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28 de março de 2024 | 9:09
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Muito discurso e pouca prática

Passam-se os anos e as administrações públicas não se preocupam em mudar a situação comum de descaso com a vida dos bichos desamparados das cidades. Como se eles não existissem, não sentissem dor; não tivessem sentimentos, não sofressem com o descaso de alguns cidadãos que normalmente, à margem de tudo (educação, saneamento, saúde, emprego), óbvio, também não tem respeito aos animais e os abandonam.

O interessante é que as autoridades em seus chamados “seios familiares” possuem animais de estimação. E normalmente os tratam bem, os respeitam, fazem “parte da família”, gostam de dizer. E mesmo assim, não compreendem que mesmo aquele mais egoísta sentimento, que é de não se preocupar com um “próximo”, não pode valer para os animais. Eles não decidem por si; apenas agem por instinto. Se são bem tratados, ficam; caso contrário, fogem. A chamada Lei da natureza.

É por isso que o poder Público não pode ser indiferente; não pode ser omisso. Uma paciente que precisa de uma cirurgia especial ou um medicamento caro, um atleta sem condições de viajar para participar de uma competição, uma creche precisando de um tipo de produto, um paciente precisando de um tipo raro de sangue… São todas situações em que o Estado teria obrigação de suprir, mas não vivemos no mundo de Nárnia, nem Thomas Morus conseguiu convencer os homens de bem a serem mais fortes que os imbecis, os hipócritas e os mal intencionados.

As pessoas, necessitadas de toda (falta de) sorte, acabam pedindo dinheiro nas ruas, vendem rifas, pizzas, vão à imprensa e o escambau! É o melhor caminho? Claro que não, mas muitas vezes (referenciados pelas tais ‘linhas tortas’, mas com destino), acaba dando certo.

Mas e os animais? Quem pensa neles da mesma forma? Pouquíssimos cidadãos (mesmo aqueles que vão às missas aos domingos) se sensibilizam – ou melhor – e tomam uma atitude em relação a um cão atropelado, um gato abandonado no Morro São Bento ou com os sagüis que correm nos fios de alta tensão na Arnaldo Victaliano.

O caso da vez em Ribeirão Preto é o do cão “Jon”, que atropelado, com múltiplas fraturas, uma bicheira na orelha e mais um monte de desgraças, chegou a ser recolhido na Coordenadoria do Bem-Estar Animal (Cbea), mas que não recebeu de lá nenhum cuidado, mesmo agonizando por mais de 30 horas.

Uma munícipe teve que resgatá-lo (na verdade enfrentando todo um processo de adoção, porque em burocracia, o poder público é eficiente) e tentar cuidados, infelizmente, em vão. Jon morreu e com ele, mais um bom pedaço das nossas esperanças em um mundo mais humano, um mundo em que se respeite também os animais.

Na mesma página deste Tribuna em que saiu a reportagem com a história do Jon, leu-se também que o atual Legislativo de Ribeirão Preto pretende (ou pretendia) criar mais duas gratificações para ajudar sete funcionários da Casa que teriam sido “esquecidos” pelos atos da Mesa nas gestões anteriores. Isso custará – ou custaria – cerca de R$ 237 mil por ano aos cofres públicos. Aliás, falando nisso, cada vereador – pela média – custa por ano quase R$ 2 milhões aos cofres públicos, numa conta, claro, genérica de R$ 65,5 milhões de orçamento divididos por 27 cabeças. O custo de uma única cadeira – ou talvez somente o dinheiro das novas gratificações pretendidas pelos vereadores para poucos, certamente sanearia todos os problemas dos combalidos animais de rua de Ribeirão Preto. Se você, leitor, pudesse escolher, com qual causa ficaria?

Ah sim, voltando ao caso do ‘cadelo’ Jon, a coordenadora de Bem-Estar Animal, Carolina Vilela bateu boca pelas redes sociais com quem reclamou da indiferença do poder público, minimizando a grita. A Prefeitura, por sua vez também emitiu uma nota contestando as críticas dos protetores de animais. Jon está morto, mas mesmo que vivo, de nada iria adiantar essas ações ou reações: ele não sabia ler.

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