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29 de março de 2024 | 9:03
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Economia

Indústria volta ao patamar de 2009

Por Douglas Gavras

O resultado positivo do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, de crescimento de 0,2% ante o trimestre anterior, divulgado na sexta-feira (1º) pelo IBGE, sinalizou que a recessão brasileira caminha para o fim. Mas a indústria ainda causa preocupação. Os números mostram que o PIB industrial registrado entre abril e junho está no mesmo patamar do terceiro trimestre de 2009.

O desempenho negativo da construção civil foi o principal fator a derrubar os resultados da indústria no PIB. No segundo trimestre, o setor industrial recuou 0,5% em relação aos primeiros três meses do ano. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, a retração foi de 2,1%. A construção responde por cerca de um quarto da indústria.

“Se olharmos neste instante, os sinais de recuperação da construção civil ainda são mínimos. Há uma perspectiva de retomada a partir do ano que vem, com uma Selic na casa dos 7%, que colocaria o mercado imobiliário em outra realidade”, diz José Carlos Martins, da Câmara Brasileira da Indústria de Construção (Cbic). “O que o nosso setor sente é que ainda é preciso atravessar um rio, seja de que jeito for, para chegar vivo ao outro lado. Ninguém espera resultados espetaculares, a gente só espera chegar vivo.”

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, avalia que, apesar de os resultados da indústria ainda serem preocupantes, há mais sinais de recuperação do que nunca. “Já é possível perceber uma reação no segmento de máquinas e equipamentos, por exemplo. A construção, de fato, demora mais tempo para sair do vermelho, mas ela vai reagir assim que o ambiente econômico estiver mais claro.”

“Para o terceiro e quatro trimestres, há também perspectivas positivas para o segmento de automóveis”, diz Vale. Em agosto, o emplacamento de veículos teve alta de 14,76%, segundo a Fenabrave, que representa concessionárias.

Segmentos da indústria de transformação reclamam, porém, que a taxa de câmbio não tem favorecido uma retomada mais robusta do setor. “Há muito tempo as projeções mostram que o dólar deveria estar um patamar superior, com o real mais fraco, e isso não tem acontecido. A gente tem tido um aumento grande nos nossos custos, seja de energia, seja de insumo de um modo feral, e o real continua fortalecido”, diz Ricardo Neves de Oliveira, diretor executivo do Sinproquim (Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos para Fins Industriais e da Petroquímica). Na indústria química, que detém a quarta maior fatia da indústria de transformação, o crescimento previsto para este ano é de, no máximo, 0,5%.

Fraqueza

Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, lembra que a grande capacidade ociosa que ainda ronda a indústria e posterga investimentos ajuda a entender a queda nos investimentos no segundo trimestre, que voltaram ao mesmo patamar do segundo trimestre de 2009. “A construção civil também não tem ajudado e não deve vir particularmente forte nos próximos trimestres. Para além da economia, um outro fator que atrapalha a volta dos investimentos é a baita incerteza política, a gente não sabe quem vai ser eleito no ano que vem e a escolha vai ser decisiva para os rumos do ajuste fiscal”, diz.

“Quando nos damos conta de que, de todos os componentes do PIB no segundo trimestre, o único com resultado expressivo é o consumo da famílias, não dá para fechar olhos. Ainda faltam componentes dinâmicos, para continuarmos crescendo”, diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

Consumo

No campo positivo, o consumo das famílias até ajudou a embalar o PIB do segundo trimestre, mas o resultado do segundo trimestre ainda ficou distante do pico da série do IBGE, registrado no último trimestre de 2014, data da reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff e antes do agravamento da crise.

As exportações também atingiram números expressivos no segundo trimestre, principalmente por conta do petróleo, soja e minério. “O segundo semestre deve manter o ritmo de mais exportações do que importações, até pelo reflexo da baixa demanda interna”, analisa José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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