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20 de abril de 2024 | 13:12
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O ódio é produzido pela revolta

Jessé de Souza publicou no seu blog no último dia 8 um excelente artigo analisando, com a profundidade de um sociólogo, a presente realidade política do país. Com uma linguagem direta e felina, ele destrincha os interesses de classe envolvidos na última eleição presidencial e nas disputas intestinas do governo que envergonham o país. Jessé parte do argumento de que a eleição de Bolsonaro foi um “protesto da população” financiado e produzido pela elite colonizada e sua mídia venal. “Uma sociedade empobrecida […] elege o mais nefasto político que os 500 anos de história brasileira já produziu”, escreveu ele.

A elite de proprietários é a única classe social que entra no jogo sabendo exatamente o que quer. Para ela, o que conta é a captura do orçamento público via “dívida pública” e juros extorsivos. Para Jessé de Souza, o Estado é o seu “banco parti­cular” para encher o próprio bolso. A reforma da Previdência é apenas a última máscara desta compulsão à repetição. A classe média e os empobrecidos são abertamente manipula­dos pela elite e participaram também do esquema, sempre contra seus melhores interesses.

“A classe média real entrou em peso no jogo, como sem­pre, contra os pobres para mantê-los servis, humilhados e sem chances de concorrer aos privilégios educacionais de que desfruta. Os pobres entraram no jogo parcialmente, o que se revelou decisivo do ponto de vista eleitoral, pela manipulação de sua fragilidade e pela sua divisão proposital entre pobres decentes e pobres “delinquentes”. Esses dois fatores juntos, a guerra social contra os pobres e entre os pobres, elegeram Bolsonaro e sua claque”, opina Jessé de Souza.

A eleição do ano passado foi um protesto contra o desen­volvimento experimentado pela sociedade brasileira desde 1988, aprofundado a partir de 2002. Vivíamos um processo de aprendizado coletivo raro na nossa história. Para produzir o atraso e mascará-lo como avanço, a elite produziu o pretexto, já velho de cem anos, da suposta luta contra a corrupção. “Sérgio Moro incorporou esta farsa canalha como ninguém”, afirma Jessé. A corrupção é a única legitimação da elite brasileira para manipular a sociedade e tornar o Estado seu banco particular.

Ganha a eleição, começam as brigas intestinas entre interes­ses muito contraditórios que haviam se unido conjunturalmen­te na guerra contra os pobres e seus representantes. Bolsonaro é um representante típico da baixa classe média raivosa, cuja face militarizada é a milícia, que teme a proletarização e, portanto, constrói distinções morais contra os pobres tornados “delinquentes” (supostos bandidos, prostitutas, homossexuais, etc.) e seus representantes, os “comunistas”, para legitimar seu ódio e fabricar uma distância segura em relação a eles.

O discurso de ódio da classe média era o único remédio contra a volta do PT ao poder. Para Jessé de Souza, “como a elite e sua imprensa querem o saque do povo, e para isso se aliam até ao diabo, ou pior, até a Bolsonaro, sua escolha teve este sentido. O ódio, por sua vez, é produzido pela revolta de quem não entende por que fica mais pobre e a única explica­ção oferecida pela mídia venal é o eterno “bode expiatório” da corrupção”. Como se chega com esse discurso manipulador também nas classes baixas? O voto da elite e da classe média no Brasil não ganha eleição nenhuma. Este é um país de po­bres. Voltaremos a este assunto no próximo sábado.

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