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19 de abril de 2024 | 9:08
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Neurociência da Educação (1)

Educação é, essencialmente, uma ciência cognitiva, contudo, o campo da educação tem uma história complicada enquanto disciplina científica. Atualmente, tanto estudiosos, quanto a mídia, têm destacado disparidades nos escores das avaliações internacionais por parte dos estudantes brasileiros, os quais, usualmente, situam-se entre os piores avaliados nas mesmas, para não falar do quão distantes os mesmos estão dos estudantes das nações economicamente mais desenvolvidas. A consequência disso? Discussões trazerem à tona a natureza da ciência da educação e suas práticas escolares baseadas em evidências científicas. Concomitantemente, tem havido um crescente interesse na possibilidade de a neurociência cognitiva poder conectar educação, aprendizagem e cérebro de um modo, até então, não estudado. De fato, é enorme a carência, nas escolas, em conhecer como o cérebro funciona quando estamos aprendendo. E neste contexto, são muitos os professores ansiosos por conhecer os benefícios da neurociência para seus estudantes. Por adição, nos laboratórios de neurociência, um considerável progresso em entender o desenvolvimento cognitivo determinante das habilidades essenciais ensinadas pelos educadores, como, por exemplo, letramento e numeramento, tem ocorrido. Entretanto, é grande a lacuna entre neurociência e educação a ser transposta.

Como reflexo de tal distanciamento, algumas universidades em Londres e Cambridge criaram centros de neurociência educacional visando agregar estudiosos interessados em neurociência cognitiva, psicologia do desenvolvimento, psicologia educacional, psicologia cognitiva, genética do comportamento, tecnologia educacional, teoria da educação e outras disciplinas relacionadas para explorar a relação entre processos biológicos, neurais e educação. Tais pesquisadores em neurociência educacional investigam os mecanismos neurais da leitura e da cognição numérica, atenção e déficits de atenção (dislexia, discalculia, transtorno do déficit de atenção) na perspectiva de como estes se relacionam com educação.

Os pesquisadores nessa área tentam conectar os achados científicos básicos em neurociência cognitiva com as tecnologias e estratégias educacionais para ajudar a implementação curricular subjacente às habilidades escolásticas básicas, buscando as bases neurais da aprendizagem e do ensino capazes de subsidiar, e informar, apropriadamente, a educação. Em outras palavras, o grande objetivo da neurociência educacional é reduzir a lacuna entre os dois campos através de um diálogo direto entre pesquisadores e educadores, evitando, com isso, a penetração dos conhecidos “atravessadores” da indústria de aprendizagem baseada no cérebro, os quais se revestem de interesse comercial em vender os neuromitos e seus paliativos.

Em livro intitulado “The learning brain – lessons for education: a précis”, os autores destacam a importância de ancorar a educação em evidências baseadas na neurociência. Partindo da ideia de que o cérebro tem evoluído para educar, e ser educado, sem esforço e instintivamente, afirmam que, entender os mecanismos cerebrais que subjazem à aprendizagem e à ensinagem, poderia transformar as estratégias educacionais, capacitando-nos a delinear programas educacionais que otimizam a aprendizagem para pessoas de todas as idades e necessidades. Argumentando que é vasta, atualmente, a quantidade de pesquisa sobre o cérebro, os autores confirmam sua relevância direta para a prática, e a política, educacional. Entretanto, devido à falta de interação entre educadores e cientistas do cérebro, a mesma nunca tem sido plenamente efetivada, o que gera o fato de atravessadores estarem vendendo, aos educadores, fabulosas mágicas cerebrais.

Com isso, pelo menos duas razões podem emergir dos esforços de reunir neurociência e educação: a primeira sendo a imensa boa vontade que professores e educadores, sentindo que há potencial para fazer descobertas importantes sobre aprendizagem humana, têm em relação à neurociência, para com elas contribuindo com ideias e sugestões; a segunda, que, talvez, não sejam os neurocientistas os mais bem posicionados para se comunicarem com professores de maneira contínua; neurocientistas precisam, antes, conhecer o real ambiente de ensinagem para, só então, levantarem hipóteses sobre o mesmo a serem investigadas em laboratório.
Em resumo, analisar mecanismos concretos que possam avançar o estudo da mente, cérebro e educação é algo que poderá beneficiar tanto educadores quanto neurocientistas cognitivos, os quais ganharão novas perspectivas para posicionar, e responder, questões cruciais sobre o cérebro aprendendo.

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