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18 de abril de 2024 | 4:47
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Ilha de calor: ilhas de frescor

Para quase todos os venenos existe um antídoto. O clima urbano é o resultado de grandes alterações que ocorrem no ar das cidades. Essas altera­ções estão relacionadas principalmente aos materiais usados nas edificações e na implantação do sistema viário que modificam bruscamente as carac­terísticas térmicas da superfície natural, dos ventos e das taxas de evapo­transpiração. O concreto, o asfalto e o alumínio, por exemplo, são materiais que absorvem muito calor e aquecem a camada mais baixa da atmosfera. Adicione-se a isto, as inúmeras atividades humanas no meio urbano que são geradoras de calor, tais como: a circulação de veículos, o funcionamento de fábricas e de serviços, o consumo doméstico de energia e combustível, as constantes construções, as queimadas urbanas, entre outras.

A combinação desses fatores em áreas densamente urbanizadas gera tem­peraturas mais altas em relação aos seus arredores. Este fenômeno é conhecido como ilha de calor. É uma porção da cidade onde o ar é mais quente e menos úmido. A diferença de temperatura dentro de uma mesma cidade pode variar até em 10ºC! Na maioria das grandes cidades brasileiras, o centro e seu entorno imediato costuma ser bem mais quente do que a periferia ou a zona rural. Esta condição atmosférica é prejudicial à saúde pública. Via de regra, a escassez de vegetação nesses locais é visivelmente notada e perceptivelmente sentida.

O que se percebe também é que invariavelmente os bairros novos, surgidos a partir do parcelamento do solo, são mais áridos do que a paisagem rural pretérita. Mesmo com a garantia de porcentagens destinadas para áreas verdes e a obrigação de arborizar calçadas e canteiros de avenidas, não se observa, salvo engano, que nos loteamentos e condomínios novos, ocorra um a melhora da condição microclimática. Se fosse mensurado o balanço hídrico de uma dada área rural e dessa mesma área após sua urbanização, é muito provável que o dé­ficit hídrico seria maior na condição urbanizada. Isto nos leva à hipótese de que não é somente a escassez de vegetação que promove o aquecimento das cidades, mas, sobretudo o modelo de urbanização que impermeabiliza em demasia o solo, que ocupa glebas e lotes com edificações muito próximas e que faz uso de materiais que armazenam muito calor.

Considerando que é a água que consome o calor – que resfria o ambien­te-,é exatamente no reequilíbrio do ciclo hidrológico que é preciso atuar se se deseja reverter o problema da(s) ilha(s) de calor. Assim, o sistema de drenagem adotado historicamente em nossas cidades, que joga rapidamente a água para fora do ecossistema urbano, precisa passar por uma profunda revisão.Na pers­pectiva do clima urbano é necessário que a água pluvial permaneça na cidade por mais tempo, se infiltre pelo solo e subsolo, abasteça lençóis de subsuperfície e aquíferos profundos, e ainda possa suprir a demanda hídrica da vegetação. Esta desempenha a função de relançar na atmosfera a água na forma de vapor através da evapotranspiração das folhas. Uma árvore de grande porte com um bom suprimento de água no solo lança mais de 500 litros de água por dia na at­mosfera na forma de vapor. Todos conhecem a sensação deliciosa de se abrigar em uma sombra generosa em um dia de calor. As árvores são nossas piscinas aéreas; coletivas e generosas.

A solução definitiva para enchentes e aridez nas cidades têm as mesmas soluções: diminuição em larga escala da impermeabilização do solo; áreas permeáveis mais generosas em bairros e lotes e qualificadas para exercer também as funções de abrigar biodiversidade e contribuir com microclimas amenos; uso de materiais que absorvam e emanem menos calor; bem como grandes áreas vegetadas que propiciem a umidificação da camada atmos­férica próxima ao solo. Na escala de lote, de gleba ou de distrito, as soluções são semelhantes e se somam. O desafio a arquitetos e engenheiros civis está colocado. Uma vez aceito, pressionará o mercado a ofertar outros produtos utilizados em pisos, edificações e infraestrutura.

Ilhas de frescor são grandes áreas arborizadas ou reflorestadas.Nestas áreas o ar é mais fresco, mais denso e estável. Já em áreas construídas onde se armazena muito calor, o ar aquecido é mais leve e tende a subir. Essa diferença na densida­de do ar origina uma circulação entre a grande área verde e as áreas edificadas no entorno que terá seu ar renovado e refrescado.
Surge em Ribeirão Preto um programa ambicioso: diminuir em 3ºC a temperatura média da cidade, aumentando em 30% a cobertura vegetal até o ano de 2.030. Que mudanças serão necessárias para perseguir tal meta? Quantas ilhas de frescor serão necessárias? Será possível conseguir tal feito?

Eu estou nessa, pois desejo que o município desenvolva uma resiliência às mudanças do clima e que possua uma qualidade ambiental superior à atual. E você?

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