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28 de março de 2024 | 13:23
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Economia

Estimativa para o PIB da construção cai de 4% para 2,5% em 2021

A indústria da construção iniciou 2021 com expectativa de crescer 4% no ano, o que corresponderia à sua maior alta desde 2013. No entanto, com o cenário imposto pela falta de insumos, a estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB – soma de toda a riqueza produzida) do setor caiu para 2,5% em 2021.

No ano passado, o PIB da indústria da construção foi negativo em 7%. Enquanto no primeiro trimestre de 2020, o PIB caiu 1,6%, no mesmo período desse ano a queda deve ser em torno de 0,8% a 1%.

As avaliações foram apresentadas hoje (29) pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), que aponta, como causa para a redução, as dificuldades impostas pelo desabastecimento e alta dos preços dos materiais. Para o presidente da entidade, José Carlos Martins, não há perspectiva de mudança nesse cenário. “Estamos preocupados no sentido de que não estamos vendo horizonte de que isso seja revertido”, disse.

O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, fala à imprensa após encontro com o presidente Michel Temer, no Palácio do Planalto.
Presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins – Valter Campanato/Agência Brasil
Ele falou durante um seminário virtual realizado na manhã desta quinta-feira pela CBIC para debater o desempenho do setor. A gravação da transmissão está disponível no canal da câmara no YouTube.

O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) de materiais e equipamentos, calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostrou alta de 27,26% nos preços, no acumulado de 12 meses, encerrado em março deste ano. Segundo a CBIC, é a maior alta para o período desde que o índice começou a ser calculado, em 1998.

Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), de fevereiro, mostrou que mais de 70% das indústrias têm dificuldades em conseguir matéria-prima, Estudo da Confederação Nacional da Indústria de fevereiro mostra que mais de 70% das indústrias têm dificuldades em conseguir matéria-prima, o que impacta o nível de atividade..

Atividade e perspectivas

Com isso, os bons resultados alcançados pela indústria da construção no segundo semestre de 2020 não se mantiveram no primeiro trimestre deste ano. De acordo com a CBIC, o nível de atividade da construção começou a perder intensidade a partir do mês de dezembro e o setor encerrou o primeiro trimestre de 2021 em queda. As perspectivas otimistas também vêm perdendo intensidade desde janeiro e estão no menor patamar desde julho do ano passado.

A CBIC citou dados da Sondagem Indústria da Construção, realizada pela CNI com o apoio da câmara, que apontam que o problema da falta de insumos ou seu custo elevado se disseminou ainda mais no primeiro trimestre de 2021, acompanhado por uma situação financeira insatisfatória. A confiança do empresário e a intenção de investir também acumulam recuos.

O indicador de atividade em março deste ano no setor foi de 44,9 pontos, 6,5 pontos abaixo do observado em agosto de 2020, quando a construção começou a fortalecer o seu ritmo, após a queda observada nos dois primeiros meses da pandemia. Segundo a CBIC, é o menor patamar de atividades desde junho de 2020, quando ainda não havia uma completa percepção de que o mercado imobiliário teria excelentes resultados no segundo semestre de 2020..

O setor imobiliário encerrou 2020 com uma queda de 17,8% no número de lançamentos, na comparação com 2019. No mesmo período, entretanto, o número de imóveis novos vendidos subiu 9,8%. “Com esses resultados, mais a redução de 12,3% na oferta final de imóveis novos, a percepção era de que em 2021 os novos lançamentos apresentariam forte expansão. Porém agora existem dúvidas se isso realmente acontecerá, em função do desabastecimento e do aumento dos preços dos insumos, que provocam incertezas sobre o futuro”, explicou a CBIC, em comunicado.

Dessa forma, o setor também contratou menos. Nos dois primeiros meses de 2021, a construção criou, em média, 44 mil novas vagas com carteira assinada por mês. Em março, esse número caiu para cerca de 25 mil vagas, conforme dados divulgados ontem (28) pelo Ministério da Economia.

Impacto na economia

O presidente da CBIC alertou que a indústria de construção é um importante indicador do crescimento da economia. Nesse sentido, as incertezas do atual cenário atrasam investimentos e diminuem a capacidade de recuperação da economia.

Segundo ele, o setor da construção tem uma grande capilaridade e afeta diretamente outros 97 setores. “A definição que se faz da construção como uma locomotiva da economia tanto serve para acelerar o crescimento quando para frear. Quando vem com a expectativa futura de redução da atividade, isso nos preocupa porque a própria atividade do Brasil vai reduzir, pela capilaridade que temos dentro da economia”, disse José Carlos Martins.

Como exemplo, ele cita o setor de saneamento. A expectativa era de que o novo Marco Legal do Saneamento impulsionasse as obras do setor. Entretanto, segundo Martins, com o aumento do preço das matérias-primas, muitas empresas que ganharam concorrências não querem assinar contratos, já que não conseguirão absorver os custos. “Nós temos um problema que é de longo prazo”, ressaltou.

Corte no Orçamento

Para a CBIC, a estimativa de 2,5% de crescimento do PIB do setor pode ser considerada otimista. Mas, esse número ainda pode diminuir, caso se confirme a paralisação de obras do Programa Minha Casa, Minha Vida (hoje Casa Verde Amarela) referentes a faixa 1, em função do corte nas verbas destinadas ao programa no Orçamento de 2021, sancionado semana passada pelo governo federal.

Segundo Martins, estavam previstos R$ 1,5 bilhão, mas o valor caiu para R$ 29 milhões. Somado a isso, os contratos são a preço fixo, então o setor já vinha sofrendo com o aumento nos custos dos insumos. A entidade trabalha junto ao Congresso Nacional para encontrar algum espaço para ajudar o setor e reverter essa situação.

O presidente da CBIC explica que são obras em andamento de 217 mil unidades habitacionais, que empregam em torno de 250 mil trabalhadores diretos. São empreendimentos contratados há bastante tempo ou que já haviam sido paralisados no passado justamente por falta de pagamentos e agora retomados.

Edição: Denise Griesinger

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