Pode até parecer uma obra de arte, pintada com cuidado, mas, na verdade, se trata de uma imagem do telescópio espacial Hubble, antecessor do James Webb. As agências espaciais americana (Nasa) e europeia (ESA) divulgaram na sexta-feira, 12 de agosto, uma paisagem de “nuvens celestiais” em torno do objeto Herbig-Haro HH 505, na Nebulosa de Órion, do observatório de mais de 30 anos.
Lançado em 1990, o Hubble superou todas as expectativas e segue “vivo”. Em três décadas, fez mais de 1,5 milhão de observações e suas descobertas motivaram a publicação de 19 mil artigos científicos, conforme a Nasa. O observatório olhou para o passado distante do nosso universo, para locais a mais de 13,4 bilhões de anos-luz da Terra.
A Nasa explica que objetos Herbig-Haro são regiões luminosas ao redor de estrelas recém-nascidas, que se formam quando ventos estelares ou jatos de gás são expelidos delas, criando ondas de choque que colidem com gás e poeira próximos em altas velocidades. “No caso de HH 505, esses fluxos se originam da estrela IX Ori, que fica nos arredores da Nebulosa de Órion, a cerca de um mil anos-luz da Terra”, informou.
A Nebulosa de Órion é um berçário estelar – uma região cheia de poeira e gás, onde milhares de estrelas estão se formando. Por ser a mais próxima da Terra, tornou-se uma das áreas massivas de formação de estrelas mais examinadas. Em 2018, a Nasa publicou uma “viagem” pela nebulosa propiciada pelas lentes do Hubble.
O mês passado foi particularmente agitado para a agência americana. A Nasa divulgou as possíveis datas da missão Artemis I – que vai retornar à Lua –, além das primeiras imagens captadas pelo telescópio espacial James Webb. Também exibiu fotos de Júpiter tiradas pelo mesmo observatório e ainda teve as capitais brasileiras como modelos fotográficos da estação espacial internacional (ISS).
Betelgeuse
Na mesma semana, depois de analisar dados científicos do Hubble e de vários outros observatórios, um grupo de astrônomos também revelou que a estrela supergigante vermelha Betelgeuse, uma das maiores estrelas já conhecidas, produziu uma gigantesca explosão cerca de 400 bilhões de vezes maior que emissões do tipo provocadas pela nossa estrela, o Sol.
Nesse processo, segundo revelou a Nasa em um comunicado, a estrela perdeu uma parte substancial de sua superfície, produzindo uma gigantesca ejeção de massa várias vezes maior que o tamanho da nossa Lua. A agência explica que isso é “algo nunca antes visto no comportamento de uma estrela normal” e que a supergigante vermelha que fica a cerca de 530 anos-luz da Terra ainda está se recuperando lentamente dessa “reviravolta catastrófica”.
“Nunca vimos uma enorme ejeção de massa da superfície de uma estrela”, afirma Andrea Dupree, cientista do Centro de Astrofísica de Harvard & Smithsonian em Massachusetts, nos Estados Unidos. “É um fenômeno totalmente novo que podemos observar diretamente e resolver detalhes da superfície com o Hubble. Estamos assistindo a evolução estelar em tempo real”, complementa.
Betelgeuse está entre as mais brilhantes estrelas que podem ser vistas no céu noturno. O astro é tão grande que, se ele substituísse o Sol no centro do nosso sistema solar, sua superfície externa se estenderia além da órbita de Júpiter. De acordo com o comunicado da Nasa, a ejeção de material aconteceu em 2019, durou por alguns meses e foi facilmente perceptível mesmo por observadores amadores.
À medida que se afastava a milhões de quilômetros da estrela, o material ejetado formou a nuvem de poeira que bloqueava a luz da estrela aqui na Terra. Os cientistas agora esperam que o supertelescópio James Webb possa ser capaz de detectar o material ejetado pela supergigante, que continua se afastando da estrela.