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19 de abril de 2024 | 18:12
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O sambista alagoano que conquistou os paulistas

O alagoano Jorge Costa é lembrado sempre como um sambista paulistano. Seus sambas foram gravados por cantores como Noite Ilustrada, Ângela Maria, Demônios da Garoa, Germano Mathias, Bezerra da Silva, Jair Rodrigues, Benito de Paula, Beth Carvalho, entre outros nomes da música popular brasileira.

Em sua estada no Rio de Janeiro, morou no morro da Mangueira e integrou a ala dos compositores da Verde e Rosa. Nesta época foi amigo de Nelson Cavaquinho. Chegou a São Paulo na década de 50 e se conso­lidou em São Paulo a ponto de ser reconhecido como sambista paulista.

Os sambas de Jorge Costa abordam a temática urbana e social. Músicas como: “Samba da criança”, “Inferno colorido”, “Baiano capoeira”, “Trinta de Fevereiro” e a mais famosa “Triste madrugada”, dentre outras, são algumas das canções do compositor alagoano radicado em terras paulistas.

Jorge Costa sabia como ninguém narrar o sofrimento e a exclusão do homem pobre periférico e a vida nas favelas e cortiços paulistanos. A triste realidade da criança sem direitos, fora da escola e vulnerável, foi retratada na música “Samba da criança”, ainda muito atual:

Lá no morro
Quando morre uma criança,
O comentário é geral,
Dizem logo, este não vai sofrer,
Se libertou, se livrou do mal.
Mas, se a criança não morrer
Vai conhecer samba bom vida ruim,
Quando sonhar com a felicidade
Vai descer para a cidade
Batendo seu tamborim,
Assim:
Dindin dinsquindim dinsquindin

O sambista de forma poética, melancólica, triste e com grande crítica social, de forma real, nua e crua, retratou a favela paulistana como um inferno colorido:

Em cada canto da cidade tem uma favela
Que não tem beleza, nem riqueza também
Tem é um bocado de povo esquecido
Representando o inferno colorido.
O desengano dos olhos é cegar,
E se não cega tem que ver para poder falar
Cristo visitou o mundo
Mas infelizmente na favela não passou
Não passou
Eu vi o inferno colorido
No quadro que o diabo pintou.

Além das críticas sociais, o compositor também fez músicas sobre o amor e seus desencantos. Ao descobrir a traição de sua companheira, ele compôs a música “Trinta de fevereiro”: “Consegui arrancá-la do meu pensamento, consegui tirá-la da minha lembran­ça. Você portadora de má qualidade, mentira sem graça de 1º de Abril. Vitrola sem fidelidade, mulher simulada, discuti seu nome 30 de Fevereiro, e da semana passada”.

Na década de 1960, Chico Buarque morava em São Paulo, fazia fa­culdade e participava dos Festivais da Record e Festival Internacional da Canção. A história da composição “Triste Madrugada”, um dos sambas mais conhecidos do alagoano e de maior sucesso, remete ao caso em que o Chico Buarque perde o violão na Galeria Metrópole, lugar onde Jorge se apresentava e que Chico frequentava no início da carreira.

“Triste madrugada foi aquela, que eu perdi meu violão, não fiz serenata pra ela, e nem cantei uma linda canção”. Salve Jorge Costa, o alagoano mais paulistano que conheci.

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