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28 de março de 2024 | 15:45
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Furtos no Centro de RP crescem 214%

Adalberto Luque

Os índices de criminalida­de divulgados mensalmente pela Secretaria da Seguran­ça Pública (SSP) mostraram que no Centro de Ribeirão Preto houve um crescimento de 214% nos casos de furtos – neste aumento não se incluem os furtos de veículo. De acordo com a Secretaria, foram regis­trados 91 furtos durante o mês de maio, contra 29 em abril.

Fios de cobre ou objetos metálicos, como letras e adereços em bustos, estão entre as preferências nos furtos

Os números, na verdade, demonstram um problema que a cidade vem enfrentando há algum tempo. A prática de furtos para revender o produ­to e conseguir dinheiro para comprar droga ou álcool. A cidade tem sofrido muito com furtos de fios elétricos, tampas de bueiro, grades de bocas de lobo, números de residências e até mesmo de estátuas pú­blicas, sobretudo se forem de bronze, material muito visado pelos furtadores.

Quem segue pela avenida Francisco Junqueira, vindo da avenida Jerônimo Gon­çalves até o cruzamento com a avenida Independência, na região Central de Ribeirão Preto, sabe bem que isso vem ocorrendo. Várias grades de bocas de lobo foram furtadas nos últimos meses.

O buraco, quando perma­nece aberto, acaba sendo um risco maior para pedestres, ciclistas, motociclistas e até motoristas que trafegam por lá, pois pode resultar num aci­dente grave ou até fatal.

Ao passar por aquele tre­cho, é possível ver que as gra­des foram repostas, mas houve um reforço talvez até excessivo em sua aplicação, para evitar novos furtos. Se houver a ne­cessidade de remover o gradil, será preciso contar com a ajuda de outro equipamento, como uma talhadeira ou até mesmo uma britadeira, para retirá-lo.

O celular deixou de ser atraente para ladrões. Pelo menos quando o objetivo é conseguir dinheiro e suprir a dependência química. Quem furta celular não faz dinheiro imediato. E corre o risco de ser apanhado, pois a maioria dos aparelhos permite o rastrea­mento. Ainda assim, em abril, dos 29 furtos registrados no Centro da cidade, 20 foram de celular. Já em maio, apenas 22 celulares estão entre os 91 fur­tos registrados.

A média é preocupante. São três furtos por dia somente na região do Centro. Os casos registrados são encaminhados para a equipe do 1º Distrito Policial (DP), que fica com as equipes dos demais DPs, na Central de Polícia Judiciária (CPJ) Permanente, na avenida Independência, Zona Sul de Ribeirão Preto.

Bonfim Paulista
Outra região que registrou um crescimento no número de furtos foi o distrito de Bonfim Paulista, onde foram constru­ídos dezenas de condomínios fechados. Localizado na Zona Sul da cidade, o antes paca­to lugarejo passou a atrair a atenção de ladrões. A região não conta com uma delega­cia de Polícia – a que tinha foi desativada em 2017. E os fur­tos cresceram, em abril, 100% em relação ao mês anterior.

Diferentemente dos fur­tos registrados no Centro, em Bonfim Paulista os celulares estão na preferência dos la­drões. Quase metade dos casos envolveu aparelho celular.

Operações
Tão logo os números fo­ram divulgados, a Polícia Militar e a Polícia Civil rea­lizaram uma série de ações conjuntas, mirando princi­palmente os receptadores. Numa delas, feita em des­manches de veículos, mais de 40 estabelecimentos foram autuados por irregularidades. Vários deles foram lacrados e impedidos de funcionar. Isso deve reduzir drasticamen­te os índices nos próximos meses. Mas ainda é preciso intensificar a ação contra re­ceptadores.

Sem investigação
O Sindicato dos Policiais Civis da Re­gião de Ribeirão Preto (Sinpol) vê esses índices com preocupação. “O furto é um crime de ocasião. Muitas vezes é cometido pela facilidade do momento. O Centro é uma região que conta com sistema de monitoramento por câme­ras. Mas isso não está inibindo a prática dos crimes, que não ocorrem, necessa­riamente, nas vias públicas. O grande problema com isso é a investigação”, adverte o presidente do Sinpol, Célio Antônio Santiago.

Com apenas 10 investigadores nos oito DPs, investigar é impossível, diz Célio, o presidente do Sinpol – FOTO: MAX GALLÃO MESQUITA

A Polícia Civil unificou todas as delega­cias. Antes a cidade contava com oito Distritos Policiais (DPs). Em janeiro de 2022 foi inaugurada a CPJ Integrada, localizada na avenida Independência. Neste prédio, foram abrigados os oito DPs da cidade.

“Isso foi no papel. Na verdade, juntaram oito distritos no mesmo prédio para es­conder a falta de recursos humanos. O Sinpol constatou que temos apenas 10 investigadores para todos os distritos. Quando trabalhei no 2º DP, nos Campos Elíseos, começo da década de 1980, éramos em mais de 20 investigadores. Só naquele distrito. E o complexo do Quintino ainda estava sendo formado”, lembra Célio.

Ele conta que é impossível investigar todos os furtos com apenas 10 inves­tigadores. “E não falo dos 679 furtos registrados na cidade. Digo somente os 91 da região central. Os 10 investigado­res são para oito distritos. Impossível. Assim como é impossível para o escri­vão, que tem de relatar 700 ocorrências. Alguns chegam a 1.000. Falta delegado, falta tudo. No Estado, o déficit é de mais de 15 mil policiais civis. Em nossa região, chega a 1.000, pelo menos. Só em Ribeirão Preto, são necessários pelo menos mais 100 investigadores, 120 escrivães e 20 delegados”, afirma o presidente do Sinpol.

Furtos alimentam vício

Segundo Gritti, furtos e roubo alimentam vício em álcool e drogas – FOTO: MAX GALLÃO MESQUITA

Tenente Coronel aposentado da Polícia Militar, Marco Aurélio Gritti é especialista em segurança, advogado, consultor em Segurança e Gestão de Riscos, bacharel e mestre em Segurança Pública e representante da OAB no Conselho Municipal de Segurança Pública. Ele acredita que a estabilidade registrada em meses anteriores deve prevalecer, mas trata as duas regiões de forma distinta.

“Em regra, os furtos e roubos servem para alimentar o vício em álcool e drogas, notadamente no Centro de Ribeirão Preto, devido ao número de pessoas em situação de vulnerabilidade (moradores de rua e usuários de drogas). Assim, além do combate ao crime (consequência), há que haver um trabalho preventivo no âmbito social e de saúde (causa).”

Já em relação a Bonfim Paulista, Gritti explica que os criminosos foram atraídos pelo crescimento populacional ocorrido com a construção dos con­domínios. “Além disso, os criminosos têm vias de fuga pelas rodovias que cercam o distrito. Mesmo assim, os índices atuais estão abaixo de 2019, o que implica um cenário positivo”, avalia.

Combate à receptação
Em nota, a Polícia Militar informa que, nos últimos três meses, foram registrados no Centro, 44 flagrantes e prisão de 47 procurados pela Justiça. Na área central a PM tem 14 pontos de estacionamento diários, apoio de motocicletas e equipe de Força Tática. Já Bonfim Paulis­ta conta com policiamento ostensivo e preventivo e uma Base Comunitária.

“Importante mencionar que no mês de junho foi realizada uma audiência pública na Câmara Municipal de Ribeirão Preto, com várias autoridades (aos quais interessam a solução do problema) para debater sobre receptação de fios de cobre e objetos metálicos em geral, dentre outras soluções, ficou estabelecida a criação de norma legal para facilitar a fiscalização em depósitos de sucata e desmanche, bem como a estipulação de perdimento do bem, cuja procedência lícita não for devidamente com­provada, revertendo o valor auferido a um fundo munici­pal de segurança pública a ser criado”, encerra a nota.

961 prisões
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública explica que os casos de furtos e roubos na cidade tiveram queda de 17% e 28%, respectivamente, nos cinco primeiros meses de 2022, em relação ao mesmo período de 2019, na pré-pandemia.

“Além disso, 961 prisões foram realizadas – sendo 13 delas na região do distrito de Bonfim Paulista -, 321 veículos recuperados e 89 armas de fogo apreendidas. As ações para identificar suspeitos de furtos e recuperar objetos foram intensificadas, inclusive com reforço da fiscalização nos estabelecimentos que comercializam os materiais citados, como os fios e cabos elétricos”, ex­plica em nota, concluindo que “o policiamento na região central do município é reorientado constantemente com base nos índices criminais.”

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