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19 de abril de 2024 | 6:36
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O Sinhô do samba

O menino José Barbosa da Silva, que por imposição do pai iniciou-se no aprendizado da flauta, instrumento prestigiado na época graças ao sucesso de Joaquim Antonio da Silva Calado, precursor do chorinho, e Patápio Silva, flautista renomado, logo se tornou o Sinhô do samba.

Uma das histórias curiosas sobre Sinhô, contada por Almirante (com­positor, cantor, radialista e pesquisador) é a de que antes do instrumentista estar totalmente familiarizado com o piano, mas já um pianista de prestígio, ele fôra convidado para tocar em uma casa de distinta família em Botafogo. Tocou várias músicas populares, mas num determinado momento, ven­do-o executar as músicas com tanta desenvoltura, uma senhorita pegou a partitura da música “Elegie”, de autoria do compositor francês Masse­net, e pediu para que Sinhô a executasse, pois ela gostaria de cantá-la.

Sinhô colocou a partitura em cima do piano, fez menção que iria executá-la, mas antes de dedilhar o instrumento, olhou para a mocinha e lhe disse: sinto muito, senhorita, mas não posso tocar essa música. Não me dou com esse autor.

Durante o dia nosso pianista fazia ponto na Casa Beethoven como pianista e vendedor de piano. Ao anoitecer ele tocava em agremiações dançantes e carnavalescas, sendo a mais destacada a de nome Kananga do Japão, na qual seu pai frequentava e fez um de seus estandartes.

Apesar dos compromissos profissionais, o sambista encontrava tem­po para frequentar a Casa da Tia Ciata, local do nascimento do samba, onde se fazia samba feito música, composição melódica, e não dança de grupo. O samba mais famoso composto naquela casa foi “Pelo telefone”.

Considerado oficialmente como o primeiro samba gravado, e apesar de ser registrado apenas por Donga, foi um sucesso e teve a contribuição de vários sambistas, inclusive de Sinhô, o que gerou seu descontenta­mento e muitas brigas musicais com o grupo da Tia Ciata, formado por Donga, Pixinguinha, Hilário, China e João da Baiana.

A briga mais famosa entre eles começou após a provocação de Sinhô, através da música “Quem são eles”, uma alusão direta ao grupo. Como resposta, Donga fez o samba “Fica calmo que aparece”, Hilário fez o samba “Não és tão falado assim” e Pixinguinha e China fizeram o samba “Já te digo”, uma crítica emblemática e sagaz a Sinhô, que tinha em um de seus versos, a seguinte frase: ele é alto, magro e feio, é desdentado. Ele é alto, magro e feio, é desdentado. Ele fala do mundo inteiro e já está avacalhado no Rio de Janeiro.

Nosso sambista era temperamental, emotivo, vaidoso, intratável, brigão, pernóstico, malandro, porém não era mau e tinha uma aguçada musicalida­de, compondo aproximadamente cento e cinquenta músicas, sendo que dois terços delas fizeram sucesso na época, o que lhe rendeu o título de “rei do samba”. Dentre as músicas de sucesso, a mais conhecida é “Jura”, que ele fez ao ver um homem desconhecido passar com a mulher de quem ele gostava.

Sinhô tinha fama de plagiador, ladrão de samba, e a história musical o consagrou pela seguinte frase: “samba é que nem passarinho, é de quem pegar”. Na verdade, naquela época não havia profissionalismo, e como eu já citei anteriormente, o samba “Pelo telefone” foi composto em improviso por várias pessoas, entretanto Donga o registrou apenas em seu nome e no de Mauro de Almeida. Poderíamos então considerar Donga um ladrão de samba?

Sabemos que Sinhô plagiou algumas músicas, tais como “Pé de anjo” baseada na música “Jenny” e as músicas “Dor de cabeça”, “Ora vejam só” e “Gosto que me enrosco”, em que os estribilhos pertenciam a Heitor dos Pra­zeres, que por esse episódio passou a chamá-lo de “rei dos meus sambas”.

Atribui-se aos contatos de Sinhô com políticos de grande influência, como o prefeito Prado Júnior e o urbanista Alfred Agache, a não demo­lição de uma favela, após a composição da música “A favela vai abaixo” e dos vários pedidos do sambista ao prefeito.

A grande contribuição de Sinhô para a música é ter sido o pioneiro do samba amaxixado, primeiro estilo do samba, que ainda não era o samba tradicional do Estácio. Salve o Sinhô do samba!

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