24 C
Ribeirão Preto
20 de abril de 2024 | 0:08
Jornal Tribuna Ribeirão
Início » Juros levam R$ 475,6 bilhões de brasileiros
Economia

Juros levam R$ 475,6 bilhões de brasileiros

MARCELLO CADAL JR./AG.BR.

Após a maior recessão eco­nômica da história do Brasil, as taxas de juros no País seguem em níveis elevados. Em 2017, as empresas e famílias brasilei­ras pagaram, juntas, R$ 475,6 bilhões em juros, alta real de 11,8% em relação a 2016. O va­lor corresponde a 7,3% do Pro­duto Interno Bruto (PIB) do ano passado. Os dados foram obti­dos com base no estudo sobre os impactos recentes do crédito sobre as empresas e famílias bra­sileiras realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

O estudo mostra que houve aumento no montante de juros pagos, apesar do ciclo de quedas na Selic e da própria redução na oferta total de empréstimos. No ano passado, as famílias brasi­leiras pagaram R$ 354,8 bilhões em juros, alta real de 17,9% em relação a 2016, e que corres­ponde a 10,8% da renda anual das famílias. Isso significa que o pagamento de juros, em termos individuais, representou um dos maiores itens de despesa das famílias, superando o dispên­dio total por ano com grupos de itens de gastos domésticos, como de educação e vestuário.

Para se ter uma ideia do va­lor gasto, a soma dos juros pagos pelas famílias representa 372 milhões de vezes o valor do sa­lário mínimo atual (R$ 954); ou, ainda, 82 vezes maior que o va­lor da seleção brasileira da Copa de 2018 (981 milhões de euros, equivalente a R$ 4,3 bilhões). Com esse valor, daria ainda para custear 8,6 Olímpiadas do Rio de Janeiro (R$ 41 bilhões). Por outro lado, o valor de emprés­timos atrasados há mais de 90 dias teve redução de 11,3% em relação a 2016, totalizando R$ 44,7 bilhões.

Ou seja, a taxa de inadim­plência sobre o saldo total dos empréstimos caiu de 6,1% para 5,3% entre 2016 e 2017. Embora a inadimplência das pessoas físi­cas seja uma das questões mais preocupantes atualmente, isso se dá muito mais em decorrên­cia da sua alta disseminação em termos do grande conjunto de famílias inadimplentes do que propriamente de seu volume agregado, que representa 1,4% do total do rendimento anual do conjunto das famílias brasileiras e 0,7% do PIB. Tal quadro afasta qualquer risco de descontrole sistêmico no nível de inadim­plência no Brasil.

Segundo a Federação, o va­lor das dívidas em atraso, quan­do comparado com o volume de juros pagos (12,6%) é um indicativo do espaço existen­te de redução da taxa de juros de forma a viabilizar um nível praticamente pleno de solvên­cia dos endividados. Em outros termos, se a taxa cobrada ao longo de 2017 tivesse sido 13% inferior àquela efetivamente praticada (67,8%), seu patamar teria sido perto de 54%, ainda bastante elevada e atrativa para os interesses do sistema finan­ceiro, mas poderia ter permi­tido uma economia de quase R$ 70 bilhões na despesa com juros para as famílias, valor 60% maior do que o total da inadimplência existente.

Já o montante de juros pagos pelas empresas atingiu R$ 120,8 bilhões em 2017, queda de 3% em relação ao ano anterior. Após ter atingindo R$ 131,1 bilhões em 2015, esse montante vem caindo – refletindo a forte con­tração do ritmo de atividades no período, que inibiu a tomada de crédito. Entre 2014 e 2017, o volume de crédito com recursos livres para pessoa jurídica caiu 24%, em termos reais, o que re­presenta uma redução de R$ 230 bilhões na oferta de recursos.

O valor agregado da inadim­plência das empresas no Brasil também recuou, passando de R$ 40,4 bilhões no fim de 2015 para R$ 33,3 bilhões em dezembro de 2017, queda real de 16,7% em relação ao ano anterior. De acor­do com a assessoria econômica da FecomercioSP, os resultados obtidos no ano passado eviden­ciam o papel relevante exercido pelo crédito no início do proces­so de recuperação econômica do País, iniciado no período.

As famílias retomaram o consumo de bens duráveis, e a expansão dos empréstimos so­mente não foi maior por cau­sa dos altos juros praticados, que permaneceram em alta. As empresas ainda mostraram preocupação com os fortes im­pactos recessivos dos dois anos anteriores e, valendo-se do alto nível de seus estoques, conse­guiram atender à elevação da demanda e reduzir seus níveis de inadimplência sem elevar a busca por crédito.

Mais notícias