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28 de março de 2024 | 17:52
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Música e futebol, isso dá samba

A música e o futebol sempre caminharam lado a lado. Conheço uma pá de jogadores que gostam de cantar e tam­bém cantores que sonhavam brilhar nos gramados. Nos dias de hoje, é comum esse “sambarilove”, até o Neymar invade palcos com seu amigo, o pagodeiro Tiaguinho – não acho que ele cante samba, é uma correria e falta linha melódica. Essa geração acelerou o samba, já disse o mestre Paulinho da Viola. Eu continuo gostando do samba à moda antiga.

Fagner sonhava em ser jogador, tanto que até montou um time em Fortaleza que se chamava Beleza FC… Morando no Rio de Janeiro, aproximou-se de craques como Zico, de quem é compadre, e até batizou um de seus filhos, Virou super amigo de Sócrates, os dois sempre armavam uma pelada. Quando foi jogar no Corinthians, o Magrão até gravou um LP só de clássicos serta­nejos e participou de gravações de vários amigos cantores.

Com Renato Teixeira, gravou “Vicente Pedra”, música em que brincavam com as confusões que Vicente Matheus dizia em entrevistas, como “Isso é uma faca de dois legumes”, “obrigado a Antártica pelas Brahmas que me enviou” e muitas outras. Com Toquinho, Sócrates gravou “Corinthians do meu coração”, em homenagem ao time de ambos.

Chico Buarque, quando menino, morava em São Paulo e ia ver o Santos jogar, time que tinha um centroavante de nome Pagão que o encantava com sua categoria, tanto que cresceu imitando-o em gestos e no jeito de correr. Certa vez, já famoso, foi conhecer Pagão, já aposentado, e confessou que era fã dele, o que deixou o veterano craque numa alegria só. Chico construiu um campo no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, e montou seu time, o “Politeama”, onde ferrenhos campeonatos são disputados. Lá jogam ex-craques e músicos apaixonados pelo esporte bretão.

Já contei aqui, mas acho que vale a pena rememorar. Certa vez, Reinaldo (apelidado de “Rei”), camisa 9 do Atlético Mineiro e da Se­leção Brasileira, armou um jogo beneficente no Estádio Centenário, campo do América, em Belo Horizonte –é lógico que depois rolou aquele churrasco e muito chope. A partida seria entre os veteranos do Atlético Mineiro contra o time dos cantores. Fagner convocou seus artistas boleiros e levou Sócrates como reforço.

Hoje o estádio está maravilhoso, mas, naquela época, não era assim, as arquibancadas eram de madeira com alambra­dos de proteção. Fagner me contou no apê do Magrão, aqui em Ribeirão Preto, que foi a noite mais emocionante de sua vida. Ele ficou uma fera, pois Reinaldo colocou em campo os titulares do Atlético, ele dizia a Sócrates que o “Rei” o enga­nou, e o Magrão repetia a Fagner: “’Magrelo’ – era assim que o Doutor o tratava em campo –, os titulares querem apenas participar desta maravilhosa festa, sacou? Fique lá na frente que vou te enfiar umas bolas de três dedos.”

Começa o jogo, campo lotadaço, principalmente de torcida feminina querendo ver Fagner, Chico Buarque, João Nogueira, Carlinhos Vergueiro e outros cantores. De cara, os inimigos fizeram 1 a 0, e Fagner chiou: “Não te falei, Magrão, vão nos ensacar.” Sócrates, colocando panos quentes, dizia: “Fique lá na frente, ‘Magrelo’.”

Como uma premonição, enfiou uma bola de três dedos e Fagner, oportunista, fez o gol, empatando o jogo. Envolvido pela emoção, até subiu no alambrado –e a galera junto. Voltaram para o segundo tempo, o Atlético colocou os veteranos. O jogo estava 1 a 1, e numa outra bobeada da zaga adversária, Sócrates, em outro passe clássico, deixou Fagner na cara do gol, e ele fez de novo.

Foi aquela festa, bola rolando e a dez minutos do final, Só­crates enfiou uma bola açucarada pro Chico Buarque, que fez um golaço. Fagner disse que foi uma loucura geral, a torcida invadiu o gramado e carregou os artistas nos ombros. O jogo acabou antes da hora, mas a festa foi até o dia clarear.

Sexta conto mais.

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