si, “o gás brilhante que o rodeia revela uma assinatu­ra inconfundível: uma região central escura (chamada som­bra) cercada por uma estrutura brilhante em forma de anel. A nova visão captura a luz que se curva sob a poderosa gra­vidade do buraco negro, que é quatro milhões de vezes mais massivo que o nosso Sol.”

Para a conclusão das fo­tos divulgadas nesta quin­ta-feira, 12 de maio, foram cerca de cinco anos desde a captação das imagens feitas em 2017, com a participa­ção de mais de 300 profissio­nais de 80 instituições de di­versos países, com tecnologia avançada e supercomputado­res que analisaram e combi­naram dados.

Ainda conta com uma rede mundial de radiotelescópios do Atacama Large Millimeter/ submillimeter Array (ALMA) e do Atacama Pathfinder Ex­periment (APEX), instalados no deserto do Atacama no Chile, e do Telescópio IRAM de 30 metros na Espanha e do NOEMA (Northern Extended Millimeter Array), na França.

O anúncio sobre o bura­co negro no “coração” da Via Láctea, a cerca de 27 mil anos­-luz da Terra, foi realizado na Alemanha, mas mobilizou cientistas e imprensa de todo o mundo, assim como em 2019, quando foi anunciada a primei­ra imagem de um dos objetos mais enigmáticos do Universo.

Galáxia Messier 87
Também com os esforços da Colaboração Event Horizon Telescope (EHT), foi realizado o primeiro registro, do chama­do M87*, localizado na galá­xia Messier 87. Pesquisadores destacam que embora os dois sejam diferentes, já que o Sa­gitário A* é cerca de mil vezes menor e menos massivo que o M87*, perto das bordas são bem semelhantes e que ambos podem apontar para respostas de pesquisas em andamento.

A astrofísica Thaisa Storchi Bergmann, membro da Aca­demia Brasileira de Ciências (ABC), destaca o empenho das equipes e da tecnologia utili­zada. Este anúncio abre portas para avanços nas pesquisas, explicou. “Temos muito es­tudo pela frente, é somente a segunda imagem e o resultado bem sucedido desse imagea­mento pelo EHT mostra que essa técnica é fantástica e está aí pra ficar”, diz.

“Como foi dito (no anúncio do ESO) envolveu mais de 300 pesquisadores de 20 países, oito observatórios. O Alma sozinho tem 66 antenas, além dos supercomputadores para fazer essa foto. Deu muito tra­balho, demorou anos para sair essa imagem e acho que tem muito espaço para aperfeiço­ar essa tecnologia, tornar isso mais rápido e aplicar para ou­tros buracos negros em centros de galáxias vizinhas’’, explica.

A cientista que já recebeu, em 2015, o Prêmio Internacio­nal L’Oréal/Unesco para Mu­lheres na Ciência com pesqui­sa envolvendo buracos negros, descreve a emoção de conse­guir visualizar o Sagitário A*. “É muito emocionante viver este momento porque traba­lhei com buracos negros toda a minha vida e sempre a presen­ça deles era indireta”, ressalta.

“Claro que a gente acre­ditava porque se acredita em Física, e a evidência gravitacio­nal era muito forte, cada vez maior. Mas, ter uma imagem parece que é uma comprova­ção a mais. Poder enxergar é uma validação, é muito impor­tante. Comprova o que, de cer­ta forma já sabia. (As imagens) comprovam os valores das massas, que ele está rotando, como é a acreção, a natureza da energia. Mas, é a imagem, definitiva”, celebra.

Em uníssono, pesquisadores em anúncio nesta quinta-feira, na sede do Observatório Euro­peu do Sul, na Alemanha, des­tacaram o quão emblemático é registrar a imagem do que foi previsto há mais de 100 anos, pelo físico Albert Einstein, com a Teoria da Relatividade Geral. Para Thaisa Storchi é uma reafirmação.

“Com relação à Teoria da Relatividade Geral, é incrível a gente dizer mais uma vez que o Einstein estava certo. Então, todos os modelos usam a teo­ria, e os resultados realimen­tam que a Relatividade Geral continua valendo. Isso é mais que uma reafirmação de que é uma teoria fantástica’’, diz. Se­gundo o ESO, os trabalhos de colaboração dos pesquisadores continuam em 2022, com ex­pectativa para imagens mais de­talhadas e quem sabe até filmes.

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