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29 de março de 2024 | 7:43
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Inumeráveis – Site homenageia mortos por covid-19

Com o estabelecimento de protocolos de prevenção contra a covid-19, funerais de todo o país passaram por modificações, de modo que parte das pessoas em luto sente que não se despede propriamente de seus entes queridos. Para conservar a memória das vítimas da do­ença, voluntários de todos os cantos do Brasil se juntaram para lançar o projeto Inume­ráveis (inumeraveis.com.br), por iniciativa do artista Ed­son Pavoni.

O projeto destaca que du­rante pandemias, a tendência é que as pessoas virem núme­ros, estatísticas. “Estatísticas são necessárias. Mas palavras também. Se nem todas as ví­timas tiveram a chance de ter um velório ou de se despedir de seus entes queridos, que­remos que tenham ao menos a chance de terem a sua histó­ria contada.”

“Não há quem goste de ser número. Gente merece existir em prosa”, diz o site, que reú­ne centenas de homenagens. O grupo salienta ainda que visa “reverter a lógica fria pela qual a pandemia está sendo tratada no país” e que “por trás dos números em crescimento, de falas e ati­tudes irresponsáveis de go­vernantes, estão histórias de milhares de brasileiros”.

ALFREDO RISK

Sepultamento em tempos de covid-19 exige mudança de rituais
Diante da pandemia do novo coronavírus, deze­nas de famílias se viram obrigadas a passar pelo processo de morte e luto de um ente querido à distância. Sem velórios ou com um número reduzido de pessoas e de tempo, com caixões lacrados, os enterros em tempos de covid-19 exigiram mudanças como participação de parentes via chamada de vídeo, rituais religiosos pela internet ou mesmo cerimônias solitárias.

“Os rituais diante da morte são muito impor­tantes, porque regularizam as experiências, for­necem um lugar seguro, desde um lugar físico, até um lugar afetivo importante para expressão das emoções, para que as pessoas possam enfrentar este momento juntas. Com a covid -19, esses rituais, que tinham função apazigua­dora, organizadora, não estão acontecendo, e isso representa um risco para o luto complicado após a morte, porque não foram feitas as despe­didas” afirma a coordenadora do Laboratório de Estudos e Intervenções sobre Luto da PUC-SP, professora Maria Helena Pereira Franco.

A docente prevê um tempo bastante difícil no que diz respeito à saúde mental e o luto. “As pessoas que apresentam um luto complicado vão ter algumas demandas que precisarão ser atendidas, como por exemplo, buscarão mais os serviços de saúde, pois ficarão mais atentas a algum sintoma, terão mudanças no sistema imunológico, ficando mais suscetíveis a adoecer”.

Ela explica que haverá impacto também no âm­bito social, na relação com grupos maiores, nas relações familiares. “Inclusive, por não terem a oportunidade de se despedir, podem ficar com a expectativa de que aquela morte não aconteceu, porque não tiveram a concretude da morte que os rituais proporcionam”. Para Maria Helena, é importante pensar em alternativas e adaptações a esta falta, justamente porque é importante que o luto seja feito, nem que seja uma reunião onli­ne com amigos e familiares da pessoa falecida.

Velórios em Ribeirão Preto em horários alterados
Com o decreto 69/2020, que prevê recomendações e determinações sobre as medidas preventivas e repreensivas ao enfrentamento da covid-19, assinado pelo prefeito Duarte Nogueira, no dia 19 de março, os velórios de Ribeirão Preto tive­ram alterados os seus funcionamentos.

A quantidade foi limitada em 10 pessoas e o horário de funcionamento passou a ser das 7h às 19h. Caso não ocorra o sepul­tamento até às 17h, os velórios deverão ser fechados e reabertos somente no dia seguinte. Na prática, as famílias estão realizando velórios rápidos, em torno de duas horas de duração.

Homenagens
“Adalberto Álvares Almeida. 1966 – 2020. O carnaval em pessoa”.
“Seisho Inamine. 1950 – 2020. Pai e avô dedicado, de poucas palavras, mas de muito afeto nos pequenos cuidados diários”.
“Ademir Castro Pinto. 1950 – 2020. Entre peixes e pequenos presentes, suas demonstrações de afeto que jamais serão esquecidas”.
“Magali Garcia. 1974 – 2020. A vida é feita para ser vivida. Onde chegava, sua gargalhada era notada. Policial da Polícia Militar de São Paulo, era linda, amava a vida e adorava o que fazia”.
“Lucila Santana Alves. 1943 – 2020. Batatinha gostava de conversar com suas plantas. Viúva, criou os 9 filhos graças ao trabalho na roça”.
“Talita Dentello. 1984 – 2020. A madrinha que todos queriam em seu casamento e dona de uma luz que acolheu quem conviveu ao seu lado”.

Histórias e relatos de pessoas próximas, assim são as homenagens às vítimas da covid-19 de várias idades, profissões e de várias regiões do país que estão no site Inumeráveis.

Na página principal há o nome, idade e uma frase. Ao clicar no nome, abre-se outra página onde consta depoimentos emocionantes.

Por exemplo, sobre o médico endocrinologista Maurício Barbosa Lima, descobre-se que era visto como uma pessoa disponível e que fez a diferença por onde passou. Já a paraense Maria José Assunção, que teve a vida interrompida pela doença aos 64 anos de idade, é descrita como uma mulher guerreira e que deixará um legado de amor e solidariedade.

Como homenagear
Para participar, familiares das vítimas podem enviar um relato à equipe do projeto, mediante o preenchimento de um formulário ou por áudio de WhatsApp (há um link no site).

Jornalistas, estudantes de jornalismo, escritores, contadores de histórias e pessoas em geral que tenham habilidade com escrita também podem colaborar, redigindo textos a partir de entrevistas dos familiares das vítimas ou de histórias já veiculadas em outras plataformas, indicando o devido crédito e link para a fonte da postagem original.

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