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18 de abril de 2024 | 7:03
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O rei da voz

Filho de imigrantes portugueses, José e Isabel Alves, Francisco Alves nasceu em 19 de agosto de 1898, no Rio de Janeiro, onde o pai era dono de um botequim. Chico abandonou os estudos para ser engraxate e, depois, operário na fábrica de chapéus, ao pé do morro da Mangueira. Já admirava Vicente Celestino e, para ouvi-lo, entrava nos teatros como claque (para bater palmas) do cantor, no final dos anos 10.

Chico Alves começou a carreira aos 20 anos, em 1928, quando se apresentou no Pavilhão do Mayer, mas também apresentava-se em circos suburbanos, até que a gripe espanhola acabou com o seu mercado de trabalho. Em 1919, convidado por Sinhô, gravou seu primeiro disco, “Pé de anjo” e “Fala meu louro”, já com muito sucesso. Entrou para o teatro de revista, ao mesmo tempo em que trabalhava como motorista de táxi.

A carreira cresceu rapidamente, gravou um disco atrás do outro, seu nome surgiu nos teatros e, em 1927, estreou no rádio. Para se tornar o Rei da Voz e chegar ao trono e à coroa, o caminho foi duro, pois a concorrência de adversários competentes era enorme. Ao receber do locutor César Ladeira o slogan, sua carreira já estava consolidada e reunia os méritos para a homenagem.

João Máximo e Carlos Didier, ao fazerem a biografia de Noel Rosa, acabaram por focalizar também a vida de Chico Alves, cuja história se mistura à de Noel. Os dois escritores informam que o cantor tinha no mínimo três biografias: a que ele contava, a que os outros narravam e a que ninguém falava, envolvendo em mistério episódios de seu passado.

Na primeira, Chico aparece como grande batalhador, que lutou para alcançar o topo; na segunda, é sovina ao extremo, grosseiro, explorador de compositores, como comprador de sambas; enfim, meio herói, meio vilão. E, na terceira, que o cantor evitava, falava-se de sua vida amorosa, do casamento fracassado, da ligação definitiva com a segunda mulher e da esterilidade dele.

Na verdade o que nos interessa saber é que Francisco Alves foi um cantor e um artista raro, tinha uma grande voz, era bom intérprete e o primeiro verdadeiro profissional que a música popular já teve, além da sua sensibilidade, faro para descobrir talentos e intuição para antever as possibilidades de uma canção.

No carnaval de 1928, estourou com o samba “A Malandragem”, de Alcebíades Barcelos, o Bide, no qual aparece como coautor da música, que tem uma letra irreverente: “a malandragem eu vou deixar. Eu não quero saber da orgia. Mulher do meu bem querer, esta vida não tem mais valia. Mulher igual

para gente é uma beleza. Não se olha a cara dela porque isso é uma defesa. Arranjei uma mulher que me dá toda vantagem. Vou virar almofadinha, vou deixar a malandragem. Esses otário que só sabe é dar palpite, quando chega o carnaval a mulher lhe dá o suíte. Você diz que é malandro, malandro você não é, malandro é seu abóbora que manobra com as mulhé.”

A partir da gravação de “A Malandragem”, samba composto por Bide, cuja parceria Francisco Alves comprou e lançou com sucesso, o cantor descobriu a mina de ouro e começou a comprar sambas. “Me faz carinhos”, de Ismael Silva, abriu o caminho; depois disso, Chico Alves se tornou o maior freguês dos humildes compositores.

O ano de 1932 foi rico para o cantor, pois além da parceria com Noel Rosa, passou a receber o maior cachê do Programa Casé e aproximou-se de Cartola, do qual comprou o samba “Divina Dama” e abriu as portas do comércio para o compositor mangueirense.

Até a sua morte, em 1952, em um acidente na via Dutra, dirigindo seu automóvel, Francisco Alves comandou, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, o programa “Quando Os Ponteiros Se Encontram”, todos os domingos ao meio-dia.

Juntamente com Sílvio Caldas, Mário Reis e Orlando Silva, Chico Alves foi um dos maiores cantores que a música popular brasileira conheceu.

Salve Chico Viola, O Rei da Voz!

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