Tremores, aumento da pressão arterial, insônia, dor de cabeça, irritabilidade e aceleração do ritmo cardíaco. Esses são alguns dos sintomas mais frequentes de um episódio de estresse, problema que afeta mais de 90% da população no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com o Ministério da Saúde, o estresse é um dos responsáveis por mais de 130 milhões de infartos no Brasil.
O médico psiquiatra Christia- Adolpho Diniz do Nascimento explica que alguns fatores são inevitáveis como a herança genética. “Desde problemas em que a pessoa nasce com ele, como um retardo mental, até os transtornos de humor, como o bipolar em que, se você tiver pai ou mãe acometidos, terá cerca de 25% de chance de apresentá-lo ao longo de sua vida. Outros, ambientais, como problemas do trabalho e familiares, em certa medida, também”, ressalta.
A psicóloga Natália Reis Morandi reforça a importância de inserir hábitos mais saudáveis na rotina diária para evitar problemas graves, como doenças cardiovasculares e depressão, entre outros transtornos.
“Apesar de ser uma resposta natural do corpo diante de uma situação de perigo ou de tensão, a manutenção deste estado por longos períodos pode causar danos sérios à saúde, à produtividade e, consequentemente, à qualidade de vida das pessoas”, alerta a especialista.
Diniz completa que uma rotina de vida saudável, “com um sono de qualidade (fator imprescindível), atividades físicas regulares, boa alimentação e hidratação (água é muito importante) e práticas como meditação ou Yoga atenuam a gravidade dos sintomas de boa parte das patologias e impedem complicações”.
“O que também vale pra saúde física, já que não há como desligar uma da outra. No Ayurveda (medicina indiana), há um termo – Dinacharya – que se refere a uma rotina diária de hábitos saudáveis, há milhares de anos. E, como em qualquer problema de saúde, a procura precoce de auxílio de um profissional de saúde mental é imprescindível, quando alguém não se sente bem emocionalmente”, complementa.
Como evitar o estresse?
Segundo Natália, é aí que está o problema. “Atualmente, com os estímulos da vida moderna e a rotina acelerada, é muito difícil conseguir escapar de situações que nos deixam estressados. Vale lembrar que a situação atual de pandemia tem ampliado esse estresse e desgaste emocional”, destaca.
O que as pessoas podem fazer, de acordo com a especialista, é avaliar o que pode ser modificado em suas rotinas para reduzir o problema e fortalecer seu organismo e seus recursos emocionais para enfrentar as situações estressoras que não podem ser alteradas.
Diniz ressalta que evitar totalmente é impossível. “O conceito popular do termo, como algo ruim, que passou das medidas, não é real. Clinicamente, pode ser até benéfico em certos casos. Por exemplo, se você quer ganhar massa muscular, tem que submeter seus músculos a algum estresse (com esforço além do habitual) na musculação ou ginástica localizada. O problema é quando este esforço atinge níveis muito altos pode causar lesões, como distensões e contraturas. Assim, conhecer seus limites, é fundamental. Uma questão essencial é: qual meu objetivo de vida? Como na atividade física – o que quero fazer com meu corpo? Tudo que te desviar deste objetivo pode se tornar, como alguns dizem, “estressante”. Descobrir este objetivo é essencial e uma psicoterapia pode ajudar”.
O psiquiatra revela que as pessoas estão mais conscientes e buscam médica, mas ainda longe do ideal. Ele explica que iniciativas como o setembro amarelo (mês de prevenção do suicídio) buscam a conscientização, porém, com relação à saúde mental, ainda há muito desconhecimento, crenças equivocadas e algum preconceito.
“Muita gente ainda associa, por exemplo, depressão com fraqueza. Ainda se pergunta: por que você está deprimido se sua vida é boa, sem o conhecimento que depressão é uma doença. Grave e muito frequente. O suicídio ainda mata mais que Aids, câncer de mama, malária ou homicídios, embora tenha havido algum declínio, graças a tratamentos com medicamentos mais modernos e acesso ao apoio psicológico para transtornos de humor, esquizofrenia e outros problemas de saúde mental”, finaliza.
Hábitos simples que ajudam a combater o estresse
A psicóloga Natália Reis Morandi deixa algumas dicas para o combate ao estresse:
– Evite se manter em uma situação estressora
Sentir raiva é normal, mas a frequência desta emoção pode ser um sintoma negativo e gerar desgaste emocional intenso. Podemos evitar que ela atinja picos e que nos coloquem em níveis elevados de estresse, mudando o cenário quando isso acontecer para não potencializar e alimentar o sofrimento causado por determinada situação indesejável.
– Faça exercícios de respiração Sobretudo para quem vive nas áreas urbanas, a poluição sonora associada a momentos de acúmulos de atividades a serem realizadas pode ser um gatilho para o estresse. A dica é reservar alguns minutos para ficar em silêncio.
– Proporcione situações prazerosas Diante de uma rotina exaustiva, uma dica para aliviar o estresse é fazer algo que desperte sensações de prazer e relaxamento, Além de manter bons hábitos com a alimentação e a qualidade de sono.
– Repense a regra do “agora” Avalie suas atividades e responsabilidades diárias e pense: tudo precisa ser resolvido agora? É saudável estabelecer prioridades na realização das tarefas, sejam elas pessoais ou profissionais. A recomendação é avaliar o que é necessário e o que é desejável.
– Valorize ambientes saudáveis para o trabalho Se o seu trabalho é entendido como a sua fonte de sofrimento, a profissional recomenda fazer uma sincera avaliação dos motivos pelos quais você continua nele.
– Peça ajuda “Nós somos seres coletivos, não precisamos fazer tudo sozinhos”, afirma Natália. Ela explica que o hábito de pedir ajuda reduz a pressão, amplia o olhar sobre determinada situação, auxilia na promoção de soluções mais assertivas e minimiza o sofrimento. Traz sensações de conforto e aumenta o bem-estar. Tanto em situações de estresse diárias quanto de crises intensas (doenças, mortes, separações, acidentes, entre outras), a rede de apoio de uma pessoa é fator importante para o enfrentamento do problema. Isso também inclui buscar ajuda profissional.
– Pratique atividades físicas e ou artísticas O nosso cérebro é estimulado em áreas diferentes quando estamos praticando esportes, caminhadas (curtas ou longas) e realizando atividades artísticas. Ao movimentar o corpo, reduzimos os hormônios causadores do estresse, como o cortisol, e liberamos endorfina. Dessa forma, promovemos melhora do humor e da qualidade do sono. Cantar, dançar, fotografar, cozinhar ou pintar podem ser boas opções. “Descubra o seu talento e explore coisas que goste de fazer”, finaliza Natália.