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18 de abril de 2024 | 3:09
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O Baobá do Poeta

Meu querido amigo Feres Sabino – colega no Otoniel Mota e na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco – publicou, semana passada neste espaço, saborosa crônica sobre Antoine de Saint-Exupery e seu livro O Pequeno Prín­cipe, que povoou e povoa a imaginação e o encantamento de muitas gerações.

Peço licença para continuar no tema, falando do Baobá do Poeta, existente em Natal (RN), árvore que teria servido de inspiração para o escritor. Saint-Exupery, além de escritor, foi também aviador do Correio Aéreo francês e, em 1939, se encantou com o baobá existente no terreno da casa onde se hospedou, em sua passagem pela capital potiguar.

E colocou a espécie em seu livro como perigosa para o pe­queno planeta do príncipe, tão grande que era. Alertava que ele devia eliminar as mudas tão logo nascessem, pois cresce­riam tão grandes que não caberiam no mundo imaginário do personagem.

Anos atrás, numa reunião em Natal de um grupo de con­cessionários VW que se encontram bianualmente para troca de experiências, manifestei para nossa anfitriã minha vontade de conhecer a árvore. Para minha surpresa, ela nunca tinha ouvido falar dela, embora nativa e moradora da cidade há muitos anos. Com a gentileza que a caracteriza até hoje, ela movimentou seus conhecimentos e, logo na manhã seguinte, fomos, minha mulher e eu, conhecer o Baobá do Poeta.

Na parte alta do bairro Lagoa Nova, e onde se avista o belo mar da cidade, está o baobá gigantesco, de mais de 20 metros de altura e oito metros de circunferência. Quando se proce­deu a urbanização daquela parte da cidade, cogitou-se em derrubar a árvore, que foi salva pela iniciativa do advogado e professor de Direito, Diógenes da Cunha Lima, atual presi­dente da Academia Norte-riograndense de Letras. Ele com­prou o terreno de 700 ms onde se localiza a árvore, cercou-o e doou-o para a Universidade Federal do Rio Grande do Norte com a condição que se preservasse a árvore.

É um espetáculo belíssimo de se ver, o enorme vegetal de vasto tronco, que parece ter sido plantado ao contrário – as raízes no alto, a copa na terra. Há poucos baobás no Brasil. Diz a lenda que suas mudas e sementes foram trazidas pelos sacerdotes escravos, que consideravam a árvore própria para seus cultos e ritos.

O baobá é nativo da África, vive mais de 2.000 anos, é pa­rente distante de nossa paineira, cujo tronco com ela se asse­melha em algumas espécies. Este assume várias formas, desde toletes carrancudos de 10 metros de diâmetro, com poucos galhos e raras folhas até formas de bombonas, troncos gordos e inchados. É considerada árvore sagrada naquele continente.

Prática antiga, os chefes de tribos que se destacavam eram enterrados no seu caule, que mumificava o cadáver. Como vivem muitos anos, era o mausoléu ideal para os falecidos.

O meu também querido amigo Sérgio Roxo da Fonseca, em várias matérias, fala da existência de um baobá na praça XV de Novembro de nossa cidade e que teria desaparecido. Como é testemunha insuspeita e autoridade em nossa histó­ria, fico pensando sobre a perda que tivemos da possibilidade de contar com uma árvore milenar, que guarda um pequeno microcosmo de insetos e animais, além de ser testemunha das transformações que ocorreram em nossa cidade.

O respeito que temos por seres tão longevos – além dos bao­bás, o milenar jequitibá-rosa de Vassununga, em nossa região – talvez seja a forma de projetar o que desejaríamos que fosse nossa curta vida dentro da vasta existência da humanidade.

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