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29 de março de 2024 | 8:41
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Cultura

‘Eu respiro Aurora Boreal. É algo tão mágico’

Por Eliana Silva de Souza

Há dez anos, Marco Brotto começou a realizar uma jornada que o levaria a diversos locais do planeta em busca da aurora boreal. Fenômeno óptico que maravilha a humanidade com suas luzes e cores, atraindo curiosos dos mais diversos países. Para eternizar suas aventuras pelos países do Círculo Polar Ártico, o curitibano acaba lançar o livro Aurora Boreal – Amor em Forma de Luzes e Cores (Edicon, 220 páginas, R$ 349), que reúne imagens captadas desse espetáculo da natureza e que ele presenciou em 82 viagens. E, em cada uma delas, teve o privilégio de observar um espetáculo diferente, pois uma aurora boreal nunca é igual a outra.

Como conta o aventureiro, sua paixão por sair em busca das luzes verdes e dançantes começou em 2008 ao ouvir de um amigo como era hipnotizante tal evento. Decidido a conferir de perto, Marco partiu em uma viagem de navio para o Alasca, com a certeza de que assistiria a esse fenômeno, que o fascinou antes mesmo de conhecer pessoalmente. Foram dez dias de espera, com final frustrante, pois a aurora boreal não se concretizou. Depois desse episódio, e por causa dele, sua vontade de conseguir observar as luzes só aumentou e ele persistiu até que o objetivo fosse alcançado. De lá para cá, ele comemora ter realizado expedições sempre bem-sucedidas e iluminadas pelo evento natural pelo qual tanto é apaixonado.

Ao todo, o livro traz 156 fotos, que são carregadas de histórias, pois, em cada uma delas, Marco Brotto também viveu momentos singulares. Em entrevista ao Estadão, o ‘caçador de aurora boreal’ conta alguns detalhes dessa sua vida e de como é correr em busca desse evento que a natureza proporciona aos olhos e ao espírito.

Como surgiu a ideia de viajar buscando imagens da aurora boreal?

Primeiramente, a minha ideia era fotografar como recordação, porque nunca estudei fotografia, sempre gostei, mas aprendi mesmo com as auroras. A fotografia foi uma maneira que encontrei de compartilhar esse momento. Quando comecei a fotografar e compartilhar os registro, essas imagens ganharam o Brasil todo e até outros países, por meio de versões da revista National Geographic, e eu comecei a gostar de verdade de fotografar. Até então, eu viajava sozinho ou com amigos e passei a fazer as expedições em grupos, e foi quando a fotografia tornou-se uma necessidade. As pessoas viajavam e queriam fotografar e isso gerou um arquivo muito bacana. Agora, comemoro 10 anos de expedições e resolvi compilar estes registros por meio do livro. O interessante das fotografias do livro é que a edição é realmente apenas para dar um toque final, eu não utilizo saturação. Elas mostram efetivamente o que se vê a olho nu da aurora boreal, e é muito difícil colocar no papel e imprimir a luz do fenômeno.

Há muitos caçadores desse fenômeno no mundo, no Brasil?

Existem muitos guias especializados em aurora boreal no mundo todo. Na nossa equipe, temos vários brasileiros que vivem aqui e outros espalhados por todo o Ártico. Por exemplo, a Dora Müller, brasileira que mora no Alasca, é a pessoa com nacionalidade brasileira que eu conheço que faz essa atividade há mais tempo, 20 anos. Tem o Fillipo Dias, que mora na Finlândia e tem somente 19 anos, é muito bacana isso.

O que significa a aurora boreal para você?

Eu respiro aurora boreal. É algo tão mágico, tão emocionante, existe uma energia tão linda, parece que purifica a gente. Acho que todas as pessoas têm algo que lhes faz sentir bem. É engraçado porque tem momentos que se sente uma fragilidade imensa vendo aquilo e, no outro, você se sente abençoado, forte e realizado.

Há o momento certo para viajar e conseguir ver o fenômeno?

A temporada de aurora boreal, quando se tem as maiores chances, é o período que vai de setembro a abril. Existe uma diferença grande nesse período se formos estudar mais meticulosamente as latitudes e longitudes, mas, a grosso modo, é isso.

Quantas vezes já viu o fenômeno? A emoção se repete?

Já fiz 82 expedições ao Ártico e em todas elas eu consegui ver a olho nu o fenômeno. Sabe que obviamente algo mais brilhante e colorido, com mais velocidade acaba emocionando mais, mas fico emocionado sempre. Já percorri todos os países do Círculo Polar Ártico várias vezes e nunca as coisas se repetem. Será que isso é amor? (risos)

Como as pessoas reagem ao ver pela primeira vez?

É muito de cada pessoa. Gritos, risos, choros… medo, contemplação. Já vi muitas coisas diferentes, reações realmente emocionantes e de encher o coração de felicidade.

Para conseguir ver a aurora boreal, fez algumas loucuras?

Qual esse parâmetro de loucura? (risos) Loucuras sempre, irresponsabilidade nunca. Estamos na grande maioria das vezes em lugares inóspitos, ermos e com as dificuldades que a região nos proporciona. Estamos sempre seguindo os protocolos de segurança, as leis e o bom senso. Temos limites, por exemplo, com relação ao cansaço do grupo e do staff. Mas, para ilustrar, uma vez estava no Alasca, atolamos na neve e o resgate disse que só viria de manhã, após mais de 8 horas. Tínhamos comida, lenha e lugar seguro. Não insisti para que o resgate fosse imediato e contemplamos uma das mais lindas auroras que já vi.

Em quais lugares acontece esse fenômeno? É em uma época específica do ano?

Os fenômenos acontecem em todos os países que o Círculo Polar corta, que são Rússia, Noruega, Finlândia, Suécia, Islândia, Groenlândia, Canadá e EUA. E pode ocorrer todos os dias, mas só é visível quando tem escuridão no Hemisfério Norte, tem que ter noite. E a época em que tem noite é de setembro até abril, porque, depois dessa fase, começa o período do sol da meia-noite na maioria desses lugares.

Além da aurora boreal, deve ser um momento de ter contato com a natureza por completo. O que mais viu nessas viagens?

Ainda não vi nenhum extraterrestre. Óvnis bastante, mas, como o nome diz, objetos não identificados. Com relação à natureza, as experiências lindas estão sempre presentes – animais selvagens, tempestades de neve e temperaturas congelantes. Mas, além da natureza, o que me deixa muito emocionado é o encontro com a cultura local, suas lendas e seus costumes. O Ártico, assim como a aurora boreal, é apaixonante.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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