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28 de março de 2024 | 5:44
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Maio da princesa e da rainha

O Brasil teve uma princesa. Isabel passou para a história por ter assinado em 1988 a Lei Imperial nº 3353, conhecida como Lei Áurea que decretou extinta a escravidão no Brasil. Com a proclamação da República, em 1889, teve que fugir para o exílio e morreu na Normandia, França, no dia 14 de novembro de 1921. Em 1953 seus restos mortais foram levados para o Rio de Janeiro e depositadosno Mausoléu da Catedral de Petrópolis.

Durante muito tempo as narrativas sobre escravização e li­bertação foram romantizadas. Hoje sabemos que a Lei Áurea foi consequência de muita pressão externa e da mobilização de setores da sociedade local, associado a fugas em massa e desobediência civil. Enquanto o Haiti foi o primeiro país a abolir a escravidão na América em 1794, o Brasil foi o último.

A celebração naquele dia 13 de maio foi grande com mi­lhares de pessoas em volta do Senado e do Paço Imperial, teve bandas, desfiles e muita festa, porém o dia 14 e os 133 anos seguintes foram de novas lutas e dificuldades para os libertos e seus descendentes. Faltaram políticas públicas para a garan­tia de inclusão social. Sem terra, sem emprego, sem educação e outras condições mínimas, além da chegada crescente de imigrantes melhor remunerados, o país antes dividido entre senhores e escravos passou a ser dividido entre negros e bran­cos. A libertação continua incompleta até hoje.

Assim, o movimento negro deixou de comemorar o 13 de maio e assumiu o 20 de novembro, data de nascimento do herói Zumbi dos Palmares para destacar a cultura afro-bra­sileira e a necessidade de debater e adotar ações concretas contra a desigualdade social, o racismo, o preconceito e a discriminação racial.

Neste ano, a melhor referência para homenagens no mês de maio é o centenário de nascimento de Ruth de Souza que foi a primeira atriz negra a encenar no Theatro Municipal do Rio com a peça “O Imperador Jones”. Fez parte do Teatro Ex­perimental do Negro, em 1945, grupo organizado por outro ícone dos movimentos sociais, o ativista, ator e político Ab­dias do Nascimento. Ela também foi a primeira atriz negra a protagonizar uma telenovela: A Cabana do Pai Tomás (1969).

Ao longo da carreira, sempre cobrou espaço para os negros nos diversos setores culturais. Brigou para a exis­tência de diversidade de papéis, fugindo dos tradicionais personagens caricatas ou ridicularizados. Primeira artista nascida no Brasil a ser indicada ao prêmio de melhor atriz em um festival internacional: o Leão de Ouro, no Festival de Veneza de 1954, com dignidade e altivez invejáveis, levou seus princípios éticos, artísticos e profissionais por onde pas­sou e tornou-se referência para diversas gerações de artistas negros que, se hoje, possuem espaço na dramaturgia, muito se deve a ela.

Ruth Pinto de Souza faleceu em 28 de julho de 2019, aos 98 anos e, ao longo dos 70 anos de carreira, participou de 30 peças teatrais, 40 novelas, 30 filmes e várias outras produções. Todas as homenagens, ainda, são poucas para a rainha sem trono, mas que sempre reinará em nossos corações.

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