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19 de abril de 2024 | 23:14
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O Palace não é lugar para burocracia

O Centro Cultural Palace, de grande visibilidade na área central de Ribeirão Preto, até porque faz parte do Quarteirão Paulista, tem uma história que merece ser relembrada. A partir dos anos 1920, o centro da cidade tornou-se um ponto de referência para a iniciativa privada direcionar seus investimentos. Até então, o eixo de desenvolvimento ficava nas imediações da estação ferroviária, área que viria a ser cha­mada mais tarde de “Baixada”. Em muito pouco tempo, a paisagem do centro da cidade iria mudar radicalmente. É necessária esta introdu­ção para compreender o contexto em que aparece o Palace.

Em 1926, era inaugurado o Central Hotel, mais tarde chamado Palace Hotel. Seu proprietário era Adalberto Henrique de Oliveira Roxo, próspero comerciante de café. Mas pouco tempo depois da inauguração, Adalberto vendeu o hotel para a Cervejaria Paulista, empresa criada em 1914 para concorrer com a Cervejaria Antarctica Paulista no ramo de bebidas. A Paulista planejava construir um con­junto arquitetônico imponente, composto por um teatro, o Pedro II, e um prédio de escritórios, o Meira Júnior, que, a partir de 1978, passou a abrigar o Pinguim II.

Mas o primeiro edifício que veio a se integrar a este conjunto foi o Central Hotel. Para isso, ele passou por uma grande reforma em sua fachada. E virou um hotel de luxo, da elite, com banquetes e festas memoráveis, como muito bem descreveu o saudoso Rubem Cione. Passou a se chamar Palace Hotel. Nasceu assim o Quarteirão Paulista, nosso cartão postal do centro da cidade.

Em 1982, o Condephaat, o conselho de patrimônio do Estado, determinou o tombamento do Palace Hotel e do Theatro Pedro II e, em 1993, o tombamento de todo o Quarteirão Paulista e da Praça XV. Em 1996, a Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto permutou o Palace Hotel com a Antarctica. Iniciou-se então um longo processo de recu­peração do prédio, acompanhado de perto pelo Conselho Municipal de Cultura, grande responsável pela mudança do Hotel para Centro Cultural. No dia 20 de outubro de 2011, as portas do Palace foram abertas novamente, e começou a ser escrita uma nova história.

Um dos embates mais sérios do Conselho de Cultura com a administração da prefeita Darcy Vera foi quando ela quis instalar a Secretaria de Turismo dentro do Centro Cultural Palace. Para que isso acontecesse, os dirigentes desse Conselho à época chegaram até a adulterar ata de reunião do Conselho para prorrogar o seu próprio mandato, já vencido, e aprovar a tal instalação. Eu era conselheiro e denunciei o caso ao Ministério Público. Ata e reunião anuladas, o Conselho acabou aprovando a instalação provisória do Turismo no Palace, atendendo as ponderações da Prefeitura.

Mas qual era o problema? É que a Lei Complementar nº 571/1996 que autorizou a desafetação de rua e permuta com a Cervejaria Antárctica Niger S/A, do Palace Hotel, afirma expressamente no seu artigo 4º: “O planejamento de uso, destinação e ocupação do imóvel à Rua Álvares Cabral nºs 322/353 (prédio do Palace) será feita pelo Conselho Municipal de Cultura e ficará subordinado à administração da Secretaria Municipal da Cultura”. E também no Regimento Interno do Centro Cultural Palace, publicado no Diário Oficial do Município em 28/08/2009, no seu artigo 3º, afirma-se expressamente: “Nenhuma entidade pública ou privada poderá instalar-se administrativamente em suas dependências”.

A Secretaria de Turismo já se retirou do Palace, mas, agora, a atual secretária da Cultura pôs na cabeça de transferir para ali toda a estrutura administrativa de sua secretaria, meio que “passando a boiada”. A Secre­tária da Cultura quer contrariar a lei e o Regimento Interno do Centro Cultural para satisfazer caprichos pessoais. E, mais uma vez, tratorando o Conselho de Cultura. Logo ela que já foi uma guerreira dentro deste conselho. O Centro Cultural Palace é um centro de cultura, com ênfase na formação e apresentações, e seus “espaços deverão ser destinados ao uso comum de todas as áreas culturais e artísticas” (Regimento Interno). Será que a história vai se repetir? Como tragédia ou como farsa?

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